Lula prioriza religiosos após escândalos de Bolsonaro, enquanto Tebet acena ao mercado – CartaCapital
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Campanha petista avança na terceira semana do 2º turno com busca por ampliação de apoios
A campanha do ex-presidente Lula (PT) iniciou a semana com foco em duas frentes: religião e economia. Os temas foram trabalhados em São Paulo, onde o petista busca reduzir a desvantagem em relação ao adversário Jair Bolsonaro (PL).
Um monitoramento interno da campanha petista indicou aumento da rejeição a Bolsonaro e da aprovação a Lula no período após o tumulto no Dia de Nossa Senhora de Aparecida. A piora do oponente teria sido agravada com o escândalo do “pintou um clima” e a participação no debate da TV Bandeirantes.
A pesquisa Ipec, no entanto, não confirmou o otimismo da equipe de Lula. Enquanto o petista oscilou um ponto para baixo, o atual presidente se moveu um ponto para cima. A distância entre os dois agora é de sete pontos. Nos votos válidos, a diferença também foi reduzida em dois pontos e parou em oito. Além disso, Lula perdeu quatro pontos entre católicos (de 60% para 56%).
Para um aliado de Lula, a agenda com líderes católicos na segunda serviu para contrapor a postura de Bolsonaro em Aparecida. O ato também ajuda a ampliar a margem de votos nesse segmento.
A campanha do PT leva muito em conta o fato de que os católicos são maioria no Brasil (o Datafolha registrou, em 2020, 50% de brasileiros católicos e 31% de evangélicos). Portanto, o eventual aumento de sua vantagem no segmento pode representar uma relevância maior do que um movimento semelhante entre os evangélicos.
O encontro de Lula com católicos em São Paulo envolveu 200 padres e foi articulado pelo grupo Padres da Caminhada. No evento, o petista fez questão de relembrar a passagem de Bolsonaro em Aparecida.
“Eu tenho lido notícias de padres que são atacados durante a missa porque estão falando da fome, porque estão falando da pobreza, porque estão falando da democracia”, afirmou Lula. O vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB), por sua vez, salientou a sua tradição católica ao recordar que o seu pai era da Terceira Ordem de São Francisco de Assis.
A questão religiosa foi mencionada em outro evento de apoio a Lula, na mesma data, em São Paulo: um jantar liderado pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP) e o economista Armínio Fraga, que foi presidente do Banco Central na era de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Marina acusou o governo de incentivar o “fundamentalismo”. Já Tebet disse que Bolsonaro “fragilizou, através de fake news, valores sagrados” e criticou diretamente o episódio em Aparecida.
“O Estado tem que ser laico. Por isso que nós não podemos admitir que a religião entre na política”, discursou. “No Dia Santo para os católicos como eu, ele levou uma meia dúzia de bolsominions para vaiar uma missa que estava sendo consagrada numa devoção à maior santa da Igreja Católica.”
A senadora Simone Tebet durante evento em São Paulo em 17 de outubro. Foto: Victor Ohana
Ex-candidata à Presidência, Tebet se uniu a Marina e a Fraga em um encontro na zona oeste de São Paulo, com cerca de 650 pessoas, entre elas empresários e agentes do mercado. Estavam, por exemplo, representantes dos bancos Itaú, Santander, BMG e Safra, da gigante de tecnologia Siemens e da produtora de celulose Suzano.
A ideia era fazer um apelo a membros da elite empresarial que estivessem indecisos no 2º turno. Após discursos de abertura, os três responderam perguntas do público sobre diferentes aspectos do voto em Lula.
Os questionamentos indicaram as principais inquietações de banqueiros e empresários com um eventual governo do PT. Um dos temas que tomaram mais tempo do evento foi a prática de “invasões de terra” pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.
Tebet disse que Lula terá de fazer um governo de conciliação com partidos de centro e que essa pauta será discutida.
“Óbvio que uma questão como essa vai estar na mesa. Mas eu acho que a gente aprende com os erros. Houve, sim, invasões. O meu estado [Mato Grosso do Sul] é muito refratário a Lula, porque tivemos casos concretos”, declarou. “Mas também tivemos casos exitosos. Um assentamento que é referência se deu numa fazenda chamada Itamaraty, e se deu porque o proprietário quis vender, e o governo do PT comprou. Esse é o caminho.”
Fraga afirmou que “não dá para achar que todas as suas preocupações serão atendidas” e disse que Lula deveria se posicionar melhor sobre o assunto. Também sinalizou estar de acordo com uma reforma agrária que tenha “regras”.
