Armínio Fraga aponta receio sobre plano de Lula na economia: 'debate pobre' – UOL Economia

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Do UOL, em São Paulo
28/10/2022 12h19Atualizada em 28/10/2022 15h05
O economista Arminio Fraga, ex-presidente do BC (Banco Central), afirma esperar que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja mais claro quanto ao plano econômico. Em entrevista ao Valor Econômico, o economista afirma que algumas respostas já deveriam ter sido dadas sobre qual direção política o petista irá tomar em caso de vitória.
Fraga declarou voto no candidato petista no início do 2º turno, mas quer que mais temas relacionados à economia sejam levantados. “Tem muito receio sobre qual vai ser o Lula que vai aparecer. Se vai ser o Lula do primeiro mandato, do segundo mandato, ou do terceiro mandato do PT, que foi o da Dilma”.

Ontem, Lula divulgou a “Carta para o Brasil de Amanhã”, na qual promete que, caso eleito, fará um governo que combinará responsabilidade fiscal, social e compromisso com o desenvolvimento sustentável.
Ao longo de 13 pontos destacados, Lula busca falar também para o mercado, ao detalhar propostas econômicas, como a retomada de obras e investimentos em infraestrutura, sem deixar de lado a inclusão dos mais pobres no orçamento.
“Vamos investir em serviços públicos e sociais, em infraestrutura econômica e em recursos naturais estratégicos. Os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo”, afirma o petista.
“Ao mesmo tempo, vamos impulsionar o cooperativismo e a economia solidária popular. A roda da economia vai voltar a girar e o povo vai voltar a ser incluído no orçamento”, acrescentou.
O economista não crê em reestatização de companhias em um eventual governo Lula. “Teve um momento em que 60% do crédito no Brasil estava nos balanços dos bancos públicos. Por mais que o Banco do Brasil e o BNDES, em particular, tenham muita gente competente, não é a melhor maneira de alocar capital em uma economia. Acaba sempre tendo problemas de gestão. Isso, inclusive, já ficou claro. Depois que o BNDES encolheu, o investimento vem subindo no Brasil muito em cima do mercado de capitais”, avaliou.
Fraga considera “justo” o fato de Lula, até o momento, não ter indicado um nome para o Ministério da Economia antes do resultado das urnas. “O ambiente que se vê numa campanha coloca essa pessoa em uma posição incômoda. Eu vivi isso com o Aécio (Neves, candidato à Presidência da República pelo PSDB em 2014) e, na época, ele acabou divulgando meu nome como coordenador da área. Em uma disputa muito quente, propícia a populismos, o foco do adversário estará em cima das maldades (proposta de corte ou ajuste de gastos) que você está propondo. Então não é muito razoável ter um ministro indicado, de quem se espere detalhes”.
Por outro lado, há pontos que Fraga considera que precisariam estar sinalizados claramente a essa altura, a exemplo da invasão de terras. “Não vejo nenhuma razão para o candidato do PT não dizer com toda clareza que não dá para ter invasão de terras. Pode ter uma política de reforma agrária, dentro das regras. Mas imagine se a moda pega e o povo começa a invadir supermercado. Por que pode invadir terra e não pode invadir supermercado? No geral, estou achando o debate muito pobre”.
Apesar das ressalvas, ele elogiou a primeira passagem de Lula no Executivo. “Se você olhar todos os períodos desde que o PT assumiu, o período ‘Lula.1’ foi o de maior disciplina fiscal, o superávit primário bateu 4% do PIB. Mas o problema maior que eu tenho com relação ao governo atual não é econômico. É algo maior”, disse Fraga.
O economista elencou suas motivações para ser contra o atual presidente. “O governo Bolsonaro, em muitos aspectos, tem sido uma loucura. Desmatamento, armamento da população, fim da âncora do gasto, apesar de o governo ter feito uma política dura de congelamento dos salários, obscurantismo, e confrontos extremos entre os Poderes. Tomei a decisão de apoiar o ex-presidente Lula por acreditar que essas questões não só assustam do ponto de vista institucional ou cultural, mas acabam também tendo impacto sobre a economia. Elas vão minando a credibilidade, encurtam os horizontes de tempo”.
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