Apesar de política pró-Israel, Bolsonaro perde apoio no país; PT mantém força na Palestina – Opera Mundi
RFI
Tel Aviv (Israel)
2022-10-07T20:00:00.000Z
O presidente Jair Bolsonaro foi o mais votado no primeiro turno das eleições presidenciais em Tel Aviv, recebendo 45,9% dos votos válidos. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve 36,6%, ficando em segundo lugar. A candidata do MDB, Simone Tebet, recebeu 10.9% dos votos e Ciro Gomes (PDT), 3%. Mas, apesar do resultado, o apoio a Bolsonaro caiu em relação à última eleição.
Em 2018, o atual presidente recebeu dois terços dos votos no primeiro turno, ou 66,5%, e nada menos do que 77,2% no segundo turno. Desta vez, ficou com menos da metade dos votos.
Já a votação no PT, este ano, aumentou drasticamente na comparação com as últimas eleições. Em 2018, meros 6,8% dos eleitores votaram no então candidato, Fernando Haddad, no primeiro turno – com o percentual aumentando para 22,7% no segundo.
Este ano, o candidato do PT, o ex-presidente Lula, recebeu mais de um terço dos votos, quase empatando com Bolsonaro em duas das quatro urnas. Uma mudança significativa que abre a possibilidade para Lula de vencer no segundo turno, em Israel.
Os números demonstram que houve uma mudança em como os cerca de 15 mil brasileiros que vivem em Israel veem Bolsonaro, mesmo que o presidente tenha demonstrado abertamente, nos últimos quatro anos, seu apoio a Israel.
Em 2018, Bolsonaro era o claro preferido por ter uma imagem de “amigo de Israel”, com promessas como a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém e uma política externa pró-Israel em fóruns internacionais.
Já o PT era visto, em 2018, como um partido com posições críticas ou anti-Israel. Principalmente durante o governo Dilma Rousseff, quando o relacionamento diplomático entre os dois países foi muito afetado.
Em 2016, Dilma rejeitou as credenciais do candidato a embaixador de Israel em Brasília, Dani Dayan, na primeira vez que algo assim aconteceu no Itamaraty. A motivação, nunca declarada, teria sido o fato de que Dayan residia numa colônia israelense na Cisjordânia, considerada um território palestino ocupado por Israel.
Durante o governo Lula (2003-2010), o ex-presidente também se aproximou do Irã, visto pelos israelenses como país arqui-inimigo.
Mesmo assim, menos brasileiros em Israel votaram em Bolsonaro. Isso talvez reflita a tensão que ocorreu na comunidade judaica do Brasil na gestão dele. A bandeira e símbolos de Israel foram usados em manifestações pró-Bolsonaro – o que dividiu os judeus do país, bastante heterogêneos em suas preferências políticas. O mesmo entre os brasileiros que moram em Israel, que não pensam ou votam igual.
O aumento de incidentes e de retóricas antissemitas no Brasil, bem como a percepção de que a imagem do Brasil no exterior sofreu grandes baques nos últimos anos, também podem ter influenciado nessa mudança.
No caso dos brasileiros da Palestina, o PT voltou a receber a grande maioria dos votos. Lula recebeu 84,8% dos votos e Bolsonaro, apenas 7,4%. Ciro Gomes ficou numa longínqua terceira posição, com 3,8%. Todos os outros candidatos obtiveram menos de 1%.
Foi quase uma repetição de 2018, quando Fernando Haddad recebeu 80% dos votos no primeiro turno e incríveis 90% no segundo, enquanto Bolsonaro conseguiu apenas 5,3% no primeiro turno e 9,8%, no segundo, há quatro anos.
Desta vez, metade dos quase 1.500 eleitores aptos a votar na Palestina compareceram à Representação do Brasil em Ramallah, capital política e econômica dos palestinos.
Bolsonaro é visto pelos brasileiros que vivem lá como alguém que defende cegamente Israel no conflito entre israelenses e palestinos. A intenção, nunca realizada, de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém foi muito mal vista pelos palestinos, que não aceitam que a Cidade Santa seja reconhecida como capital do Estado Judeu.
