Por que o castelo de tranquilidade de Infantino começa a rachar – ESPN.com.br

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Gianni Infantino chegou ao Qatar praticamente reeleito para seu terceiro mandato à frente da Fifa. A eleição acontecerá em março de 2023, mas até hoje não há chapa de oposição. E a data final para a constituição de uma é nesta quinta-feira (24).
O suíço conseguiu tal estabilidade porque nos seus dois primeiros períodos no poder manteve a entidade longe das páginas policiais depois do FifaGate, que abalou as estruturas do poder no futebol. E também, talvez principalmente, porque lançou a ideia de aumentar o número de países na Copa do Mundo de 32 para 48, o que já se dará em 2026.

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São mais 16 federações nacionais felizes e tantas outras que passam a sonhar com uma presença, para muitas até então pouco provável, no Mundial. E cada uma delas é mais um voto no pleito. A qualidade técnica dos jogos? Isto parece pouco importar diante dos interesses políticos.
Infantino não contava (ou não mediu direito) com os efeitos que a realização desta Copa no Qatar poderia trazer para sua estabilidade política. As críticas vêm de todos os lados e explodem no seu peito. Ele se equilibra na corda bamba. E de sombrinha. E em cada passo dessa linha, ele pode se machucar.
De um lado, o duro governo qatari que investiu uma fortuna e não cede um milímetro para os costumes e a cultura do Ocidente. Do outro, a Europa metralhando a subserviência da entidade às imposições locais. Situações que ferem gravemente o modo de pensar de muitos europeus.
No sábado (19), Infantino fez um longo discurso pró-Copa. Pediu compreensão por parte da imprensa, mas acabou se perdendo em declarações completamente descabidas que mostraram toda a fragilidade de seus conceitos pessoais. Algo péssimo para o líder da entidade que governa o futebol. Porque revela o quanto o esporte mais popular do planeta está dissociado dos valores que vão reger o futuro do mundo. A Fifa caminha para se isolar da sociedade, e isto significa dizer não só de boa parte de seu público potencial, mas também (e para eles isso é mais importante) dos seus patrocinadores.
O episódio desta segunda-feira (21), em que a entidade proíbiu e ameaçou com punições severas as seleções que queriam usar uma mensagem contra a homofobia nas braçadeiras de seus capitães, não foi só mais um ponto de desgaste da imagem da entidade. Isto iniciou um processo de questionamento político das federações nacionais.
O presidente da federação alemã, Bernd Neuendorf, deu o tom que foi seguido por outros países europeus: vai reavaliar sua relação com a Fifa. Outras entidades se manifestaram, como a federação holandesa, que emitiu nota dizendo que se sente profundamente desapontada e que a decisão é completamente contra o espírito do esporte, que une milhões de pessoas.
A oposição de alguns países europeus pode não ser suficiente para tirar Infantino do poder. O jogo político na Fifa envolve dezenas de países africanos e asiáticos que não demonstraram qualquer revolta com o ocorrido.
Mas o castelo de tranquilidade de Infantino começa a rachar. E isso se dá através da opinião pública. O que a Fifa tem feito nesta Copa desde a eleição da sua sede, há 12 anos, piora a cada dia a imagem da entidade que parece estar perdendo o ‘bonde da história’. E Infantino não tem mais moral para recolocá-la nos trilhos.

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