Modo desespero: Bolsonaro convoca fiéis para tumultuar apurações no dia 30 – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ricardo Kotscho, 72, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Colunista do UOL
12/10/2022 14h15
No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar. E mais do que isso. Vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado”
Presidente Jair Bolsonaro, em Pelotas (RS), na terça-feira.

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O que está por trás deste insólito apelo do presidente aos seus apoiadores, a 18 dias da eleição, em que ele caminha para uma derrota inexorável, com remotas chances de virar o jogo, segundo todas as pesquisas?
Operando já no modo desespero, só pode ser com o objetivo de provocar arruaças e até batalhas campais, se possível, em volta dos locais de votação, se o TSE ousar confirmar a sua derrota na noite do dia 30. Se a convocação fosse para comemorar uma possível vitória, poderiam marcar em outros locais mais apropriados.
Já imaginaram a confusão que pode se dar se os eleitores de Bolsonaro resolverem permanecer nos locais de votação? Vão ficar fazendo o quê o dia inteiro? Irão orar, fazer jejum, ler a Bíblia, promover uma pajelança? Ou vão ficar infernizando a vida dos mesários e dos outros eleitores? Ainda bem que a Justiça Eleitoral proibiu entrar armado para votar na urna eletrônica. Poderia acontecer uma carnificina.
Até outro dia, confiante na vitória, Bolsonaro repetia a toda hora que ganharia no primeiro turno, com 60% dos votos. Ficou 5 pontos atrás de Lula (48% a 43 %) e, de acordo com o último Ipec, essa diferença já dobrou no segundo turno (55% a 45% dos votos válidos, ou 12 milhões na frente do presidente candidato à reeleição).
Bolsonaro já avisou mil vezes que só aceitará o resultado se ele for o vencedor. Repetiu isso em Pelotas: “Tenho certeza de que o resultado será aquele que todos nós esperamos. Até porque, o outro lado não consegue reunir ninguém. Todos nós desconfiamos. Como pode aquele cara [Lula] ter tantos votos se o povo não está ao lado do mesmo?”
“Todos nós, quem?”, cara pálida. Vivendo há tempos numa realidade paralela, o presidente pensa que pode tudo. Esquece que a lei eleitoral proíbe a permanência de eleitores próximos às seções eleitorais durante o período de votação.
Como teve uma votação maior do que a prevista pelas pesquisas no primeiro turno, Bolsonaro começou o segundo mais manso, sem atacar as urnas, os ministros e o processo eleitoral, mas esta semana já voltou à normalidade, ou seja, atirando para todo lado, na medida em que os números das pesquisas só lhe traziam más notícias.
Por mais que não confie nelas, e queira até enquadrar e punir os institutos, ele demonstra que é movido por pesquisas, como de resto todos os candidatos e analistas eleitorais, até porque é o único termômetro que se tem para medir a temperatura das campanhas.
Bolsonaro passou o ano inteiro colocando em dúvida a segurança e a confiabilidade das urnas eletrônicas, convocou até as Forças Armadas para inspecioná-las e fazer uma apuração paralela. Raspou os cofres públicos e estourou o teto de gastos e o orçamento para ganhar a simpatia do eleitorado que o rejeita (em torno de 50% dos aptos a votar).
No segundo turno, conquistou o apoio de governadores e prefeitos. Multiplicou os comícios e as motociatas. Até deixou de governar, e nada. Continua empacado num honroso segundo lugar desde o início da campanha eleitoral.
Estranho que até hoje, apesar dos sucessivos pedidos do jornal, o Ministério da Defesa não tenha apresentado à Folha os relatórios sobre a fiscalização paralela para verificar a integridade e a checagem da totalização dos votos no sistema eletrônico.
Só se pode atribuir este silêncio ao fato de que nada encontraram de errado. Caso contrário, Bolsonaro já teria convocado uma entrevista coletiva ou feito um pronunciamento à nação para denunciar “fraudes” no processo eleitoral.
Vida que segue.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Ricardo Kotscho
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