Para a deputada federal mais votada do RS, Fernanda Melchionna, o foco agora é eleger Lula – Brasil de Fato RS
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Política
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL/RS) foi reeleita para a Câmara dos Deputados com 199.894 votos, um crescimento de 75% desde a última eleição em 2018, quando recebeu 114.302 votos. Ela foi uma das 50 mais votadas do Brasil em 2022. Somente em Porto Alegre, teve cerca de 91 mil votos, se consolidando como a 4ª do ranking de federais e a mulher mais votada para o cargo no Rio Grande do Sul.
“Agora, vamos focar em eleger Lula para derrotar Bolsonaro no segundo turno. A luta segue com muita garra e estaremos na linha de frente. Não vamos permitir que Bolsonaro, que levou o Brasil a uma das piores crises da história, seja reconduzido ao cargo de presidente", diz Fernanda.
Em seu segundo mandato, a deputada pretende focar no combate à desigualdade social. Entre os projetos estão a taxação das grandes fortunas, a aprovação da PEC 96, de sua autoria e já analisada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), que pretende proibir contingenciamento de verbas na Educação, e a garantia de direitos para mulheres e trabalhadores.
Natural de Alegrete (RS), é graduada em biblioteconomia pela UFRGS e pós-graduada em História do Brasil pela Fapa/RS. É bancária licenciada do Banrisul, militante, feminista, socialista e internacionalista. Começou sua atuação no movimento estudantil, foi uma das fundadoras do PSOL e elegeu-se vereadora de Porto Alegre em 2008, concorrendo à reeleição em 2012 e sendo a mais votada entre as mulheres eleitas. Em 2016, foi a parlamentar mais votada da cidade, com mais de 14 mil votos. Em 2018, foi a mulher com mais votos no RS para deputada federal, feito que repete agora com aumento expressivo do número.
Em entrevista ao Brasil de Fato RS, além de revelar que sua tarefa agora é lutar para garantir a eleição de Lula à Presidência da República, Fernanda Melchionna lamenta que Edegar Pretto (PT) não tenha passado para o segundo turno na eleição ao governo estadual.
Sobre o segundo turno no estado, adianta: “Onyx nem pensar, e a luta política contra o Onyx também é a luta política contra o Bolsonaro. Então o nosso foco vai ser eleger Lula no segundo turno”. Contudo, lembra que o projeto de Eduardo Leite (PSDB) também tem cunho neoliberal, somente não tem apoio direto a Jair Bolsonaro (PL).
Confira a entrevista:
Brasil de Fato RS – Qual a sua avaliação da nova configuração da Câmara dos Deputados?
Fernanda Melchionna – Olha, eu acho que é uma configuração que mostra as dificuldades do cenário atual, por um lado a crise de hegemonia e de dominação dos partidos burgueses segue viva, tanto é que o PSDB quase derreteu em termos nominais, o PSOL fez mais votos que o PSDB. Ao mesmo tempo se fortalece a bancada do PL e do bolsonarismo, mas também a esquerda: o PSOL fez uma bancada histórica, com uma votação de mais de 3,5% dos votos no Brasil.
Partidos como o Novo não venceram a cláusula de barreira e o PSOL não só venceu a cláusula de barreira, como teve o segundo deputado mais votado do Brasil, com Guilherme Boulos; teve a ampliação da bancada feminina com duas indígenas, com Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, com a reeleição da guerreira Sâmia Bomfim, com Erika Hilton, a primeira mulher trans que vai estar na Câmara dos Deputados, com a Taliria no Rio de Janeiro e a minha própria reeleição. Junto com a federação nós fizemos 14 deputados federais, o PT também ampliou sua bancada federal.
Então mostra que esse cenário de polarização segue, por um lado o crescimento da esquerda antissistema como é o PSOL, e também o crescimento do bolsonarismo levando votos da direita tradicional para uma linha mais à direita, pra direita reacionária. A luta vai ser dura, agora a luta primeira é eleger o Lula no segundo turno. Mais do que fazer um balanço de como vai ser a luta na Câmara dos Deputados, nós temos que ver como será o executivo, se nós vamos ter que seguir numa luta intermitente em defesa das liberdades democráticas, como foi diante do governo neoliberal e autoritário do Bolsonaro, ou se nós vamos ter um governo Lula para aí ter mais condições e mais liberdades democráticas. Eu e o PSOL estamos empenhados na luta pra eleger o Lula no segundo turno.
