É antigo vídeo em que Bolsonaro critica ministro Barroso e convoca protestos – politica.estadao.com.br
Marcelo Perrone
08 de novembro de 2022 | 11h39
O vídeo que circula nas redes sociais com o título “Último Aviso”, acompanhado dos brasões do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, é antigo. De forma enganosa, postagens sugerem que a fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) endereçada ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, na forma de um ultimato, está relacionada à contestação do resultado da eleição de 30 de outubro, da qual saiu vencedor Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Porém, esta declaração de Bolsonaro foi registrada no dia 3 de agosto de 2021, quando o presidente se dirigiu a apoiadores na saída do Palácio do Alvorada.
Na ocasião, tramitava na Câmara a proposta de emenda à Constituição (PEC) para instituir nas eleições o voto impresso, uma das bandeiras de Bolsonaro na sua campanha de descrédito das urnas eletrônicas. Barroso, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), era abertamente contra, por julgar a medida um retrocesso. Bolsonaro o acusava de articular junto às lideranças das bancadas a derrubada da PEC – o que aconteceria dois dias depois. Para o presidente, Barroso fazia uma interferência política indevida no poder Legislativo. Chegou a chamar o ministro de “criminoso” por atentar contra a harmonia entre os poderes prevista na Constituição.
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Bolsonaro diz no vídeo: “Se o ministro Barroso continuar sendo insensível, como parece que está sendo insensível, com um processo contra mim… Se o povo assim o desejar, porque eu devo lealdade ao povo brasileiro, uma concentração na Paulista para darmos o último recado para aqueles que ousam açoitar a democracia. Repito: o último recado para que eles entendam o que está acontecendo e passem a ouvir o povo, eu estarei lá. Se o povo estiver comigo, nós vamos fazer com que a vontade popular seja cumprida”.
Uma postagem do vídeo no Facebook atesta o efeito da informação enganosa. Até a tarde desta segunda-feira, 7, a publicação tinha mais 93 mil visualizações e 5 mil curtidas. Entre os 505 comentários, alguns alertam se tratar de um material antigo, outros fazem piada, mas o tom geral é de apoio ao “ultimato” presidencial e de reforço à mobilização: “Vamos acreditar! Vai dar certo! Estamos com a razão”; “Força presidente vamos vencer”. “Presidente Bolsonaro, vamos por esses petistas comunistas na cadeia, forças armadas urgente”. “Não queremos esse ladrão como presidente, ladrão roubou até nas urnas.” (comentários com suas grafias originais).
Desde a derrota de Bolsonaro, seus apoiadores promovem manifestações golpistas que têm entre outros alvos o STF. Pedem ainda pela intervenção militar junto a unidades das Forças Armadas. O movimento mais grave provocou bloqueios em rodovias, que foram se agravando no passar das horas. Caminhoneiros tomaram a linha de frente, embora sindicatos da categoria não endossassem os atos. Depois, motoristas pararam seus automóveis e outros manifestantes foram se somando aos grupos. Cobrado pelo silêncio diante da crise que colocava em risco o abastecimento de supermercados e postos de gasolina, bem como o escoamento do produtos do agronegócio, Bolsonaro divulgou um vídeo na noite de quarta-feira, 3 pedindo a desobstrução das rodovias.
O movimento golpista envolve ainda protestos diante de quartéis, que levam às ruas uma reivindicação das redes sociais, a aplicação de dois artigos da Constituição para não respeitar o resultado das urnas: o 142 e o 34. Contudo, nenhum deles prevê pedidos de intervenção militar ou ampara uma possível intervenção federal no País no cenário atual, como alguns manifestantes afirmam.
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