Porque Bolsonaro perdeu as eleições (por Ricardo Guedes) – Metrópoles
Blog com notícias, comentários, charges e enquetes sobre o que acontece na política brasileira. Por Ricardo Noblat e equipe
04/11/2022 11:00, atualizado 04/11/2022 0:38
Bolsonaro perdeu as eleições. Já participei de campanhas, algumas ganhadoras, outras perdedoras. Uma vez, em uma campanha não vencedora, um amigo me perguntou, em tom jocoso: “Por que perdeu? Quando se ganha, a campanha diz que ganhou por tais razões, por tais atitudes. E quando se perde, qual é a explicação?” Pensei um pouco, e respondi: “É simples. Perdemos porque tivemos menos votos.” Por que Bolsonaro perdeu? É simples, porque teve menos votos. Porque a maioria não o quer.
Mas por que a maioria não o quer? É simples. Na economia, o PIB caiu de US$ 1,9 trilhões para US$ 1,6 tri em seu governo, ou melhor, em seu desgoverno. Atualmente, somente 21% acham que a economia está no rumo certo, ou melhor, na sua deseconomia. Porque riu do COVID e de suas vítimas, dos 10,5% dos óbitos mundiais para 2,7% de sua população, ou ainda, no descaso pelos que padecem. Pelo descaso pela democracia. Pelo descaso pelas mulheres. Porque mais de 60% acham que sua política ambiental é equivocada. Porque mais de 60% acham que sua política externa é equivocada. Porque neste ano voltamos ao Mapa Mundial da Fome da ONU, com 15 milhões de pessoas sem comida no dia a dia. Porque um governo não pode ter como base a mentira. Pela omissão da omissão na omissão. As milícias digitais não foram suficientes para sufocar a racionalidade do voto.
É verdade, como dizia Goebbels, que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Mas, como disse John Kennedy, “você pode enganar algumas pessoas todo o tempo, todas as pessoas algum tempo, mas não todas as pessoas todo o tempo”. A mentira não substitui o prato na mesa, não provê sustância onde nada se fez, e nada se representa. Assim, simplesmente, perdeu.
A história não será condescendente com Bolsonaro. Daqui em diante, será somente o líder de parcela restrita da irracionalidade presente. Como se diz na política, quem está saindo do poder bebe o café frio, tão longo vira o percurso do garçom pelos corredores. Eleito como 3ª via em 2018 para combater a “Velha Política” e para implementar uma economia liberal, à “Velha Política” ele se aliou, e quanto ao programa liberal, nada se fez. Amarga rejeição pessoal acima dos 50%, impeditiva para a reeleição, seja por qual diferença for. No day after das eleições, em 31 de outubro, a bolsa subiu 1,31% e o dólar caiu 2,54%, na sinalização positiva do mercado nacional e internacional à ampla frente que Lula representa. Ao mesmo tempo, a desordem se instalou nas estradas brasileiras com o subsídio caminhoneiro de Bolsonaro de R$ 1mil por mês durante as eleições e a assim percebida complacência da Polícia Rodoviária Federal, primeiro capítulo do nosso Capitol Hill ciclotímico. No Dia de Finados, a desordem urbana se repete. Do total do eleitorado, Bolsonaro teve 33% no 1º turno, 37% no 2º turno; o representante dos 1/3; 20% de núcleo duro eleitoral; 1% de radicais. Perdeu porque a maioria não o quer.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus
“Não é possível você impedir as pessoas de se locomover. É grave, porque você pode comprometer a saúde das pessoas, abastecimento de hospitais, transplantes, vacina, alimentação, combustível. A pergunta é: quem vai pagar os prejuízos?” (Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito)
A extrema-direita copiou os modos e estratégias de Trump, e isso nem é o mais grave: o mais grave é que outros possam copiá-lo
A história não será condescendente com Bolsonaro. Daqui em diante, será somente o líder de parcela restrita da irracionalidade presente
Luiz Eduardo Ramos foi assessor parlamentar durante o governo de Lula, mantém bom trânsito com alguns petistas e recebeu Alckmin
O Centrão não vai gostar, mas e daí?
Tolerância com o intolerável
Todos os direitos reservados