BdF RS – Quais os avanços do PSOL e da esquerda nesta eleição?
Fernanda – O segundo turno é um segundo turno das nossas vidas, essa é a eleição mais importante da história do tempo recente do nosso país. Por um lado, nós temos aí uma eleição que foi uma votação histórica pro Lula – é importante ressaltar isso, foi o presidente em primeiro turno mais votado da história do nosso país. Então, 48,2% dos votos. Nós mesmos, aqui, tivemos uma ampliação dos votos do Lula no Rio Grande do Sul. Vencemos em Porto Alegre, vencemos em grandes centros urbanos, é importante se destacar isso, embora a votação do Bolsonaro tenha sido forte também. E nós não podemos nunca subestimar nem superestimar o peso do inimigo.
Por isso que nós temos que fazer esse segundo turno uma mobilização permanente, uma mobilização como foi o vira voto em 2018. Nós precisamos fazer mobilização de rua, não ter medo de usar os nossos adesivos, as bandeiras, precisamos fazer uma luta política para garantir a vitória do Lula no segundo turno.
Nesse cenário também temos um corte dramático da Educação, que coloca em risco a finalização do ano no ensino superior, nos institutos federais, e o movimento social já convoca 18 de outubro como o dia de luta em defesa da educação pública. Essa luta é fundamental, primeiro porque as nossas universidades e institutos federais têm que sobreviver. Segundo que também é parte da agenda política para denunciar o que foi o governo Bolsonaro, uma tragédia pra educação, pro meio ambiente, para as liberdades democráticas, pra leitura, para as mulheres, nós vamos ter que fazer uma luta política pra isso.
BdF RS – Quais são seus principais projetos para este mandato?
Fernanda – Projetos? Nós, levando em consideração a necessidade de eleger Lula, levando em consideração essa premissa, todo o nosso peso está jogado agora para essa eleição do segundo turno. Nós queremos seguir firmes com a luta pela taxação das grandes fortunas, porque houve um incremento da desigualdade social, da concentração de renda no Brasil, com o governo Bolsonaro, que é um governo das elites, mas elites que têm uma agenda econômica antipovo, como nós vimos nos últimos anos. Nós queremos seguir a batalha para taxar as grandes fortunas, com o projeto que eu desarquivei da Luciana Genro, que eu sigo lutando na Câmara dos Deputados.
Segundo, a PEC 96, criando o orçamento obrigatório da Educação para garantir que não possa ter mais cortes unilaterais como a gente acabou de ver. A PEC 96 é uma urgência, porque tu vê, não foi só o corte nos institutos federais, nas universidades, também foi das poucas políticas públicas federais de criação de creches, que na ponta ataca as mulheres e as crianças brasileiras. A gente precisa ter na Constituição a garantia de que o orçamento da Educação é obrigatório, sagrado, e não pode ser contingenciado para pagar superávit da dívida, para pagar o sistema financeiro, ou no caso do Bolsonaro para pagar orçamento secreto do toma lá dá cá, da corrupção, com os parlamentares da base alugada.
O terceiro projeto importante é o de combate à desigualdade salarial entre homens e mulheres, que segue sendo uma realidade. As mulheres chegam a receber 20% do salário dos homens, as mulheres negras chegam a receber 50% do salário dos homens pra mesma função. Então nós temos o projeto selo Empresa Machista, que vai estar na linha de frente das nossas prioridades na Câmara Federal.
Agora tudo isso num cenário de liberdades democráticas para seguir lutando e por isso que o tema do segundo turno para nós é urgência mais imediata. Mais do que pensar como vão ser os nossos quatro anos em Brasília, nós precisamos antes disso definir o executivo, e o PSOL tá nesse combate de corpo e alma para fazer o nosso papel histórico e derrotar o Bolsonaro na eleição.
BdF RS – Na sua opinião qual a importância desta eleição no Brasil para o cenário latino-americano e mundial?
