Fernando da Silveira – A cegueira da paixão política – Terceira Via Terceira Via – Terceira Via
“Acho que todo partido bolchevique é necessariamente imbecil”. – Jean-Paul Sartre.
Ao gozar alguns instantes de tranquilidade, na minha modesta biblioteca, lá encontrei o livro “A Esperança Agora”, de Benny Lévy. A obra reúne as entrevistas concedidas pelo filósofo Jean-Paul Sartre, que, no Brasil, foi publicada pela Editora Nova Fronteira. E é exatamente na página 25, da edição brasileira deste livro de Benny Levy, que inicialmente me deparei abismado com a polêmica afirmação de Sartre: “Acho que todo partido é necessariamente imbecil”. Mais tarde descobri que Sartre só atacou as agremiações do comunismo. Isso fica bem claro no seu livro “As mãos sujas”, quando ele nos diz não ter aguentado a imbecilidade bolchevique. Apenas suportando o comunismo durante dois anos.
Sartre, ao criticar os canalhas, estava por inteiro o homem que, nos seus verdes anos, escreveu “A Náusea”, impiedosa crítica à condição humana. E que a repetiu às vésperas da morte, com os seus 75 anos. Tal desabafo aconteceu ao demonstrar dois ou três meses antes do seu óbito, ocorrido em 15 de abril de 1980, que a fidelidade partidária diante de certos absurdos evidentes e criminosos dos que comandam os agrupamentos de pessoas unidas pelos seus interesses, causa vômitos aos que ainda são capazes de se indignar com a maldade humana.
Obviamente, o seu desabafo diante do lado tenebroso do ser humano suscitou a revolta dos patifes. Daí um jornalista francês, revoltado com as homenagens que Sartre recebeu ao morrer, não ter titubeado em colocar como manchete do seu jornal: “Não se homenageia um crápula”. Mas ocorreram fortes réplicas demonstrando a grande estatura moral de Sartre ao nos encantar com o seu aplaudido livro “A Náusea”. Além de ser reconhecido mundialmente pela sua condição de intelectual do naipe de Voltaire, de Zola e de Victor Hugo. Por outro turno, foram apresentadas em sua defesa o fato inconteste de que todas as censuras levadas a efeito por Sartre eram alicerçadas com provas, como no caso da crítica que ele fez do comunista francês Romain Rolland. Comuna que, estando na União Soviética, em 1930, não foi capaz nem de ver o horror que lá estava acontecendo. Sobretudo, os constantes assassinatos diante dos que concordavam cinicamente com a matança dos seus adversários políticos.
Sendo bom ressaltar que, ao voltar para a França, Romain Rolland cinicamente chegou ao cúmulo de afirmar ter se encantado, na União Soviética, com “uma notável ampliação dos direitos do espírito humano”! Quando ele certamente divisou bem perto do seu nariz o quadro patético da coletivização forçada e do massacre de milhares de camponeses russos! Sim, como é cruel o partidarismo de certos comunistas. Vejo nele o horror dos horrores.
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