Edinho defende chamar PSDB para governo Lula e ampliar alianças contra 'valores nazistas' – UOL

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Um dos coordenadores da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), afirma que o petista obteve uma vitória eleitoral, mas não política diante do resultado acirrado das urnas e dos atos antidemocráticos que seguem em curso pelo país.
Para derrotar valores que considera “nazistas” e garantir a governabilidade, ele prega a ampliação do arco de alianças e defende chamar inclusive o PSDB a participar do governo Lula.
“Estamos vivendo num país onde o presidente Lula obteve uma belíssima vitória eleitoral [com 50,9% dos votos], mas, de outro lado, tem um adversário com 49% de votos. Um adversário que infelizmente aglutinou em torno dele valores que flertam com o nazismo, que flertam com o autoritarismo”, afirma.
Integrante da equipe de transição, ele diz ainda que o mercado reagiu de modo irracional a declarações de Lula e que o presidente eleito não pode montar a equipe em função de “pressões”.
O senhor vem propondo uma pacificação, mas os apoiadores de Bolsonaro continuam alimentando atos antidemocráticos. Ainda há ambiente para essa foto do Lula com Bolsonaro? No Brasil democrático, que queremos acreditar que esteja construindo a sua democracia, um encontro entre o presidente eleito e o empossado é uma imagem natural. Isso aconteceu com Fernando Henrique Cardoso e Lula em 2003. O triste é sabermos que o Brasil seja incapaz, em pleno século 21, de construir uma imagem de transição madura e responsável.
Uma parte do Brasil ainda não desmontou o palanque, mantém um tom de discurso político como se estivéssemos na disputa eleitoral. É claro que isso não facilita a estabilidade democrática, não facilita a construção da paz social que queremos, que é um ambiente desejado por todos para que o presidente Lula tome posse no dia 1º de janeiro.
O general Villas Bôas defendeu atos antidemocráticos nas redes sociais. O senhor acha que existe risco à posse de Lula? O general integra o núcleo central do governo Bolsonaro e certamente está falando como integrante de um governo que sofreu uma derrota. Após manifestar suas opiniões, tanto o governo eleito, como o governo empossado têm que construir as condições para que a transição e a transmissão do cargo se deem dentro da normalidade. Penso que é necessário o Brasil desmontar o palanque eleitoral.
Fazer ato não tem problema. Agora, dizer que a eleição brasileira não foi reconhecida, aí tem problema, tem ilegalidade. Ter atos que afrontam a democracia, as instituições, atos financiados por interesses econômicos, aí para mim também tem problema. Quando a gente fala Forças Armadas, estamos falando de algo muito maior. Na minha avaliação, a imensa maioria das Forças Armadas sabe disso e se posiciona corretamente.
O que deve ser feito para combater essas ilegalidades? Penso que ilegalidade se combate com legalidade. Várias medidas têm sido tomadas nesse sentido pelo Judiciário. Não contra, na minha avaliação, o direito de manifestação e, sim, contra o incentivo ou a propagação da ilegalidade.
Uma parte de aliados de Lula e do Judiciário aponta como solução o presidente eleito anunciar já quem vai ser o ministro da Defesa. Isso é necessário? Não penso que o presidente Lula tenha que anunciar ministros em função de pressões. Os ministros têm que ser anunciados em decorrência de uma construção política que Lula está fazendo e vai fazer. Uma construção que represente uma maioria parlamentar, uma representação política que represente esse amplo movimento democrático que o elegeu.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que o primeiro ministro a ser anunciado deveria ser o da Fazenda para evitar “ruídos” com o mercado. Concorda? Entendo a manifestação da senadora, que foi uma figura extremamente importante na nossa campanha. Suas posições precisam ser valorizadas, ouvidas. O que eu penso é que temos que trazer novamente o debate para a luz da legalidade.
Tivemos uma turbulência nos mercados de capitais em decorrência de pura especulação. O mercado se moveu sofrendo por antecipação de algo que jamais vai existir, um governo liderado pelo presidente Lula que não se norteie pela responsabilidade fiscal.
Lula deveria calibrar o discurso para evitar turbulência dos investidores? [Na semana passada] Lula fez uma fala de quem se emociona com a fome do povo e acabou gerando interpretações extremamente equivocadas. Sabemos quem é o presidente Lula, sabemos como ele governou o Brasil de 2003 a 2010. Temos hoje uma situação fiscal grave. Temos um rombo, numa conta rasa, de aproximadamente R$ 100 bilhões, gerado por gastança absurda do governo Bolsonaro num esforço, que eu caracterizo, de compra de votos institucional. Ali se gerou um rombo.
