Bolsonaro some por 19 dias sem meter um atestado e cria 'Gabinete do Ócio' – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
18/11/2022 17h44
Jair Bolsonaro ainda é formalmente o presidente da República e, portanto, tem um país para administrar. Mas, onipresente por quase quatro anos, agora desapareceu. Se fosse um operário e sumisse do trabalho por 19 dias sem meter um atestado, já estaria no olho da rua. Jair, contudo, continua ganhando salário sem justificar a ausência, nem provar que trabalhou.
Quando ele foi internado, em São Paulo, em janeiro deste ano Bolsonaro, após uma obstrução intestinal causada por um camarão não mastigado, o bolsonarismo explorou o episódio ao máximo, lembrando da facada que levou em 2018. Afinal de contas, era início do ano eleitoral.

Agora, nem um boletim médico.
Se Jair não estiver bem, o Palácio do Planalto precisaria ter formalmente avisado à sociedade que ele ficaria afastado para se recuperar, bem como a razão do afastamento. Até porque a saúde do chefe do Poder Executivo é assunto de caráter público, não privado, por motivos óbvios.
O máximo que tivemos foi o vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmando, nesta quinta, que o sumiço se deve a uma ferida na perna causado por erisipela. Segundo o senador eleito, ele não pode vestir calça e, por isso, não está trabalhando.
Bobagem. Jair poderia trabalhar de bermuda no Palácio do Alvorada, como ele já fez antes. Vestimenta adequada nunca foi sua preocupação – como esquecer a reunião em que discutiu a Reforma da Previdência usando uma camiseta falsificada do Palmeiras? Sem contar que não sapateia nas lives, portanto não usaria as pernas.
Nos últimos 19 dias, ele tem recebido assessores mais próximos, bem como alguns ministros e aliados no Palácio do Alvorada. Mas só. Poderia despachar de lá, mas não parece mais interessado em governar. Deve estar preocupado em analisar formas de não responder pelos crimes que cometeu quando deixar o poder.
Jair tem um medo louco de ser preso, tanto que repetiu isso à exaustão durante os últimos anos, comparando-se à ex-presidente golpista da Bolívia, Jeanine Áñez, que foi condenada e presa.
Particularmente, não tenho objeções ao silêncio que Jair Bolsonaro impôs a si mesmo desde que perdeu para Lula. Pelo contrário, ele deveria ter adotado tal comportamento muito antes, como no pior momento da covid-19. Sem vir a público para atacar vacina, defender vermífugo e furar quarentena, milhares de vítimas estariam vivas agora.
Mas é paradigmático que o presidente que menos trabalhou na Nova República aprofunde sua ojeriza ao trabalho formal após ter perdido a eleição, apontando que a prioridade nunca foi o Brasil, mas ele mesmo, sua família e amigos.
Em sua aparição pública desde então, no dia 1º de novembro, falou por apenas dois minutos e três segundos, e não reconheceu a derrota.
O Gabinete do Ócio de Jair Bolsonaro passa a impressão de que Lula já está governando em seu lugar, o que é um erro. Desmatadores continuam tocando o projeto bolsonarista de terra arrasada em meio ao silêncio presidencial e aos meses de transição, por exemplo. O Brasil está no piloto automático na estrada em que ele nos deixou. Azar o nosso, pois a estrada leva a 50 anos no passado.
Ao mesmo tempo, o golpismo permanece acampado em torno de quartéis. Se abrisse a boca para defender os atos, ele poderia ser enquadrado judicialmente. Se criticasse, seria abandonado pela extrema direita.
Talvez para alimentar esse pessoal, o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato de vice na chapa derrotada de Bolsonaro, assumiu o lugar de Jair, nesta sexta (18), no cercadinho do Alvorada, e tentou tranquilizar os golpistas, dizendo que o presidente está bem.
“Vocês não percam a fé, tá bom? É só o que eu posso falar para vocês agora”, disse em um tom enigmático.
Enquanto isso, o presidente picota documentos, apaga HDs, renova o passaporte…
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Leonardo Sakamoto
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