Como será a política de conteúdo do Twitter após compra por Elon Musk? – Gazeta do Povo
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“O pássaro está livre”, tuitou o bilionário Elon Musk horas após a conclusão do acordo de compra do Twitter por US$ 44 bilhões, que ocorreu na última quinta-feira de novembro. Junto a essa, várias outras postagens feitas pelo homem mais rico do mundo desde abril deste ano, quando o processo de compra teve início, apontam para uma transação feita não só por aspectos de mercado, mas também por uma espécie de idealismo do empresário, que se autointitula “absolutista da liberdade de expressão”.
Ao longo dos anos, o Twitter tem sido acusado por diversos usuários, sobretudo aqueles alinhados à direita política, de que a moderação de conteúdo – exclusão temporária ou definitiva de usuários e conteúdos supostamente em desacordo com os termos de uso da rede social – era bastante rígida com publicações ligadas ao conservadorismo e ao liberalismo, enquanto havia “vista grossa” para postagens com temas vinculados à esquerda.
Outro fator denunciado com frequência é que haveria critérios subjetivos que tornavam bastante difícil que jornalistas e demais influenciadores de direita conseguissem o selo de verificação da rede social – o chamado “selo azul”, que confere autenticidade e garante maior credibilidade e relevância ao usuário.
Nos últimos meses, Musk também passou a endossar esse desequilíbrio na política de moderação de conteúdo da plataforma, menos tolerante a conteúdos de direita. O bilionário também tem feito críticas ao radicalismo que domina o crescimento da chamada cultura woke, baseada na defesa de pautas como ideologia de gênero e identitarismo.
Ao responder um influenciador conservador na última sexta-feira (4), que dizia que enquanto a esquerda conta com bilhões de dólares, além de entidades governamentais, empresas de mídia e ONGs para fomentar a censura a vozes da direita, conservadores “têm algumas contas de mídia social e um punhado de grupos que lutam pela liberdade de expressão online”, o novo dono do Twitter respondeu: “Essa avaliação é mais precisa do que a maioria das pessoas imagina”.
Para atender a essa demanda, Musk tem afirmado, em suas postagens, que não haverá nenhum tipo de censura na plataforma e que setores estratégicos da empresa, como moderação de conteúdo, ética e segurança, serão formados por pessoas com diferentes pontos de vista. O Twitter, segundo ele, passaria a ser imparcial, sem favorecer nenhum lado.
Logo que concluiu o processo de compra, Elon Musk demitiu alguns dos principais diretores do Twitter, incluindo o até então CEO, Parag Agrawal, e o ex-presidente, Bret Taylor. Também foi demitida a chefe de assuntos jurídicos Vijaya Gadde, principal responsável pelo banimento de ex-presidente americano Donald Trump do Twitter antes dos eventos da invasão do Capitólio, após sua derrota eleitoral em 6 de janeiro de 2021.
Já na última sexta-feira (4), foram desligados aproximadamente 3,7 mil funcionários da empresa em todo o mundo, cerca de metade da equipe, sob a justificativa de redução de custos. No Brasil, teriam sido 150 demissões segundo informações do Valor Econômico.
A equipe que atua com curadoria de conteúdo e combate à desinformação é uma das que foram bastante atingidas pelas demissões, assim como setores de direitos humanos e ética de aprendizado de máquina. O modo de “combater a desinformação” é justamente aquele apontado como abusivo por usuários de direita, que apontam parcialidade nas decisões.
Apesar disso, o bilionário afirmou, na mesma data das demissões, que os recursos de moderação permanecem em vigor. Em outro tuíte publicado dois dias antes, ele havia dito que o novo conselho de moderação de conteúdo do Twitter “incluirá representantes com visões amplamente divergentes, que certamente incluirão a comunidade de direitos civis e grupos que enfrentam violência alimentada pelo ódio”.
Prevendo ataques mais incisivos por parte da esquerda progressista frente à sinalização de maior tolerância à diversidade de opiniões, Elon Musk publicou, na data da conclusão do processo de compra, uma carta aberta aos anunciantes. “O Twitter obviamente não pode se tornar um inferno livre para todos, onde qualquer coisa pode ser dita sem consequências. Além de cumprir as leis do país, nossa plataforma deve ser calorosa e acolhedora para todos”, disse na ocasião.
