Pode falar sobre política no trabalho? Especialista orienta sobre prós e contras de se posicionar – Época NEGÓCIOS

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Quando se é recém-chegado, o melhor caminho é observar se é possível se posicionar politicamente sem entrar em choque com a cultura da empresa (Foto: Pexels)
Para os brasileiros, o ano de 2022 já está marcado pela intensidade das discussões políticas, tendo em vista as eleições gerais no país. A confirmação, no último domingo (2), de um segundo turno na disputa presidencial indica que outubro será um mês de mais enfrentamentos acirrados sobre o tema.
Quando as conversas acontecem nas mesas de bar, almoços em família e aulas na universidade, há maior liberdade de se posicionar. Já no ambiente de trabalho, algumas pessoas podem ter dúvidas sobre a melhor forma de agir. Afinal, como dar sua opinião sem prejudicar as relações ou causar problemas nas dinâmicas do dia a dia?
Denise Anis, sócia-diretora da Oré Consultoria Educação e Desenvolvimento Humano e fundadora da TAQE, aplicativo de empregos que capacita e recomenda jovens para o mercado de trabalho, explica que a primeira recomendação é olhar para a cultura organizacional da empresa e o setor de atuação. 
“Se essa cultura é aberta, valoriza o diálogo e a troca, é ruim não se posicionar. Porque, nesse caso, as pessoas estão buscando conhecer a sua identidade e fazer esse movimento, dentro da linha do respeito, obviamente.  Agora, se você está em uma cultura conservadora, em que as pessoas são mais fechadas, aí é preciso ter cuidado”, afirma Denise.
“É como se fosse uma norma ou uma política que, sem estar necessariamente escrita, determina esse caminho. Em outros casos, a própria empresa deixa claro o seu posicionamento. Nesta situação específica, se você não compactuar com a posição, é melhor não abrir a discussão”, completa. 
Denise afirma que as instituições, normalmente, adotam regras internas e uma espécie de padrão moral que, ao longo do tempo, entram no ‘guarda-chuva’ da cultura do lugar. Isso não tem necessariamente relação com o fato de ser ou não uma empresa aberta à inovação. 
Dessa forma, principalmente quando se é um colaborador recém-chegado, o melhor caminho é observar, aconselha a fundadora da TAQE. “Se você está em uma reunião e as pessoas estão falando sobre o tema, prefira se afastar educadamente, sem entrar em discordância, até poder sentir realmente o que acontece, se essas conversas são comuns”, avisa Denise. 
A especialista sugere também que o próprio indivíduo perceba suas reações quando participa desses momentos e o quanto isso pode desgastá-lo: “Quando, no meio de uma conversa no trabalho, a gente sente o coração palpitar, a mão suada, o estômago com borboletas, com certeza está entrando em algo que não deveria continuar”, descreve Denise. Portanto, perceber os sinais do corpo ajuda a adotar decisões melhores.
“E nos casos em que acontece o contrário e há abusos, é preciso denunciar. Por exemplo, um gestor que diz em quem você deve votar é crime eleitoral, ou anuncia ‘aqui a gente não fala sobre isso’, quando claramente se fala”, alerta. 
No caso da TAQE, Denise explica que a empresa se manifestou como apartidária, orientando os colaboradores de que havia espaço para conversas e trocas, inclusive para falar sobre apoio a candidatos específicos, mas sem que isso se tornasse uma campanha.
Para Denise, gestores e líderes conscientes conseguem adotar estratégias de diálogo que demonstrem respeito. “O caminho é orientar para que não haja agressão nas conversas, e sim a troca de perspectivas”, diz ela. “Se, como gestor, você propõe diálogos que fujam da polarização e indiquem temas que unam as pessoas, como educação e meio ambiente, eles ganham outra amplitude”, esclarece. 
No geral, a especialista afirma que é necessário orientar os colaboradores quanto ao uso de e-mail corporativo com a assinatura da empresa. “Aqui na TAQE, por exemplo, a instrução é não se posicionar”, pontua. Por outro lado, quando se faz isso nas redes sociais de forma pessoal, ela defende que o posicionamento é válido: “É ser íntegro com a própria essência. Acho que é um direito da pessoa”, defende. 
Denise reconhece que existe uma insegurança entre os colaboradores e aqueles que estão à procura de emprego, mas avisa: “Entrar na página de alguém pra ver se aquela pessoa é de esquerda ou de direita [a fim de contratá-la ou demiti-la] é antiético. E se a empresa determina que isso seja feito, é necessário avaliar o quanto, profissionalmente, você está alinhado com esse lugar”. 
Denise acredita que, para avaliar prós e contras de falar sobre eleições no trabalho, é preciso voltar à questão da cultura organizacional. 
“Se você está inserido em um local que tem abertura para o diálogo e privilegia uma postura cidadã, é importante contribuir e ampliar o olhar das pessoas para outros pontos de vista. No caso de uma cultura mandatória sobre a qual você é a favor, seu posicionamento também será bem-vindo. Agora, se houver divergências políticas, avalie onde e com quem falar”, aconselha.
A dica é escolher as pessoas para quem se expor: “Falar com alguém que pensa totalmente diferente de você, naturalmente, vai resultar em conversas de tom mais alto”. De acordo com a fundadora da TAQE, qualquer lugar no qual as pessoas encontram animosidade deixa de ser produtivo. “Se a gente discute, eu me torno irredutível e você também, fica difícil se encontrar na próxima reunião”, conclui. 
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