Crianças brigando por política? Veja como falar sobre o assunto com o seu filho, sem estimular o clima de polarização – Crescer

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Por Giovanna Forcioni
04/11/2022 15h00 Atualizado 04/11/2022
"O Lula é ex-presidiário, o Brasil vai afundar com ele na presidência." Essa poderia ser uma frase dita por adultos num almoço em família, numa conversa de bar, num bate-papo com colegas de trabalho… Mas ela foi dita por crianças de 11 anos e gerou confusão em uma turma do 6° ano do Ensino Fundamental, de uma escola em Sorriso (MT).
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— Foto: Crescer
Desde o começo da campanha eleitoral deste ano, a cidade ficou dividida entre os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em uma aula no último mês, a professora levantou o assunto das eleições e isso foi o suficiente para que a classe também entrasse no clima de polarização. Alguns alunos começaram a cantar jingles a favor de Bolsonaro, uma menina não gostou da atitude dos colegas e uma discussão generalizada tomou conta da classe.
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"A professora interveio, mas só acabou gerando mais discussão, porque, assim como a menina que reclamou, a professora também é petista e aí os meninos reclamaram com ela", contou a dona de casa Isabel Mello, 39, mãe de uma das alunas da turma. "No fim das contas, eles não chegaram a um consenso, mas conseguiram aceitar a opinião da amiga, apesar de sempre discordarem", explicou.
Para Isabel, a discussão que ocorreu na turma da filha é só um reflexo da "briga política" que está tomando conta das famílias da cidade. No segundo turno, 74,34% dos eleitores de Sorriso votaram a favor do atual presidente e 25,66% a favor do candidato do PT. "A cidade está respirando política ainda, neste momento tem um monte de gente em protestos. Minha filha de 11 anos está superenvolvida e, como nós, é a favor do Bolsonaro. Mas, na escola, tem colegas que vêm de família petista e, por consequência, apoiam o Lula também", relatou.
— Foto: Crescer

Crianças brigando por política… e agora?

O que aconteceu no colégio da filha de Isabel não é um caso isolado. Têm pipocado pelo país histórias de crianças que estão discutindo e até mesmo brigando entre si por causa de candidatos e partidos. Mesmo que, na prática, os pequenos ainda não tenham idade de exercer o direito ao voto, eles também estão sendo contagiados pela atmosfera de polarização que domina o país.
Mas o que podemos fazer quando até os pequenos se envolvem em "brigas" por causa de política? Quando esse tipo de coisa acontece, é preciso, sim, abordar o episódio com as crianças, mas sempre reforçando que cada pessoa tem a sua opinião e que devemos respeitar quando os outros pensam diferente de nós. "É preciso mostrar a diferença para as crianças entre um debate saudável de ideias e ataques que ferem as pessoas. Isso, é claro, não inclui discursos de ódio nem coisas criminosas como racismo e homofobia. Preconceito não é opinião", afirma a psicóloga Rita Calegari (SP).
Foi exatamente isso o que falou a dona de casa Isabel Mello, do começo da reportagem. Quando a filha voltou para casa contando sobre a "briga" que aconteceu no colégio, a mãe logo orientou a menina sobre o que fazer nesse tipo de situação. "Primeiro, disse a ela que precisamos respeitar a todos, independentemente de ideologia política, credo, raça, orientação sexual. Expliquei que ela deve tentar ouvir a pessoa e argumentar, mas, se nada der certo, acabar com a discussão e ir embora", disse.
A psicóloga e educadora parental Viviane Marques (SP) também concorda. Segundo ela, a família pode, ainda, orientar a criança a como "fugir" de discussões que podem tomar um rumo mais agressivo. "Deixe claro que conversas e provocações sobre quem é o melhor ou o pior candidato não são assunto de criança e que, por isso, seu filho não precisa entrar nesse tipo de discussão. Em vez disso, diga que ele pode explicar aos colegas o que é um país, o que faz um presidente ou governador, o que são leis, o que é respeito… Não falar sobre candidatos e partidos não significa não aprender desde cedo o que é política. Opinião política não é assunto de criança, mas conhecimento político pode e deve ser assunto para qualquer um", afirmou.
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Para isso, não tem jeito: é preciso, em alguma medida, conversar com os pequenos sobre como funciona o nosso país. Explicar quais são as atribuições dos principais cargos, o que se espera de uma pessoa que representa a nação, o que é democracia… Tudo isso é uma forma de explicar o momento que estamos vivendo, mas sem incluir a criança nesse clima de polarização. "Acredito que a conversa neutra e com informações técnicas é um bom caminho. Não conversar dentro de casa não impede que as crianças tenham contato com este assunto, pois em todos os lugares que ela frequenta também estão falando sobre política", completou Viviane.
Mas atenção: dar explicações neutras e técnicas para as crianças não significa que você precise esconder delas qual é a preferência política da família. Você pode, sim, compartilhar com o seu filho qual é o seu candidato favorito, mas sempre mantendo o respeito com os adversários e mostrando que todos têm a liberdade de escolher aquele com quem mais se identificam. “Não tem problema falar com seu filho sobre seu posicionamento político e explicar por que seu candidato é melhor do que o adversário. O que não se pode é ficar cego à opinião contrária ou desrespeitar o ponto de vista do outro", finalizou Rita Calegari.
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