Lula e Bolsonaro roubam o foco de SP no 1º debate entre Tarcísio e Haddad – UOL Confere
Do UOL, em São Paulo
10/10/2022 23h05Atualizada em 11/10/2022 08h46
A disputa pelo Planalto entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou o foco do primeiro debate de segundo turno entre Tarcísio Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), candidatos ao governo de São Paulo. No encontro promovido pela TV Bandeirantes na noite de hoje, os adversários citaram os postulantes à Presidência várias vezes desde o primeiro bloco, deixando temas estaduais como segundo plano em alguns momentos.
Ao longo das perguntas e respostas, vieram à tona temas federais, como a economia do país, a compra de vacinas contra a covid-19, os sigilos de 100 anos do governo federal e o orçamento secreto. Os candidatos também citaram políticas de abrangência nacional para áreas como educação, saúde e segurança pública.
Comportamento diferente no estúdio. O clima antes do debate foi descontraído. Já posicionados em suas bancadas, Haddad e Tarcísio conversaram animadamente. Ambos levavam botons com seus números de urna na lapela.
Assim como no primeiro turno, a nacionalização dos temas foi a tônica do debate. Tarcísio e Haddad defenderam medidas das gestões no Planalto de Lula e Bolsonaro, respectivamente, ao mesmo tempo em que tentaram explorar gafes e erros de seus presidenciáveis.
Apesar das alfinetadas de ambos os lados, o clima geral do evento foi cordial. Ao final do encontro, ambos foram elogiados pelo jornalista Rodolfo Schneider, mediador do encontro, por terem promovido a discussão de ideias e respeitado o tempo de fala do adversário.
Na primeira pergunta, feita pela organização do debate, ambos foram questionados se manteriam a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Enquanto Tarcísio defendeu a medida, que chamou de “uma briga comprada pelo presidente Bolsonaro”, Haddad classificou a manobra do presidente como eleitoreira.
O ex-ministro de Bolsonaro prometeu que, além de manter a redução do ICMS sobre os combustíveis, promoveria outros cortes na carga tributária. “Porque isso vai gerar emprego. E a gente quer os pais de família trabalhando, a gente quer fazer a diferença. Então, parabéns ao governo Bolsonaro por essa importante iniciativa”, disse.
Já Haddad prometeu que, além de manter a alíquota do ICMS no nível em que está, lutará para que Lula, se for eleito presidente, “enfrente o lobby” dos acionistas estrangeiros da Petrobras. “Eles não podem ter mais de R$ 100 bilhões de lucros às custas do consumidor brasileiro.”
No primeiro embate direto entre ambos, Tarcísio questionou Haddad sobre a visão do petista a respeito de temas como maioridade penal, encarceramento e a desmilitarização da PM (Polícia Militar), temas que reverberam junto ao eleitorado bolsonarista.
O candidato do PT não respondeu diretamente à questão, mas criticou Tarcísio por defender a retirada de câmeras dos agentes, apesar do impacto positivo da medida. “Eu sou contra a sua proposta de retirar as câmeras dos uniformes da Polícia. Isso tem reduzido a letalidade. A morte de policiais foi reduzida em 80%. Como é que você, que se diz técnico, vai desafiar os dados que são da própria polícia?”, questionou.
Ao rebater o argumento, Tarcísio afirmou estar a favor dos agentes. “Com relação à política de câmeras, é o seguinte: nós não podemos ter o bandido em situação de vantagem em relação ao policial. Então, tirar a câmera é uma coisa já simbólica, que mostra o seguinte: o estado está amparando esse policial”, disse.
Além de tratarem do tema da segurança, os candidatos falaram dos presidenciáveis. Ao abrir a pergunta, Tarcísio questionou o rival sobre uma gafe que Lula cometeu ao se referir a policiais.
Queria começar falando sobre segurança pública, e comentando uma frase infeliz do candidato Lula, que ele diz: ‘Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial’. Acho triste que o ex-presidente veja aqueles que arriscam suas vidas diariamente dessa forma, aqueles que vestem farda para nos defender
Tarcísio Freitas (Republicanos)
Em resposta, Haddad afirmou que Lula quis usar a palavra “milícia”, e não “polícia”, e que se desculpou pelo erro logo no dia seguinte. Segundo o candidato do PT, Lula reconhece quando comete erros, o que não aconteceria com Bolsonaro.
