Bolsonaro goza acima de tudo e de todos (e por isso ainda votamos nele) – folha.uol.com.br

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Psicanalista e ensaísta, com pós-graduação pela Universidade de Paris 8 e FFLCH/USP. Autora de "Lupa da alma" e "Coisa de menina?".
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Bolsonaro é o tipo de cara que no fundo todos gostaríamos de ser.
No fundo, ou no passado de nós, todos fomos um bebê narcisista que se via como o centro do mundo e acima da lei. Aliás, que lei? Nem sei o que é isso. Existe minha vontade de gozo e potência. Ponto. A duras penas, a alteridade e o corte da lei simbólica vão entrando na minha vida, na dolorida travessia edípica –e me mostra que a fantasia onipotente era pura ilusão. Mas às vezes não se alcança isso, e indivíduos e coletivos têm problemas com o contorno estruturante do limite.
De qualquer forma, um fundinho inconsciente pré-edípico pulsa em todos nós. Eu falo o que eu quero, eu desfalo o que eu quero, eu faço o que eu quero, porra. Você quer me contrariar? Mando matar. Você me põe na parede? Compro tudo e todos, e me blindo. Vai me interrogar? Sua feia, sua vergonha, não serve nem pra ser estuprada. Qual o problema? Morre aí. Qual é? Queria comer índio com banana. Enfim, tem uma bolsopedia organizada por cronologia e temáticas para maiores detalhes.
Para mascarar essas palavras, atos e omissões, que revelam a posição fora da lei, se usa uma retórica circular e randômica louvando os valores fetichizados do momento. Coisas como, ironicamente, congresso, quatro linhas da lei, liberdade, pátria, deus etc.
Por que ainda votamos em alguém que quer estar acima de nós? Porque nos identificamos inconscientemente com essa montagem.
Somos uma máquina identificatória a procurar modelos idealizados que nos digam quem somos e o que desejamos –e, afinal, o que devemos fazer.
E porque queremos ocupar ambas as posições dessa montagem. Quero estar acima de tudo. E, ao mesmo tempo, quero alguém que esteja acima de mim e me alivie do peso de ter que pensar e viver pela minha própria consciência. Se Bolsonaro e a ultradireita, com seu jogo autoritário de destruição do próprio jogo, chega e diz: isso é bom, uma parte de mim, a mais primitiva de todas, olha para o grande profeta e suplica: oh por favor. Como dizia Contardo Calligaris, em sua tese de doutorado, se desvela nossa “paixão de ser instrumento”.
Parece que a cada x décadas precisamos regredir a essa posição primária. Paradoxal? Sim. Mas não tanto. Porque a identificação sempre é dupla: nos identificamos com uma “montagem” e, no inconsciente, oscilamos como um pêndulo de uma posição à outra dos lugares estruturais da cena. Por exemplo, se você é o algoz, você é também aquele que apanha do algoz que existe em você. Se você é o masoquista, você é também o superego sádico que goza em cima do seu próprio ego masoquista.
Freud analisou o desenrolar desse funcionamento social numa fábula mítica à qual deu o nome de “Totem e tabu”. Linhas gerais: no início havia o pai todo poderoso do clã primitivo, que detinha o gozo absoluto sobre todas as coisas e pessoas, mulheres e filhos. Quando morria um desses poderosões –rei, imperador, autocrata, presidente iliberal (rs)– havia uma luta fratricida pelo seu legado. É só mergulhar em livros ou filmes, esse plot é sucesso.
Chegou um momento (antropo)lógico em que os filhos se deram conta de que esse esquema era muito sangrento. Tiveram então uma ideia (moderna): em vez de nos digladiar para ver quem vai ser o novo líder autoritário, vamos mudar de sistema. A gente mata esse pai. Ou melhor: a gente mata esse lugar todo-poderoso e partilha o poder entre nós. É o formato pós-edípico da lei simbólica que barra o gozo total (vulgarmente conhecido como democracia). Uma parte da tribo faz a lei, outra executa e outra julga o jogo e os conflitos.
Seria lindo se funcionasse e a gente não ficasse toda hora se identificando com o bebê narcisista que quer gozar sozinho ou o bebê desamparado que quer servir a esse condutor autocrático.
Está parecendo que a gente ainda não elaborou muito bem tudo isso.
No fundo, a gente arruma um álibi e finge que está indignado porque alguém é muito ladrão ou porque a gente é muito moral e tem bons costumes, para poder se autorizar a desejar o líder descaradamente perverso. Aquele que goza acima de tudo e de todos como eu sonho todas as noites no escuro dos meus sonhos mais devassos.
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