Lula também se aproximou de muitos países árabes em seu governo. Ele era presidente quando o Brasil foi o primeiro país da América Latina a reconhecer a Palestina como Estado, em 2010, à revelia de Israel. Durante os governos do PT, o Brasil também fez doações milionárias – principalmente em toneladas de arroz – à agência das Nações Unidas que lida com refugiados palestinos (a UNRWA).
No total, neste primeiro turno, Lula foi mais votado no exterior, com 47,1% dos votos dos 700 mil brasileiros aptos a votar em 159 cidades de 97 países pelo mundo. Bolsonaro ficou com o segundo maior número de votos: 41,6%.
Mas Tel Aviv não foi a única cidade na qual Bolsonaro ganhou nas urnas, no primeiro turno. O mesmo aconteceu, por exemplo, em Nova Iorque, Boston, Atlanta e Miami (nos EUA), Tóquio (no Japão), Pretória (na África do Sul), Hong Kong e Atenas (na Grécia).
Já Ramallah está na lista das 85 cidades onde Lula saiu por cima, entre elas Paris (na França), Washington e Los Angeles (nos EUA), Lisboa (em Portugal), Santiago (no Chile), Luanda (em Angola), Madri (na Espanha), Londres no (Reino Unido) e Beirute (no Líbano).
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São Paulo (Brasil)
2022-10-07T19:30:00.000Z
Candidato derrotado ao governo de Pernambuco pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), o historiador e youtuber Jones Manoel declara apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno e anuncia mobilização independente do partido pela derrota de Jair Bolsonaro, com o combate à fome como elemento central.
“Temos que sair na positiva e deixar o papel de ser escudo do governo Lula para PCdoB, PT e PSOL. E também não ser um PSTU da vida, que acha que a revolução está na boca e não sai porque o governo é conciliador de classes”, afirmou, em entrevista ao programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (07/10).
Manoel propõe que seu partido elabore uma agenda emergencial positiva em nível nacional, a despeito do governo eleito, em torno de temas como segurança alimentar, desemprego, retomada de políticas de moradia popular, enfrentamento do caos urbano, reforma agrária e educação.
“Conseguimos pautar na eleição um debate que furou a bolha, sobre reconstituição de direitos trabalhistas e redução de jornada de trabalho. Em Pernambuco, conseguimos debater na positiva a reforma agrária e a estatização dos transportes, que tinham saído da agenda da esquerda brasileira”, enumera.
A posição do PCB contemplará apoios táticos eventuais, nos momentos em que um futuro governo Lula decida avançar em políticas sociais. O partido anunciará no domingo seu posicionamento na disputa ao governo de Pernambuco, que tende a ser de apoio à candidata Marília Arraes, do Solidariedade.
Para o período pós-eleitoral, Manoel planeja fundar uma produtora que faça frente aos conteúdos audiovisuais da extrema direita na internet. “Vamos entrar no ramo audiovisual de maneira profissional, para realmente rivalizar com o Brasil Paralelo”, anuncia, citando a produtora do site gaúcho que é uma das fortalezas da extrema direita bolsonarista.
A mobilização do PCB no segundo turno será independente das ações da frente ampla em torno de Lula, às quais o ex-candidato tece críticas frontais: “incrivelmente, se deixou de falar de fome, desemprego e carestia para falar de maçonaria e canibalismo. O foco deve ser falar de custo de vida, fome, desemprego, destruição de serviços públicos como a Farmácia Popular”.
No próximo sábado (08/10), Manoel inaugurará um comitê pró-Lula em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife, onde morou. A cidade foi uma das que mais deram votos a Bolsonaro em Pernambuco, com 40,12% dos eleitores para o presidente, contra 54,25% em Lula.
Autor de Revolução Africana – Uma Antologia do Pensamento Marxista (Autonomia Literária, 2020), Manoel conta que está escrevendo uma biografia de Leonel Brizola, que classifica como o último governante de esquerda reformista do Brasil.
Ele tampouco economiza críticas ao candidato presidencial de 2022 pelo PDT de Brizola, Ciro Gomes: “é um sujeito obstinado, tal como descrevia Lima Barreto em O Triste Fim de Policarpo Quaresma. Coloca na cabeça que está certo e não há realidade que o faça mudar. Sai da eleição menor que Simone Tebet, que vem de um colégio eleitoral muito pequeno. Isso mostra o erro colossal que Ciro cometeu”.
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