“O tema dos sem terra e das invasões é de grande importância. Acho que seria bom se fosse abordado pelo Lula”, disse. “A propriedade é um pilar fundamental da economia de mercado. Sem a economia de mercado, não se vai a lugar algum. Por outro lado, o mercado tem imperfeições das mais variadas. […] É possível fazer reforma agrária, uma série de providências deve ser tomada, mas dentro de um arcabouço legal onde exista respeito à propriedade.”
Quem estivesse decidido a votar em Lula tinha a possibilidade de gravar um depoimento em vídeo. As imagens devem ser enviadas à campanha do ex-presidente ainda nesta semana. O evento disponibilizou textos que sugeriam argumentos para defender o voto no petista, como “foca no Alckmin” e “a Venezuela já é aqui”.
A jornalistas, Tebet disse que concorda com a decisão de Lula sobre não nomear um ministro da Economia antes do resultado da eleição. Porém, afirmou ter expectativas para que o programa de governo inclua uma espécie de “âncora fiscal”, medida que já estaria sendo estudada pela equipe econômica da campanha.
A senadora demonstra compreensão com a rejeição do PT ao teto implementado pelo governo de Michel Temer (MDB), mas é favorável a uma regra substituta que assegure responsabilidade com os gastos públicos.
Fraga, por sua vez, diz que seu apoio a Lula é incondicional. O economista afirmou que não pretende mudar de voto, mesmo que o petista anuncie um ministro que o desagrade.
‘Foca no Alckmin’: evento sugeriu argumentos para empresários indecisos votarem em Lula. Foto: Reprodução
A senadora do MDB declarou que não deve estar com Lula em todos os atos previstos na semana. Para ela, é necessário que os dois não fiquem sempre juntos para que possam executar tarefas distintas. Além disso, sua participação deve ser limitada por conta de alguns cenários nos estados.
No ato de segunda, Tebet evitou estar no ato religioso do petista por causa da agenda conjunta com Fernando Haddad (PT), candidato a governador em São Paulo. A senadora quer respeitar a decisão do seu partido em apoiar o oponente Tarcísio de Freitas (Republicanos) e, portanto, decidiu não estar presente.
Nesta terça-feira 18, Lula e Tebet seguem em São Paulo, mas não devem fazer atos públicos. O ex-presidente faz uma reunião com comunicadores e depois participa do podcast Flow. Já a emedebista deve se dedicar a gravações.
Na quarta 19, Lula vai ao Rio Grande do Sul, enquanto Tebet comandará ato pró-Lula em Brasília.
Na quinta 20, Lula se dirige ao Rio de Janeiro, onde pretende estar em regiões da zona oeste. Depois, vai a Minas Gerais e deve passar pelos municípios de Teófilo Otoni e Governador Valadares. Tebet indicou que deve estar com Lula nessas agendas.
Quando Lula for ao Amazonas, na sequência, Tebet deve se dirigir a Pernambuco para participar de um ato de apoio a Raquel Lyra (PSDB), candidata ao governo e adversária da ex-petista Marília Arraes (Solidariedade).
O ex-presidente desmarcou a ida a Santa Catarina, onde Décio Lima (PT) compete com Jorginho Mello (PL).
Além disso, é aguardada a divulgação de sua decisão sobre participar ou não do debate do SBT, marcado para a sexta-feira 21. Uma agenda como essa, geralmente, demanda pelo menos um dia de preparo. Lula já sugeriu indisposição a ir em todos os debates do 2º turno e afirmou que aceitaria no máximo dois, sendo que o de maior audiência, na TV Globo, está previsto para o dia 29.
Por outro lado, se Lula cancelar a ida ao SBT, como fez no 1º turno, Bolsonaro terá direito a uma hora de entrevista sozinho. Segundo a emissora, o presidente já confirmou a participação no evento. Espera-se que o ex-capitão siga investindo discursos em pautas morais ultraconservadoras e a corrupção. No debate da Band, um membro da campanha avaliou baixo o desempenho de Lula na obtenção de votos de evangélicos indecisos.
Outro aliado próximo a Lula lamentou a predominância das discussões religiosas nesta eleição e disse ver prejuízo à visibilidade dos problemas econômicos do atual governo. Ele apontou a agenda de Lula com os padres como um exemplo do aumento da preocupação com a questão religiosa, terreno mais confortável para Bolsonaro.
Integrantes da campanha petista acreditam que a “carta aos cristãos” será lançada. Questionada se apoia a medida, Tebet disse que a defende e que a vê como importante . Conforme mostrou CartaCapital, uma versão do documento já foi escrita e analisada por membros da coordenação política.
Victor Ohana
Repórter do site de CartaCapital
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