Fernanda – Fundamental pro Brasil, é óbvio, porque o Brasil não pode seguir sendo um bastião da extrema direita. Nós tivemos vitórias importantes na América Latina, como a derrota do golpe na Bolívia, que também foi financiada pelas elites, xenófobas, fascistas, e com um projeto subordinado aos interesses do imperialismo. A luta do povo boliviano derrotou o golpe. Nós tivemos a votação histórica na Colômbia e a eleição do primeiro governo progressista na história recente. Nós tivemos a derrota da extrema direita no Chile com Boric, embora tenha muita contradição no processo com a derrota do plebiscito, derrotar a extrema direita do Kast foi importante. Nós tivemos a vitória da centro esquerda na Argentina, e o Brasil agora é o bastião de resistência de um governo de extrema direita na América Latina. Nós conseguimos derrotar o Trump nos Estados Unidos, embora o trumpismo siga existindo.
Isso foi uma combinação de mobilização, de luta das mulheres, do movimento negro, etc, nós temos que fazer a nossa parte. As mulheres que foram vanguarda na resistência ao Bolsonaro com o "Ele Não", a juventude com tsunami da educação, o movimento negro que se expressou também na emergência, no fortalecimento de candidaturas, na construção e na constituição da bancada negra. Nós precisamos botar toda essa força na rua para fazer o nosso papel e derrotar o Bolsonaro na eleição, tirando esse bastião da extrema direita, tirando a caneta do delinquente que usa o aparato do Estado para seguir reprimindo e atuando da sua maneira antipovo.
Então é muito importante pro Brasil, pra América Latina e pro mundo derrotar o Bolsonaro na eleição. O Brasil é uma das maiores economias do mundo e a maior economia da América Latina, tem que cumprir o seu papel, e nós todos vamos ter muita responsabilidade nessa eleição.
BdF RS – Como se sente de ter sido a mulher mais votada para a Câmara Federal no Rio Grande do Sul?
Fernanda – Eu me sinto orgulhosa, quero agradecer às quase 200 mil pessoas, 199.896 pessoas que me dedicaram seu voto e sua confiança. Muito orgulhosa e muito honrada que o povo gaúcho tenha me conferido essa votação histórica pro PSOL, essa votação muito forte pra nossa esquerda. E ao mesmo tempo muito desafiadora porque para corresponder a essa confiança, essa expectativa, nós precisamos fazer um mandato ainda mais combativo, mais potente, mais vinculado às lutas sociais e às demandas populares. Ao mesmo tempo que eu tenho orgulho, eu tenho esse senso de responsabilidade. Eu agradeço a cada um e cada uma, e vou fazer de tudo para que o mandato seja ainda mais representativo e dê orgulho a cada um dos que votaram e que confiaram nas nossas propostas para seguir o combate nos próximos quatro anos.
BdF RS – Qual é a sua posição e a do PSOL no segundo turno aqui no RS?
Fernanda – Eu acho que aqui no Rio Grande do Sul nós temos dois candidatos que tem a mesma agenda econômica neoliberal. Isso é importante destacar, o PSOL a partir da Luciana Genro, que era a nossa deputada estadual e ganha reforço agora na eleição com a entrada do Matheus Gomes, fez um combate de oposição ao governo Leite, enfrentou a reforma da Previdência, enfrentou as medidas antisservidores públicos. Então nós sabemos o que foi o governo Eduardo Leite.
Agora nós temos o caixa 2 confesso, Onyx Lorenzoni, que foi pau pra toda obra do governo reacionário do Bolsonaro, pro ataque nas privatizações, pra reforma da Previdência, que tirou direitos e permitiu que os estados avançassem sobre o plano de carreira dos servidores. Então nós sabemos que a agenda econômica do Onyx Lorenzoni é uma agenda econômica neoliberal, com o adjetivo de ser da extrema direita e vinculado ao Bolsonaro.
Nós vamos discutir, no partido, esperamos também o debate da própria candidatura do Lula e dos companheiros para ver se tem alguma sinalização em relação ao segundo turno nacional, mas sem dúvida nenhuma o PSOL, de nenhuma maneira, estará com o Onyx. aliás, Onyx nunca. Ao mesmo tempo, como mantemos uma tradição e uma trajetória independente, não estaremos apoiando projetos neoliberais, nós temos a convicção de que os eleitores do PSOL saberão escolher qual a melhor posição dentro desse cenário que está posto.
Agora eu quero dizer uma coisa para todos os nossos que acompanham essa entrevista: Onyx nem pensar, e a luta política contra o Onyx também é a luta política contra o Bolsonaro. Então o nosso foco vai ser eleger Lula no segundo turno.
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Edição: Marcelo Ferreira
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