Governo Lula, conciliação no Ceará: como o PDT se articula após eleição – Gazeta do Povo

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O PDT teve um desempenho aquém do que esperava nas eleições de 2022. Após ver a bancada diminuir no Congresso Nacional e não eleger nenhum governador ou senador, o partido decidiu ingressar na base do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao mesmo tempo em que busca fortalecer as bases da legenda já de olho nas eleições de 2024 e 2026.

Um dos principais pontos de preocupação é o Ceará. O PDT do estado, que é uma das maiores bases do partido por ser berço político dos irmãos e ex-governadores Ciro e Cid Gomes, registrou diversas disputas internas durante o período eleitoral, que culminaram na derrota do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Claudio (PDT). O petista Elmano de Freitas foi eleito em primeiro turno.
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, viajou nesta semana ao estado para tentar resolver uma divisão entre o grupo de Ciro e o presidente estadual do diretório, André Figueiredo, que defende “independência” frente ao mandato de Elmano, e a ala do senador Cid Gomes, que prega uma coalisão entre as legendas de esquerda no estado. O partido ainda não anunciou se será oposição ou se apoiará o governo do PT no estado.
A divergência ocorreu ainda antes do primeiro turno, quando o PDT optou pela candidatura de Cláudio em detrimento da governadora do Ceará, Izolda Cela, que decidiu deixar o partido, fez campanha para os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Elmano e atualmente é cotada para ser ministra da Educação.
Desentendimentos também ocorreram em outros estados, como no Rio de Janeiro, onde o candidato do PDT ao governo do estado, Rodrigo Neves, também chegou a fazer acenos a Lula antes do segundo turno.
Essas divisões internas e as dificuldades de uma eleição polarizada foram decisivas para que o partido elegesse 17 deputados federais, dois a menos em comparação a última legislatura. A expectativa do partido era eleger ao menos 35 representantes.

Falando à Gazeta do Povo sobre o desempenho da legenda das urnas, o deputado federal Pompeo de Mattos (PDT-RS), reeleito para o sexto mandato consecutivo, disse que o partido precisa “lamber as feridas” e se “reencontrar” para “conseguir uma sobrevida”.

Mattos analisou que outros partidos, como o PSDB e o PSB, também tiveram números abaixo do esperado nas eleições, resultado da polarização entre Bolsonaro e Lula.

“Como a eleição ideologicamente ficou vinculada ao Lula e ao Bolsonaro, os eleitores acabavam pressionados a votar nos candidatos de Lula e de Bolsonaro. Foi uma eleição de nomes e não de projetos”.
O PDT deve compor a base de Lula, mas não há, até o momento, previsão de que venha a comandar algum ministério.

“Para nós do PDT, estar com o Lula desde o final do primeiro turno era mais que esperado, até pelo nosso compromisso, com a pauta que Lula representa, e lógico, nós do PDT temos também as considerações a fazer, tanto que o Lula incorporou já no segundo turno alguns pontos programáticos do nosso projeto nacional de desenvolvimento que o Ciro tão bem tocou na campanha do primeiro turno”, disse o deputado André Figueiredo (PDT-CE) à CNN Brasil. Lupi, o presidente nacional da legenda, reforçou, na semana passada, que “não vê como não estar na base do governo”.
O deputado federal Wolney Queiroz (PDT-PE) tem sido um dos principais articuladores da sigla com a equipe de transição de Lula, sendo um dos membros do Conselho Político do presidente eleito. Em entrevista ao jornal O Globo, ele disse que o partido tem interesse em participar do núcleo de Cidades e Desenvolvimento Regional, no governo de transição.
“Nós vamos optar pelo grupo de Cidades e Desenvolvimento Regional. Pode ser para coordenar ou para ajudar os companheiros”, disse Wolney.
O partido também deseja que Lula cumpra a promessa de aderir em seu plano de governo alguns pontos do programa político de Ciro nos próximos quatro anos.
“Temas como a escola em tempo integral, a diminuição do endividamento da população brasileira, a manutenção dos valores do Auxílio Emergencial e o aumento real no salário são propostas que o Ciro trazia consigo e o Lula acabou assimilando, algo que vimos com bons olhos. Isso nos aproximou e pode fazer com que nós caminhemos juntos”, analisa Mattos.
O parlamentar ainda avalia que, mesmo fragilizado após a derrota na eleição presidencial, e as divisões dentro do partido no Ceará, Ciro ainda deve se manter como “um quadro relevante” dentro do partido.
“Nenhum partido pode abrir mão de um protagonista com o valor e o quilate de um Ciro Gomes. O papel dele apenas o tempo vai dizer. Mas o Ciro está na ativa. O Lula tem 77 anos e o Ciro tem 12 anos a menos. O Lula não pode abrir mão do Ciro. É um nome prestigiado e com nome nacional. Qual o partido que se encarrega disso? Há quatro anos atrás o Lula estava preso e o PT perdia uma eleição. Não podemos subestimar o tempo”, finaliza Mattos.
Desde o resultado das eleições, Ciro se manifestou uma única vez sobre a vitória de Lula. No Twitter, o ex-ministro cumprimentou o petista pela vitória e desejou “toda a felicidade na honrosa missão a si concedida pela maioria de nosso povo brasileiro”.
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