O que a transição está fazendo, e que é benéfico, é dar transparência a esse rombo existente. É disso que estamos falando, de um rombo herdado.

Petistas dizem que o mercado não reagiu com Bolsonaro à mesma altura que está reagindo agora. Concorda com essa avaliação? Eu tenho dito que o mercado já tinha precificado esse rombo. Então, se o mercado precificou um rombo existente e nem por isso as bolsas caíram e os mercados estiveram em turbulência, por que agora, quando um governo que vai assumir reconhece, dá publicidade, dá transparência, o mercado vai reagir? Há essa contradição.
Como garantir a aprovação da PEC da Transição sem que integrantes do centrão ou outros partidos coloquem medidas de interesse próprio? Estamos vivendo um momento politicamente grave. Nós precisamos construir a dissolução desse ambiente.
Isso pressupõe um acordo com o centrão? O que acha da proposta do Lula de não se envolver na sucessão da Câmara e do Senado? A eleição das Casas é a eleição do Legislativo. O Executivo não deve se intrometer. Não há bom histórico quando o Executivo se intromete. Cabe ao PT ter uma bancada de parlamentares extremamente responsáveis, lideranças comprometidas, que certamente vão saber construir a melhor tática.
Segundo, temos que dialogar com todo mundo que quer dialogar. Estamos vivendo num país onde o presidente Lula obteve uma belíssima vitória eleitoral, mas, de outro lado, tem um adversário com 49% de votos. Um adversário que infelizmente aglutinou em torno dele valores que flertam com o nazismo, que flertam com o autoritarismo.
Obtivemos uma vitória eleitoral, mas ainda não obtivemos uma vitória política, derrotando politicamente esses valores nazistas e alguns dos valores, inclusive, inspirados no fascismo. Então, temos que construir um arco de alianças que dê condições para que Lula efetivamente governe o Brasil e isole esses sentimentos nocivos à sociedade brasileira, ao mundo.
Nesse pacto que o senhor propõe cabem o PSDB, o MDB no governo? Partidos que vão além do arco de aliança que elegeu Lula? Defendo a construção de um arco de alianças que crie as condições para que a gente isole isso de perverso e ruim que surgiu na política brasileira nos últimos anos, que são valores norteados pelo fascismo, muitas vezes posições inclusive de inspiração nazista. Isso precisa ser isolado imediatamente da sociedade.
O PSD deveria participar do governo? Acho que tem que participar do governo. Nós tivemos apoio do PSD em diversos estados. MDB é a mesma coisa. A senadora Simone Tebet foi muito importante para nós no segundo turno, eu vejo com naturalidade a participação desses dois partidos.
PSDB também poderia vir a ser convidado? Não tenho nenhuma dúvida que o PSDB deveria ser convidado.
O senhor acha que é preciso dialogar com o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro? Tem que dialogar com quem quiser dialogar.
Concorda com Lula quando ele diz que o bolsonarismo não vai acabar? Se nós identificarmos o bolsonarismo como essa coisa de inspiração fascista, não tenho dúvida. Se identificarmos o bolsonarismo muitas vezes com essa metodologia de comunicação que é inspirada no nazismo, penso que a derrota eleitoral do Bolsonaro não significa a derrota política disso. Muito menos de uma parte menos radicalizada, mas que também se inspirou nisso.
Derrota eleitoral é uma coisa, derrota política é outra coisa. Temos que construir maioria na sociedade para que haja derrota política de tudo isso que o Brasil viveu.
O senhor foi nomeado agora a integrar a transição. Entre as nomeações feitas até agora para os grupos de trabalho, menos da metade é de mulheres. Como viabilizar na prática a paridade de gênero, maior representação de pessoas negras, não só na transição, mas também no governo? Ninguém tenha dúvida porque ouvi isso do presidente Lula, não uma vez, nem duas vezes. A transição não tem absolutamente nada a ver com o governo.
Se convidado a integrar o governo Lula, o senhor deixaria a Prefeitura de Araraquara? Difícil, eu iria pensar muito.
Nasceu em Pontes Gestal, interior de São Paulo, e mudou-se para Araraquara aos quatro anos de idade. Formado em ciências sociais pela Unesp (Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho), tem mestrado em engenharia de produção na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Prefeito de Araraquara pela quarta vez, foi vereador, deputado estadual e ministro-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) de Dilma Rousseff (PT). Em 2022, foi um dos coordenadores de comunicação da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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