Ainda assim, o sinal verde à liberdade de expressão para todos os posicionamentos políticos despertou a ira de ativistas. No dia 1º de novembro, mais de 50 entidades progressistas, que atuam em temas como defesa da liberação do aborto, direitos LGBT e questões raciais divulgaram uma carta aberta pressionando os principais anunciantes da rede social a repensarem a exposição de suas marcas na plataforma.
Na carta, as entidades dizem, sem provas, que “24 horas após Musk tomar posse, a plataforma foi inundada com ódio e desinformação”. “Os extremistas não estão apenas comemorando a aquisição do Twitter por Musk, eles estão vendo isso como uma nova oportunidade de postar a linguagem e as imagens mais abusivas, assediantes e racistas. Isso inclui ameaças claras de violência contra pessoas com as quais eles discordam. Sem esforços deliberados do Twitter para lidar com esse tipo de abuso e ódio, suas marcas apoiarão ativamente o extremismo acelerado”, diz a carta.
O texto pede, por fim, que os diretores das empresas anunciantes se comprometam publicamente a interromper toda a publicidade no Twitter se Musk “seguir seus planos de minar a segurança da marca e os padrões da comunidade, incluindo a moderação de conteúdo”.
Três dias após a divulgação da carta – e em meio a outras campanhas de influenciadores de esquerda pressionando empresas a retirarem seus anúncios – Musk foi ao Twitter informar que a rede social havia tido “uma queda enorme na receita, devido a grupos ativistas pressionando os anunciantes, embora nada tenha mudado com a moderação de conteúdo. Fizemos tudo o que pudemos para apaziguar os ativistas”, declarou o empresário. “Eles estão tentando destruir a liberdade de expressão na América”, prosseguiu.
Nas próximas semanas, o Twitter deve receber também uma série de mudanças no funcionamento da plataforma. Uma das principais é a ampliação do selo de verificação para todos os usuários que desejarem assinar o serviço Twitter Blue.
O chamado “selo azul”, até então concedido mediante avaliação caso a caso por equipes internas do Twitter a determinados influenciadores, celebridades, empresas e políticos, será concedido por um pagamento mensal. Em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia – os primeiros que devem receber a nova funcionalidade – o custo será de oito dólares.
Adeptos do Twitter Blue também terão direito a recursos exclusivos, como exposição a menos anúncios, possibilidade de publicar vídeos mais longos e prioridade de ranqueamento em respostas, menções e buscas.
Outras mudanças na plataforma que estão em estudo e podem entrar em funcionamento em breve são o aumento do tamanho disponível para texto, melhorias na ferramenta de busca e monetização para produtores de conteúdo.
Como mostrado pela Gazeta do Povo, neste domingo (6) o empresário prometeu analisar o caso dos brasileiros que tiveram suas contas no Twitter banidas no Brasil por ordens judiciais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Há uma lista ampla de pessoas que tiveram contas bloqueadas por ordem judicial após publicarem conteúdos que desagradaram os tribunais em questão, desde jornalistas e empresários a artistas e até mesmo políticos com mandato ativo. O deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG), que teve a maior votação do país nas eleições deste ano, teve seu perfil suspenso na última sexta-feira (4) por ordem do TSE após mencionar indícios de fraudes nas urnas eletrônicas. Já a deputada Carla Zambelli (PL-SP) teve a conta excluída por ordem judicial após endossar as manifestações de caminhoneiros pró-Bolsonaro.
Neste domingo (6), foi a vez dos deputados Major Vitor Hugo (PL-GO) e Coronel Tadeu (PL-SP), aliados do presidente Jair Bolsonaro, terem as contas suspensas. Da mesma forma, o TSE determinou bloqueio do perfil do ex-secretário da Receita Marcos Cintra, que foi candidato a vice-presidente neste ano pelo União Brasil na chapa de Soraya Thronicke, após pedir esclarecimentos à Justiça Eleitoral sobre suspeita de fraude nas urnas.
“Vou olhar essa questão”, respondeu Elon Musk a usuários brasileiros da plataforma que pediam que as medidas fossem revistas pelo bilionário.
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