O Bolsonaro não se desculpa. O Bolsonaro, por exemplo, fez pouco caso de quase 700 mil pessoas que morreram. Soluçava, imitando a falta de ar de pessoas que estavam em leitos de UTI
Fernando Haddad (PT)
Tarcísio, então, defendeu Bolsonaro e comentou que o presidente “não imitou pessoas com falta de ar“. “Ele estava criticando o ministro da Saúde na época [Luiz Henrique Mandetta], que disse que as pessoas só podiam procurar o tratamento de saúde quando tivessem falta de ar. E muita gente foi a óbito por causa disso. Então vamos restabelecer a verdade.”
Haddad tentou levar para o debate temas incômodos ao governo Bolsonaro, como o orçamento secreto, que deu ao Congresso maior poder para definir o destino de recursos.
“O dinheiro não está no orçamento porque está na mão do relator. É o tal orçamento secreto. E vai depender do relator repor ou não o dinheiro da farmácia, o dinheiro da moradia, o dinheiro da merenda. E se o relator resolver gastar o dinheiro com outra coisa, aí o governo [só] vai fazer alguma coisa depois”, afirmou.
Tarcísio, em resposta, saiu em defesa do governo Bolsonaro, afirmando que o atual presidente não deixará faltar verba para áreas essenciais. “Agora, se o Congresso Nacional não tomar essa posição, uma mensagem modificativa vai ser enviada pelo governo do presidente Bolsonaro ao Congresso para restabelecer os valores da merenda escolar e da farmácia popular.”
Sigilo de cem anos. Além de citar o orçamento secreto, Haddad lembrou sobre os sigilos de cem anos decretado por Bolsonaro sobre informações pessoais do presidente e do governo. “Você adotaria aqui? Você governador, 100 anos de sigilo nas compras do Palácio dos Bandeirantes. Você vai adotar aqui um troço desse?”, perguntou. Tarcísio, no entanto, não comentou o tema.
Educação e Infraestrutura. Outra discussão nacionalizada foi em relação à educação. Em uma alfinetada a Tarcísio, Haddad diz que o adversário “fala de infraestrutura como se infraestrutura fosse asfalto”, mas que ela também significa hospitais e escolas. Em seguida, lembrou dos recentes cortes no orçamento da área, promovido pelo governo Bolsonaro.
Em reação, Tarcísio citou uma série de propostas para a educação e contra-atacou, dizendo que Haddad teria descumprido uma série de promessas para a saúde quando esteve à frente da Prefeitura de São Paulo, de 2013 a 2016.
Vacinas. No tema da saúde, uma das discussões foi relativa às vacinas contra a covid-19. Para Haddad, Tarcísio considera que “Bolsonaro não fez pouco caso da vacina”. “Vai dizer que ele não atrasou em 40 dias a aplicação da primeira vacina no Brasil? Vai dizer que nesse período apenas mais de 100 mil mortes poderiam ter sido evitadas, segundo organismos internacionais?”, rebateu Haddad.
Tarcísio defendeu Bolsonaro, dizendo que, além de garantir imunizantes para a população, o governo federal atuou na pandemia com repasses aos estados e o auxílio emergencial.
Bolacha? No debate, Haddad ainda lembrou que foi mais votado do que Tarcísio na capital paulista, apesar de ter recebido menos votos no estado. Na mesma resposta, alfinetou o oponente por ter feito carreira no Rio de Janeiro, e não em São Paulo.
Você está sabendo o que as crianças estão comendo na escola hoje? É suco e bolacha — ou biscoito, como vocês chamam lá no Rio de Janeiro
Fernando Haddad (PT)
Erro em citação de bairro. Como alternativa para resolver o problema da “cracolândia”, Tarcísio prometeu levar a sede administrativa do governo para o centro de São Paulo. Tarcísio, no entanto, errou ao falar o nome do bairro, chamando-o de Campos dos Elíseos em vez de Campos Elíseos.
O formato. O debate foi organizado em formato de banco de tempo. A cada candidato foi dado um limite de tempo para ser usado livremente nas perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. Ao responderem às questões, Haddad e Tarcísio se movimentavam pelo palco, olhando para a câmera, enquanto o adversário permanecia na bancada
A partir do terceiro bloco, ambos deixaram suas bancadas e passaram a dialogar frente a frente, no centro do palco, alternando entre olhares para o adversário e para o telespectador.
Como está a situação na disputa? Segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, divulgada na última sexta (7), Tarcísio lidera as intenções com 55% dos votos válidos, contra 45% de Haddad.
Contrariando as principais pesquisas até o início de outubro, que projetavam Haddad na liderança, Tarcísio terminou o primeiro turno na liderança com 42,32% dos votos, contra 35,70% do petista. Enquanto o candidato do Republicanos considerou que a eleição “mostrou a força do bolsonarismo”, Haddad avaliou que os votos que migraram para o adversário já são os de segundo turno.
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Carlos Madeiro e Lucas Borges Teixeira