Segundo turno começa de verdade com mais uma morte por discussão política – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
05/10/2022 16h04
Se os primeiros cadáveres produzidos pela disputa presidencial deste ano foram de petistas pelas mãos de bolsonaristas, o segundo turno começa, de fato, agora, com a morte de um bolsonarista causada por um petista. Afinal, não são articulações e debates que ficarão como a marca desta eleição, mas a violência política.
Luiz Antonio Ferreira, eleitor de Lula, matou o amigo José Roberto Mendes, que votaria em Bolsonaro, a facadas após uma discussão por motivação política, em Itanhaém (SP). Ele foi preso nesta terça (4).

De acordo com o delegado Arilson Brandão, uma crítica política da vítima gerou uma discussão que se transformou em agressão e luta corporal. Mendes pegou uma faca, mas foi desarmado por Ferreira, que o esfaqueou, segundo registro da TV Tribuna.
O primeiro assassinato causado por discussão política na eleição presidencial foi o do tesoureiro do PT e guarda civil Marcelo Arruda pelo agente penitenciário bolsonarista Jorge Guaranho, em Foz do Iguaçu (PR), no dia 9 de julho. Guaranho ficou sabendo da festa de aniversário de temática lulista de Arruda e foi lá provocar. Terminou preso após matar Arruda.
O segundo foi o de Benedito dos Santos, eleitor de Lula, morto com mais de 70 golpes de faca e machado pelo colega de trabalho Rafael de Oliveira, apoiador de Bolsonaro, após uma discussão política entre ambos na zona rural de Confresa (MT), descambar para a briga na noite de 7 de setembro.
Coincidentemente, o entrevero que levou ao crime começou algumas horas após o presidente da República defender, em comício na praia de Copacabana, que era necessário “extirpar da vida pública” adversários políticos da esquerda.
Depois, tivemos duas mortes no dia 24 de setembro, cuja motivação ainda está sendo investigada. Em Cascavel, um eleitor de Lula foi morto a facadas por um homem que, segundo testemunhas, entrou no bar e perguntou quem votaria no petista. E em Rio do Sul (SC), um homem com uma camiseta que mencionava Bolsonaro morreu após ser esfaqueado várias vezes em um bar por um homem conhecido por votar no PT.
Isso sem contar os eleitores que foram parar no hospital por violência política.
É falsa simetria afirmar que os dois lados da disputa presidencial são igualmente responsáveis pelo clima de intolerância e, consequentemente, de violência e de mortes na eleição presidencial.
Jair Bolsonaro, desde o início do seu governo, vem incitando seus seguidores a comprarem armas e, se necessário, usá-las para defenderem aquilo que acreditam. Ao mesmo tempo, desumaniza adversários, menospreza as leis, minimiza as instituições, ataca a democracia e erode a credibilidade do sistema eleitoral.
Após o caso de Foz do Iguaçu, o presidente Bolsonaro foi bastante cobrado para pedir a seus apoiadores em todo o Brasil baixarem a fervura. Mas, ao invés de condenar a violência e pedir para aos brasileiros que desarmem os espíritos para a eleição, ele foi no sentido contrário.
A sobreposição dos discursos de lideranças políticas, religiosas e sociais ao longo do tempo, fomentando ódio contra políticos, magistrados, jornalistas, entre outros, distorce a visão de mundo de eleitores e torna agressões “necessárias” para tirar o país do caos e extirpar o “mal”, alimentando a violência.
Da mesma forma, a sobreposição de discursos afirmando que crimes como esses não têm relação política acaba por normalizar a violência política, que passa a ser encarada como briga de bêbado na esquina.
Mas, apesar de não serem igualmente responsáveis, Lula e Bolsonaro precisam se manifestar mais uma vez, pedindo calma à população. Estamos ainda no terceiro dia de um segundo turno que promete ser o mais agressivo da nossa história.
Precisamos não apenas que sangue pare de ser derramado por brigas, mas também que outras formas de violência política sejam contidas. Dessa forma, ao final da eleição, as feridas abertas não serão tão fundas, o quer levaria à morte o necessário diálogo entre os diferentes para reconstruir o país.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Daniel Camargos, Hélen Freitas e Poliana Dallabrida*
Leonardo Sakamoto
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