De Vries convence até demais, ganha chance tardia na F1 e força contradição da AlphaTauri – Grande Prêmio

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Dois dos maiores segredos abertos da Fórmula 1 chegaram ao fim no sábado de ações do GP do Japão. Antes de times e pilotos partirem para TL3 e classificação em Suzuka, a Alpine oficializou a chegada de Pierre Gasly à equipe. Cinco minutos depois, foi a vez do outro dominó cair: Nyck de Vries foi anunciado como substituto do francês na AlphaTauri
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Já vamos logo dizer: o holandês não era o plano A da esquadra de Faenza. Isso também não é e não era segredo para ninguém. Com a vontade de Gasly rumar em busca de um novo desafio na Alpine, enfim longe da Red Bull — após 9 anos —, a AlphaTauri ficou com as mãos atadas. Restava, então, buscar alguém “empolgante” para a vaga — só assim Gasly seria liberado, prometeram. Juraram. 
Alvo? Colton Herta. A empolgação com o americano tinha sentido de ser; afinal, em uma Fórmula 1 cada vez mais fundida com o Liberty Media — prova disso está nas três corridas marcadas para solo estadunidense em 2023 —, ter um jovem e bom piloto dos Estados Unidos representaria um casamento comercial perfeito. Mas a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) resolveu empacar o negócio e determinou divórcio antes mesmo de qualquer matrimônio ser oficiado: nada de superlicença ou atalho para Herta.
Chegamos, pois, à grande questão: por que Nyck de Vries, com 27 anos e sequer uma temporada completa de F1 para a conta, se consolidou como atrativo suficiente para empolgar a AlphaTauri — como a esquadra queria — e despontar como único plano B possível? Do ponto de vista do piloto, não há grande mistério: é uma contratação que faz muito mais sentido para ele do que para o time de Faenza. 
Campeão da Fórmula E em 2020/21 e da Fórmula 2 em 2019, De Vries negociava para se juntar à Maseratique regressa ao esporte a motor após mais de 60 anos — e com a Toyota para ter cronograma duplo em 2023: Fórmula E e Mundial de Endurance
Cria da Academia de Pilotos da McLaren — posteriormente, da Audi também —, De Vries passou oito temporadas nas categorias de base sem chamar muita atenção da principal categoria de automobilismo do mundo. Nem mesmo quando venceu a F2, há três anos, isso mudou: afinal, contestações (justas) quanto à qualidade daquele grid permeavam e protagonizavam as discussões. O próprio holandês sabia disso, preferindo focar na Fórmula E e nos carros esportivos — mas ainda assim mantendo uma ligação com a F1 como piloto reserva da Mercedes. De longe, com certa distância.
Isso explica, então, por que a chance de F1 demorou tanto a cair no colo do holandês? Também, mas não plenamente. Talvez De Vries nunca tenha convencido as pessoas certas de que merecia uma consideração maior. Talvez, também, porque as grandes e principais qualidades do holandês estejam em seu profissionalismo e abordagem perante o carro — e não em outras áreas, quiçá mais atraentes. 
“O feedback pós-sessão dele foi extremamente bom. Teve alguns comentários muito úteis quanto ao balanço do carro, que vai de encontro com o que ouvimos dos nossos dois pilotos. Então penso que, quanto a isso, considerando que ele só teve uma hora no carro, que fez um trabalho muito bom e claramente tem o que precisa para ser um piloto de qualidade alta. Merece um lugar no grid”, disse Dave Robson, chefe de performance da Williams, em maio deste ano. Na ocasião, De Vries substituiu Alex Albon no TL1 do GP da Espanha — somente para a equipe de Grove cumprir com o regulamento esportivo da F1 2022, no qual há uma regra em que os times da principal categoria automobilística do mundo são obrigados a escalar um piloto novato, “que não pode ter participado de mais de dois GPs de F1”, em pelo menos duas sessões de treinos.
De Vries recebeu elogios do mesmo tipo da Mercedes e da Aston Martin — equipes pelas quais ele também pilotou neste ano de 2022, também somente como ‘objeto’ de cumprimento de regulamento. O holandês recebia elogios, claro, mas vaga mesmo? Nada. “Está realmente fora do meu controle. E nesse ponto, eu não tenho a possibilidade de influenciar as equipes. A única maneira de continuar uma carreira com sucesso é performar e entregar [resultados] na pista, e é isso que vou tentar fazer no restante da temporada”, afirmou, em agosto, um já resignado, conformado De Vries.
Mas tudo mudou, quase que literalmente, da noite para o dia. E o holandês tem somente o apêndice de Albon a agradecer. 
A história, quase todo mundo já sabe. Depois de uma crise de apendicite, Albon desfalcou a Williams a partir do sábado no GP da Itália. Em sua primeira corrida na F1, o holandês foi ao Q2 — enquanto Nicholas Latifi, para variar, ficou pelo caminho no início do classificatório —, largou no top-10 com meio grid punido em Monza e conseguiu pontuar, em atuação bastante segura e sem erros. 9º lugar para ele.
A partir daí, o jogo virou. A estreia “dos sonhos” fez De Vries entrar para a lista da Williams; receber elogios ainda mais fervorosos da Mercedes e do bicampeão mundial Max Verstappen; garantir vaga em teste privado com a Alpine; e claro, conseguir uma reuniãozinha com a Red Bull, de olho na AlphaTauri. O holandês sabia que não podia escolher vaga; dado todo o contexto, estar na Fórmula 1 já estaria, como está, de ótimo tamanho. 
De Vries, enfim, conseguiu convencer. E conseguiu a ponto de fazer a equipe de Faenza cair em contradição; afinal, qual é o sentido do time — criado para desenvolver os talentos da Academia da Red Bull — contratar um piloto de 27 ANOS, em seu primeiro vínculo com o programa taurino? Não há muito, essa é a resposta.
A AlphaTauri priorizou a empolgação em detrimento do respeito às suas origens. E por quê?
No anúncio oficial da chegada de De Vries, a AlphaTauri fez questão de enaltecer seu currículo. “Ganhou tudo que disputou”, bradou a esquadra de Faenza. Sabemos que não é somente isso; o currículo do holandês está posto há muito tempo, e nunca encheu os olhos — mesmo com os títulos expressivos. 
Para além dos comunicados ‘engravatados’, as declarações oficiais — que, por vezes, pouco dizem —, Franz Tost, chefe de equipe da AlphaTauri, respondeu — na entrevista coletiva antes do GP do Japão —, com todas as letras, o real motivo da contratação. 
“(Monza) teve grande influência, porque mostrou o potencial que ele tem. Guiou de maneira fantástica, não cometeu erros e, assim, a decisão de contratá-lo ficou fácil. Foi importante. Nyck estava em nosso radar antes disso. Com as circunstâncias especiais de outros pilotos deixando suas equipes, a Red Bull decidiu que não seguiria com Pierre Gasly. Esses componentes, juntos, acabaram nos levando na direção de que De Vries é a melhor possibilidade e vai cair como uma luva em nossa equipe”, resumiu Tost.
Cabe agora, ao piloto, mostrar que a ‘traição’ de seus princípios por parte da AlphaTauri vai valer a pena. Ao time de Faenza, é esperar que a chance, enfim concedida, acenda uma chama no profissional e comprometido De Vries. E que isso, claro, se traduza em velocidade. É o que a esquadra mais precisa. 

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