Quem é Guilherme Boulos, que chega à Câmara mirando a prefeitura de São Paulo – JOTA

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Eleições 2022
Eleito com 1 milhão de votos, líder do MTST é também cotado para ser ministro caso Lula seja eleito neste segundo turno
Guilherme Boulos (PSOL-SP) recebeu mais de 1 milhão de votos em São Paulo, tornando-se o deputado federal mais votado pelo estado neste ano e a maior liderança de seu partido no Brasil, além de uma das principais referências da esquerda contemporânea. O líder sem-teto, contudo, não esperava ser o segundo parlamentar mais votado no país. “Ele achava que teria entre 600 mil e 700 mil votos”, afirma ao JOTA o presidente da legenda Juliano Medeiros.
A votação expressiva o credencia, na visão de integrantes do PSOL, para uma nova disputa pela prefeitura paulistana em 2024. Boulos ficou em segundo lugar em 2020. “Existe a possibilidade dele sair para prefeito”, diz o deputado Ivan Valente.
Se eleito, Boulos pode tornar-se o primeiro prefeito oriundo de um movimento social pela moradia a chefiar a principal cidade do país, onde a habitação é um dos principais problemas.
Paulistano de 40 anos, filho de médicos de classe média alta e formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), ele entrou para o movimento estudantil aos 15 anos, como militante na União da Juventude Comunista (UJC).
Aos 20 anos, em 2002, ingressou no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). A capacidade oratória e a habilidade política o levaram à liderança do movimento. O convite para entrar na vida partidária foi feito pelo PSOL em 2018. “O Boulos representa o perfil de uma nova geração de esquerda”, diz Medeiros.
Valente chama de Boulos “aspirador de votos” no pleito de 2022. O deputado de 76 anos não foi reeleito, após sete mandatos na Câmara. O PSOL passou por um rejuvenescimento de lideranças nestas eleições, obtendo 14 vagas na Câmara em federação com a Rede, apesar da deputada Luiza Erundina (SP) ter sido reconduzida ao cargo aos 87 anos. Ela será a parlamentar mais velha em atividade em 2023.
Valente considera que Boulos absorveu os “votos de opinião”, ou seja, atraiu o eleitor inclinado a defender o socialismo e pautas como os direitos humanos e a agenda LGBTQIA+. Essas e outras bandeiras à esquerda puxaram também outras lideranças, como a vereadora Érika Hilton (PSOL-SP), primeira deputada trans eleita para o Congresso Nacional neste ano com 257 mil votos.
“Boulos virou um grande aspirador de votos. Isso acelerou um processo de transferência de votos [para políticos mais jovens]. É um processo natural para um partido como o PSOL, que atrai o voto de opinião por ser a legenda que mais expressa diversidade, a questão indígena, a agenda LGBTQIA+ e o feminismo”, observa o deputado.
O presidente do partido avalia a marca de 1.001.142 votos como resultante da estratégia de apresentar Boulos como se já ocupasse mandato parlamentar.
Esse movimento que incluiu manter a pré-candidatura ao governo paulista até o limite do calendário eleitoral. Ele desistiu posteriormente, após aparecer em terceiro lugar nas pesquisas, num acordo costurado com o PT e o PSB para concentrar os esforços da esquerda em torno do ex-prefeito Fernando Haddad. O petista disputa o segundo turno contra o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O medo de acumular uma terceira derrota consecutiva para um cargo no Executivo foi o pano de fundo da estratégia. Em 2018, Boulos concorreu à Presidência da República, obtendo 0,58% dos votos válidos (617 mil). Foi a pior votação do PSOL em quatro tentativas de chegar ao Palácio do Planalto.
A experiência, entretanto, rendeu visibilidade para um estreante na política partidária até então conhecido por liderar a ocupação de terrenos e edifícios abandonados na região metropolitana de São Paulo.
Em 2020, superando todas as expectativas, Boulos chegou ao segundo turno para a prefeitura. Foi derrotado pelo falecido prefeito Bruno Covas (PSDB), mas conseguiu feito expressivo: dobrou a votação do primeiro para o segundo turno, superando a marca de 2 milhões de votos (40,62% dos válidos).
Em 2022, a desistência de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, passou pela avaliação de que era melhor evitar a “pecha de só querer o Poder Executivo”, segundo Medeiros. “Não podíamos ter uma terceira derrota [consecutiva]”, diz o dirigente.
Já o engajamento do líder sem-teto na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) motiva parte da esquerda a ventilar nos bastidores, aos poucos, o nome dele para ocupar um ministério em eventual governo do petista. “O valor dele está para grande política. Seja no governo ou em outra posição”, diz Valente.
O presidente do PSOL nega que haja negociações ministeriais, caso Lula eleito decidisse criar uma pasta para retomar o programa habitacional Minha Casa Minha Vida. “Não existe nenhuma negociação.” Medeiros diz que “a prioridade é a pré-candidatura à prefeitura de São Paulo”.
Boulos, porém, não deve acenar para a elite paulista, que o considera ‘invasor’ de propriedades privadas, com um discurso moderado e direcionado ao centro. O cálculo é de que seria um erro guinar ao centro, como fez Marcelo Freixo (PSB) para concorrer ao governo do Rio de Janeiro, após deixar o PSOL.
Freixo foi derrotado no primeiro turno pelo governador reeleito Cláudio Castro (PL). “Boulos confia muito nas suas ideias. Essa coisa de mudar é bobagem”, considera Medeiros.
Nivaldo Souza – Repórter freelancer
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