Lula aposta em Tebet em Minas, e Bolsonaro busca chamado eleitor 'Luzema' – UOL

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Na busca por aumentar a votação em Minas Gerais, estado considerado chave na disputa eleitoral, aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm reforçado a busca de apoio junto a prefeitos, intensificado a agenda de visitas ao interior e apostado na presença de novos aliados no palanque.
Do lado de Bolsonaro, a estratégia envolve ainda ida a igrejas, encontro com empresários e publicações diárias em redes sociais do atual governador Romeu Zema (Novo), convertido em principal cabo eleitoral do presidente no estado.
Desde que a aliança entre os dois foi firmada, Zema tem feito publicações com críticas ao PT e à gestão do ex-governador Fernando Pimentel (PT), em uma tentativa de atrelá-las a Lula.
O governador também tem reforçado a ofensiva junto a prefeitos, aos quais tem direcionado parte de seus discursos e chamado a eventos com o presidente.
Enquanto isso, Bolsonaro passou a intensificar visitas ao estado: já foram quatro em um intervalo de apenas duas semanas, todas ao lado de Zema.
Entraram na lista eventos com empresários, evangélicos e grupos de prefeitos, além de visitas a cidades como Juiz de Fora, onde Bolsonaro já havia iniciado a campanha neste ano, e Montes Claros, no norte de Minas —locais onde Lula e Zema tiveram maiores votações no primeiro turno.
Novos eventos com a presença da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também estão marcados para o final de semana. Já o presidente é aguardado novamente em Minas na próxima semana, com agenda em Teófilo Otoni.
Segundo interlocutores do governador, a estratégia atual da campanha é tentar colar na avaliação positiva de Zema, reeleito no primeiro turno, e buscar reverter votos tidos como “Luzema” nesta primeira rodada.
Para isso, o presidente conta ainda com a presença no palanque de aliados que foram campeões de votos no estado, como Nikolas Ferreira (PL) e Cleitinho (PSC), eleitos para Câmara e Senado, respectivamente.
A tarefa, porém, não é simples. Como mostrou a Folha, Lula e Zema foram os mais votados para os cargos aos quais concorriam no primeiro turno em 436 dos 853 municípios mineiros (51% do total). Bolsonaro e Zema, por sua vez, foram os mais votados em 223 cidades (ou 26%).
Nesta quarta (19), Zema participou pela primeira vez de evento de campanha sem a presença do presidente, em encontro com lideranças religiosas na igreja batista Getsemani, em Belo Horizonte. Na ocasião, reforçou as críticas ao PT, em retórica semelhante à da sua própria campanha de reeleição ao governo do estado.
Em contrapartida à ofensiva “Bolsozema”, aliados de Lula no estado apostam em agendas em cidades não visitadas no primeiro turno e na presença na campanha de novos aliados, como Simone Tebet (MDB), que ficou em terceiro lugar na disputa ao Planalto.
Após comício em Belo Horizonte no dia 9 deste mês, Lula volta a Minas com Tebet nesta sexta (21) em visita a Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, e Juiz de Fora, onde Bolsonaro esteve nesta mesma semana. Já no sábado (22), Lula deve participar de caminhadas em Ribeirão das Neves, na região metropolitana.
Agendas “solo” na próxima semana de Geraldo Alckmin (PSB, vice de Lula), Tebet e outros aliados, como Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal mais votado em São Paulo, também são tidas como apostas.
Em outra frente, o grupo quer reforçar junto a prefeitos e em discursos a comparação sobre obras feitas no estado nas gestões de Lula e Bolsonaro, em tentativa de se contrapor ao discurso de Zema, cujas falas têm sido exploradas em propagandas e vídeos de campanha de Bolsonaro.
“O governador tem uma estratégia muito dissimulada, porque ele tenta o tempo todo comparar o governo dele de Minas com o governo que o antecedeu. O que temos orgulho de poder fazer é comparar o que foi o governo Bolsonaro nesses três anos e meio e o governo Lula no tempo em que ele governou”, diz o senador Alexandre Silveira (PSD), que tem atuado na articulação política da campanha de Lula no estado.

A busca das campanhas por ganhar terreno em Minas Gerais não ocorre por acaso. Desde 1989, o estado mantém a tradição de refletir os resultados nacionais da corrida presidencial, o que o faz ser considerado uma espécie de termômetro das eleições.
