Lula e a estratégia de tentar equilibrar pressões da esquerda e do setor privado – JOTA

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Eleições 2022
Analistas terão que distinguir entre o que se fala na aliança de esquerda e qual é o rumo efetivo de um novo governo Lula
Este conteúdo integra a cobertura do JOTA PRO PODER e foi distribuído antes com exclusividade para assinantes PRO. Conheça!
A primeira semana após o primeiro turno das eleições presidenciais renovou as pressões para a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentar detalhes sobre sua política econômica, especialmente fiscal, e até mesmo apresentar nomes para seu ministério.
Lula, porém, não só resistiu a esse movimento, como também não fez nenhum gesto para conter as manifestações da ala mais à esquerda de sua campanha. Nesse período, houve falas de destaque desse segmento lulista, como Guilherme Boulos (PSOL), eleito deputado federal, e Gleisi Hoffman, presidente do PT e também eleita deputada, reforçando a defesa de um programa mais desenvolvimentista e antagônico ao liberalismo vigente.
Isso significa que Lula fará um governo ao estilo Boulos/Gleisi? Não. Também não dá para apostar no contrário. Mais do que as falas, é importante entender a dinâmica desses primeiros dias. Ela pode ser vista como um prenúncio do que tende a ser o estilo de um governo Lula, caso ele confirme os cenários das pesquisas e a liderança do primeiro turno.
Na prática, se Lula for eleito, a tendência é que os próximos anos tenham muito ruído. Os analistas terão que ter bastante atenção para distinguir entre o que se fala entre as várias correntes do petismo e da aliança de esquerda e qual é o rumo efetivo do governo.
Nos oito anos em que ocupou o Planalto, o ex-presidente navegou na maior parte do tempo tentando equilibrar as pressões à esquerda e as cobranças do mercado e do setor privado de forma geral. Conseguiu conviver com linhas ideológicas antagônicas, como a ortodoxia de Palocci e Meirelles, e a heterodoxia de Guido Mantega e Dilma Rousseff. Sua estratégia foi tentar produzir constantemente sínteses, embora no plano econômico ele tenha ido gradualmente de um início mais ortodoxo para uma postura de maior expansionismo na área fiscal.
Para 2023, Lula sinaliza estar mais à esquerda do que quando assumiu há 20 anos. Tanto as diretrizes apresentadas como as falas do ex-presidente (e ambas não devem ser desconsideradas) apontam para uma política que pretende ampliar gastos (o ex-presidente já listou vários), algo mais em linha com o que ocorreu em seu segundo mandato.
Ao mesmo tempo, Lula tem reforçado seu discurso sobre reconhecer a importância da responsabilidade fiscal, enquanto seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), passou a destacar em suas conversas com o setor privado que, se eleito, a ideia é reduzir a dívida pública.
O ex-presidente tem demonstrado que ainda gosta de ouvir vozes dissonantes ao petismo. Isso ficou claro não só com a escolha de Alckmin como vice e seu empoderamento como interlocutor econômico junto aos agentes privados. Mas também pelo reforço de sua agenda de reuniões com empresários – e em breve deve ter uma importante com os economistas ligados ao PSDB.
Nesses encontros, mantém seu tom de que é preciso ampliar despesas com investimentos, saúde, educação e salário mínimo e ampliar a atuação de bancos públicos, ao mesmo tempo em que demonstra até um certo inconformismo com as dúvidas sobre seu compromisso com a responsabilidade fiscal.
Mais recentemente, Lula parece deixar a porta mais aberta para que um não petista e alguém mais ao centro possa ocupar o comando da economia. Se for isso, vai gerar muito choro e ranger de dentes em sua base mais nuclear. Porém, também tem deixado muitos petistas sonhar com o comando da pasta mais importante.
Em reunião nesta tarde com o grupo Derrubando Muros, Lula voltou a falar que não vai antecipar a decisão sobre o ministério. Mas deixou claro que o governo não será um consórcio só da esquerda. No fim das contas, mais uma vez, falou para os dois lados da queda de braço. É o estilo. E isso importa.
Fabio Graner – Analista de economia do JOTA em Brasília. Foi repórter e colunista de economia no Valor Econômico e também atuou no Estadão, DCI e Gazeta Mercantil, com mais de 20 anos de experiência, incluindo setor público. E-mail: [email protected]
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