Lula já ganhou? – DW (Brasil)
Com pesquisas apontando chance de o petista ser eleito já no primeiro turno, campanha de Bolsonaro deve viver dias de desespero. Assim como a de Ciro, que luta para se manter na terceira colocação.
A mais recente pesquisa eleitoral Ipec dá ainda mais ânimo para a campanha de Lula: com 52% dos votos válidos, o ex-presidente venceria a eleição já no primeiro turno. É o segundo levantamento seguido do Ipec em que o petista aparece com esse percentual, e confirma uma tendência já observada pela pesquisa Datafolha da semana passada, na qual Lula subiu dois pontos percentuais nos votos válidos, para 50%.
O bom desse cenário, para Lula, é que ele deve provocar um efeito dominó no chamado “voto útil” – a expressão do momento, aliás. E tais votos devem vir do eleitorado de Ciro Gomes e, em muito menor grau, de Simone Tebet. Pois a campanha de Tebet se alimenta tanto do antipetismo quanto do antibolsonarismo. Assim, me parece mais provável Tebet manter ou até conseguir mais votos nesta reta final. Ela será o último porto seguro para os que sonham com uma verdadeira terceira via.
Em contraste, o eleitorado de Ciro se encontra mais à esquerda, e, portanto, mudaria mais facilmente para o lado petista. O clássico exemplo seria o de Caetano Veloso. Achei lógico o Ciro ter destacado os erros das administrações petistas para se mostrar como alternativa para o eleitorado de esquerda. Mas não funcionou. Com isso, corre o risco de desidratar rapidamente nos próximos dias.
Seria isso o que justifica a recente mudança de comportamento de Ciro? Há uma semana, ele chamou Lula de fascistoide. Quatro dias atrás, classificou a campanha do petista pelo “voto útil” de tentativa de “exterminá-lo” politicamente. Como explicar essa brutalização do tom de Ciro nesta reta final?
Será que, depois de ter perdido a esperança de roubar votos do campo petista, agora tenta roubar do campo bolsonarista? Para não desidratar? Tudo isso na esperança de manter o terceiro lugar, que supostamente o colocaria na vanguarda para um futuro além da polarização atual entre Lula e Bolsonaro? Parece-me que vai se queimar feio, pois está sepultando as chances de liderar o campo de centro-esquerda – ou vamos chamar de social-democrata – num mundo pós-Lula.
E o Jair Messias? Ameaçava uma recuperação nas pesquisas em agosto, e eu esperava um crescimento ainda maior dele em setembro. Como os dados econômicos mostram uma melhoria significativa, e com as benesses governamentais através de auxílios entrando nas contas de milhões de brasileiros, eu esperava um vento a favor do presidente. Pois, ainda vale a famosa frase: “It’s the economy, stupid!” (É no bolso das pessoas que se decide a eleição, imbecil!).
Mas: até entre as pessoas que recebem o Auxílio Brasil, Lula está bem à frente de Bolsonaro. Segundo a Datafolha, o petista lidera neste segmento com 59%, contra 26% de Bolsonaro. Com certeza as pessoas se lembram que foi o petista que promoveu uma revolução com o Bolsa Família, copiado depois por Bolsonaro – não por convicção de ajudar os mais pobres, mais para ganhar votos.
No voto feminino, tampouco aconteceu uma reviravolta dos votos. Nem a entrada de Michelle na campanha do marido, mirando principalmente o voto feminino, além do evangélico, conseguiu alavancar a intenção de votos no presidente nesse segmento. As palavras lindas de Michelle sobre o marido não conseguem mudar a percepção óbvia: a de um macho que prefere andar de moto e que se orgulha da sua suposta virilidade masculina. Que é tigrão com as mulheres e tchutchuca com o centrão, como concluiu a candidata Soraya Thronicke.
Ainda teremos o debate na Globo nesta quinta-feira (29/09). Será a última chance para os desesperados, principalmente Ciro e Bolsonaro. Para Lula, basta ficar calmo e firme, como fez muito bem nas entrevistas individuais na CNN e no Jornal Nacional. Se nada de grave acontecer, restará apenas uma pergunta: Lula conseguirá um pouco mais ou um pouco menos de 50% no domingo?
—
Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.