Política e paz – CNBB

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Dom João Bosco Óliver de Faria
Arcebispo Emérito de Diamantina (MG) 
 
 
Há evidências de que a paixão política é mais abrasadora e mais violenta que a paixão sexual. Sei de dois casais, moradores em cidades diferentes, que se separam durante a campanha política municipal.  
Sem dúvida alguma, é importante ter consciência do “bem da Nação” e fazer uma opção política para se atingir esse “bem”. É igualmente importante, contudo, não transformar a própria opção política em paixão. Caso isso ocorra, as consequências tendem a ser danosas, como costumam ser aquelas relacionadas a qualquer outro tipo de paixão, igualmente passageira. 
Ensina-nos o Catecismo Católico (N. 1765): “A paixão mais fundamental é o amor provocado pela atração do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de consegui-lo. […] A percepção do mal provoca ódio, aversão e medo do mal que está por chegar”. 
Nosso contexto exige temperança, sabedoria. Todo sábio é humilde porque conhece os limites do próprio saber e, na humildade, respeita o saber alheio. Ninguém tem bola de cristal sobre o futuro da própria vida e sobre o bem da Nação! Assim, é importante ter um posicionamento político calcado em julgamento crítico dos candidatos e de suas respectivas propostas, mas é indispensável respeitar a opção daqueles que pensam diferente. 
Deve-se, sem dúvida, fundamentar, na verdade, a própria opção política, livre de toda e de qualquer possível forma de manipulação. O “dai a César o que é de César” (Lc 20, 25) nos ensina a ser cidadãos responsáveis pelo bem da Nação sem, no entanto, tomar como verdade absoluta a própria opção política. Essa, por sua própria natureza, exige o respeito à opinião alheia. Não nos esqueçamos de que o contrário disso fere a democracia e a liberdade de escolha, primeira opção da alma. 
Não nos esqueçamos de que as opções políticas passam: candidatos, antes adversários que se insultavam publicamente, unem-se, posteriormente, por interesses novos. A opção política não pode, pois, ferir nossas amizades, que são uma conquista preciosa na história de nossas vidas. 
O processo eleitoral passa, mas as amizades verdadeiras são duradouras, permanecem, fazem parte de nosso patrimônio espiritual. Uma boa amizade é infinitamente mais valiosa que o peso de uma opção política transitória. 
Sejamos bons cidadãos e fiéis em nossas amizades. Quem tem um amigo tem um tesouro! Sejamos responsáveis em nossa opção, mas saibamos também respeitar a opção do semelhante, ainda que diversa da nossa. Cultuemos a paz! 
 
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