No vácuo de poder, Lula já ocupa todos os espaços de presidente de fato – UOL Confere
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ricardo Kotscho, 72, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Colunista do UOL
09/11/2022 14h22
Como Jair Bolsonaro já tinha abdicado de governar o país semanas antes da eleição, para fazer campanha, e depois se retirou para o exílio no Alvorada, Lula só teve tempo de pegar três dias de folga na Bahia.
Na volta ao batente esta semana, enquanto cuida da montagem do governo da frente ampla, Lula ocupa todos os espaços no noticiário político e cumpre uma agenda digna de presidente de fato. Como sabemos, não pode haver por muito tempo um vazio de poder no regime presidencialista. O ex e futuro presidente começou seu périplo em Brasília por Arthur Lira, presidente da Câmara; depois, iria almoçar com Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e, à tarde, visitaria ministros dos tribunais superiores.
É tempo demais este que separa a votação do segundo turno do dia da posse, dois intermináveis meses, tempo suficiente para o presidente que sai ainda causar grandes prejuízos ao país para se vingar da derrota. Se a posse pudesse ser antecipada, acredito que até Bolsonaro daria graças a Deus pois sua agenda continua sendo uma página em branco.
De tanto insistir em atiçar as Forças Armadas contra a Justiça Eleitoral e colocar em dúvida a segurança das urnas eletrônicas, o ainda presidente de fancaria limita-se a estimular seus devotos a infernizar a vida do país, com os acampamentos golpistas nas estradas e em frente aos quarteis para pedir intervenção militar. Em nome de que, de quem?
O mundo político está agitado hoje em Brasília porque o Ministério da Defesa anunciou na véspera que apresentará finalmente, o tal relatório sobre a auditoria nas urnas, 10 dias após o seu fechamento, e a proclamação dos vencedores pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Bolsonaro joga todas as suas fichas agora neste relatório, não importa seu conteúdo, pois no mundo paralelo da terra plana não importam os fatos, mas as versões, por mais inverossímeis que sejam.
O importante para o presidente ainda em exercício, daqui para a frente, é manter mobilizada sua milícia digital, de onde ele e seus filhos andavam sumidos desde a confirmação do resultado pelo TSE. Foi o espaço que lhe restou para mostrar que ainda está vivo.
Com isso, a cada dia fica mais gritante a diferença de postura entre o presidente que sai, com desonra, e o que entra, com a responsabilidade de unir forças políticas para a grande tarefa de reconstrução nacional e prover meios para cumprir as obrigações básicas do governo federal na transição de poder.
Na próxima semana, Lula já fará sua primeira viagem internacional após a vitória, para participar como convidado da COP-27, no Egito, onde sua presença é aguardada com grande expectativa para o Brasil voltar a ocupar um papel de destaque nas discussões sobre o clima e o meio ambiente.
Não por acaso, estará acompanhado da sua ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, uma referência de grande prestígio internacional nesta área, a mesma em que Ricardo Salles, o exterminador da floresta, foi o seu exato oposto no demolidor governo Bolsonaro.
Pelos primeiros sinais do novo governo, as promessas de frente ampla da campanha de Lula estão sendo colocadas em prática uma a uma, dia após dia, como mostram os nomes já anunciados pelo vice Geraldo Alckmin para o governo de transição. Para acalmar de vez o mercado e a mídia ansiosa, só falta indicar o nome do futuro ministro da Fazenda.
Tudo o que o Brasil não precisa neste momento é de uma nova crise entre o Judiciário, o Executivo e as Forças Armadas, no apagar das luzes de um governo que, na prática, já acabou.
A combalida democracia brasileira, mais do que nunca, precisa de uma trégua de paz para juntar os cacos e planejar seu futuro. Os países do mundo civilizado estão voltando a ver o Brasil com outros olhos. A maré está novamente a nosso favor, não podemos decepcioná-los.
Vida que segue.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Ricardo Kotscho
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