A máxima de que “quem ganha em Minas ganha no país” foi reforçada no primeiro turno, momento em que as votações de Lula e Bolsonaro no estado foram quase idênticas às do Brasil como um todo em termos proporcionais. Lula obteve 48,43% das preferências dos eleitores brasileiros, contra 43,20% de Bolsonaro. Entre os mineiros, esses índices foram de 48,29% e 43,60%, respectivamente.
Além de refletir o cenário nacional, Minas também é vista hoje como um dos estados com maiores chances de “virada” pela campanha de Bolsonaro, daí a escolha por focar agendas na região ao lado de Zema.
Para o cientista político Carlos Ranulfo, professor aposentado da UFMG, a estratégia de Bolsonaro de intensificar agendas no estado se justifica diante da dificuldade de crescimento em outras regiões.
“Para o Bolsonaro, é a melhor estratégia. No Nordeste, ele vai perder o tempo dele. Em São Paulo, ele está na frente e Lula joga no máximo para empatar. Onde ele poderia alterar o equilíbrio de forças é Minas, que é de fato um estado-chave”, disse.
Ele questiona, porém, o poder de transferência de votos de Zema. “O caso do Zema não é apenas convencer o eleitor que está indeciso, é mudar o voto de alguém que votou no Lula para Bolsonaro. Isso é muito mais difícil”, afirmou.
“O que ele está fazendo é usando a máquina, que é o que ele tem, e tentando pressionar prefeitos para fazer campanha para o Bolsonaro. Não é possível dizer de antemão [se isso pode funcionar]. O perfil do Zema não é de uma liderança com essa capacidade [de transferência de votos]. Usar a máquina às vezes dá certo, mas estamos em uma eleição com voto extremamente cristalizado.”
Atualmente, a participação do atual governador na campanha de Bolsonaro tem sido o principal foco de críticas de aliados de Lula. O grupo qualifica a postura de Zema como “oportunismo”, por ele não ter declarado apoio a Bolsonaro no primeiro turno, e diz ver uma tentativa de pressão e constragimento a prefeitos.
“A prática dele é questionável. Ele trabalha com inverdades e faz pressão sobre prefeitos mineiros para que se posicionem a favor de Bolsonaro”, afirma o deputado estadual e presidente do PT em Minas, Cristiano Silveira. “É um método de chantagem, no sentido de que os prefeitos poderão ter dificuldade com o governo do estado se não o fizerem.”
Mateus Simões, eleito vice-governador e atual secretário-geral de governo, contesta a acusação e diz que é natural que Zema se posicione contra o PT, “especialmente pelos prefeitos que sofreram a era Pimentel”. “Não vejo como poderíamos falar em pressão se ele é reconhecido, até pelos prefeitos do PT, como um governador que não faz distinção entre os municípios”, afirma.
Em evento com a Associação Mineira de Municípios na última sexta (14), Zema, ao lado de Bolsonaro, pediu a prefeitos que atuassem “única e exclusivamente” pela reeleição do presidente, em um “trabalho de formiguinha”. O encontro gerou estranhamento em alguns gestores municipais ligados ao PT, que dizem ter pedido o envio das propostas às duas campanhas.
O prefeito de Coronel Fabriciano e presidente da associação, Marcos Vinicius (sem partido), porém, nega que o evento tenha sido organizado pela entidade, atribui a organização à campanha do PL e diz que a associação está aberta a convites da campanha de Lula.
“Somos uma instituição democrática. Se fizerem o convite, vou disparar que existe o convite e levar a pauta”, disse ele, que afirma que participaria também do encontro. “Mas acredito que não querem minha presença não”, diz ele, que já declarou apoio a Bolsonaro.
A extensão da adesão dos prefeitos à campanha de Bolsonaro, porém, ainda é alvo de dúvidas. Nesta terça (18), a imagem de Zema e Bolsonaro entrando em um auditório esvaziado para encontro com prefeitos da região de Montes Claros, no norte de Minas, gerou repercussão nas redes sociais.
Questionada, a equipe do governador atribuiu o local vazio ao fato de o evento ter sido antecipado para antes do horário previsto, além de ter sido planejado para ocorrer a portas fechadas.
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