Sem tanta pressão, Lula pode se dedicar agora a montar seu time com calma – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ricardo Kotscho, 72, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Colunista do UOL
21/11/2022 16h34
Veio em boa hora essa parada técnica para Lula poupar a garganta. Com a recomendação médica para ficar uma semana sem fazer discursos, o presidente eleito poderá agora se dedicar com mais calma às costuras necessárias com a sua frente cada vez mais ampla para montar seu ministério e definir as principais políticas de governo, principalmente na área econômica, para amansar o mercado e as almas mais ansiosas.
Sem tantas entrevistas e declarações, não poderão atribuir a ele o sobe e desce da Bolsa e do dólar, que faz a alegria dos especuladores e dos editorialistas da grande imprensa, sempre em busca de um deslize do petista para cobrar dele o nome do ministro da Fazenda e compromissos que ele não assumiu na campanha. .

Quem sabe esses setores passem a se preocupar mais então com as bandalhas do bolsonarismo em seus estertores de fim de feira, que continua investindo em atos golpistas e na confusão, para tentar melar as eleições e impedir a posse do presidente eleito.
Pode parecer inacreditável, mas três semanas após a proclamação dos resultados pelo Tribunal Superior Eleitoral, ainda é grande o contingente de brasileiros de todas as latitudes que, simplesmente, e sem apresentar um motivo, não aceita o veredito das urnas e pede intervenção militar.
Calado no autoexílio que se impôs no Alvorada, o presidente derrotado está só à espreita de um fato novo para voltar a atazanar a vida dos brasileiros, como fez nos seus quase quatro anos de mandato, que deixaram uma massa falida para o sucessor.
É nesse clima ainda beligerante que o presidente eleito precisa juntar os cacos para montar um governo de coalizão e de reconstrução nacional. Talvez seja melhor mesmo que Lula reserve sua voz apenas para conversas com aliados dos partidos políticos e da sociedade civil, com aqueles que estão realmente interessados em colaborar a pacificar o país, e não em provar que têm razão, para impor políticas derrotadas na recente eleição.
Me impressiona a quantidade e a arrogância de colegas da imprensa, empresários, cientistas políticos, economistas e afins que querem determinar o que Lula deve ou não fazer, e quem ele deve indicar para os ministérios, como se fosse um político neófito no grande desafio de comandar um país em ruinas, e não tivesse sido eleito com mais de 60 milhões de votos, depois de deixar o governo no final de 2010, com 87% de aprovação popular. .
Basta pegar a cobertura de toda a imprensa internacional na semana passada sobre a participação de Lula na COP-27, aclamado como um estadista de volta ao proscênio, e comparar com a má vontade do que se escreveu e comentou por aqui sobre esse início de governo que ainda nem começou.
Nem em 2002, quando Lula ainda era visto com desconfiança, porque pela primeira vez na história o poder no Brasil mudava de mãos, ainda mais para as mãos de um operário nordestino, sem diploma e que não falava inglês, líder de um partido de esquerda, criado de baixo para cima, vi coisa igual. Foram respeitados os 100 dias de praxe para que o novo governo pudesse tomar pé da situação.
Agora, ainda faltam 40 dias para a posse, e já se cobra de Lula que mude as prioridades de seu governo, para atender aos donos do poder econômico, que em sua maioria apoiaram o adversário derrotado. Faz sentido isso?
Nas conversas sem discursos que vai ter nestes dias de trégua, penso que Lula poderia reservar um tempo para conversar também com os empresários da mídia, para ouvi-los e apresentar seus planos e argumentos, detalhar o que está em jogo neste momento, e pedir a colaboração deles no grande desafio de pacificar o país. Por que não?
Estamos, afinal, todos no mesmo barco, deixado à deriva pelo bolsonarismo galopante, que não quer largar o osso. Quanto antes a gente virar essa página triste da nossa história, melhor para todos. Aos 77 anos, vindo de onde veio, e tendo passado por tudo que passou, Lula não quer ter razão. Só quer ver o Brasil feliz de novo. Não lhe queiram mal. Foi uma sorte nossa ele ainda estar vivo para enfrentar essa bucha.
Vida que segue.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Ricardo Kotscho
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