Nos seus dias, a justiça florirá – Jornal O São Paulo
A liturgia deste 2º Domingo do Advento nos ilumina e nos ajuda a caminhar, construindo um futuro bom. No caminho, se, de um lado, encontramos gente poderosa se achando dona do mundo, fazendo estragos que geram morte; de outro lado, encontramos muitos sinais de vida gestada por gente humilde, buscando fazer deste mundo um lugar bom para viver, lugar do sonho de Deus.
O profeta Isaías, escrevendo de forma poética, nos fala de um sonho em que, do tronco de Jessé surgiria um broto e do broto uma flor – o Messias –, e sobre ele repousaria o espírito do Senhor. Ele não julgaria pelas aparências, traria justiça aos homens humildes e pacíficos e destruiria o mau com o sopro dos seus lábios. Ele restauraria o paraíso perdido, e nele toda a criação se reconciliaria: o lobo com o cordeiro, o leopardo com o cabrito, o bezerro com o leão, a vaca com o urso e a criança brincaria com a serpente. Aqueles que antes se atacavam e se devoravam agora caminharão juntos sem nenhum perigo, e o principal de tudo: serão conduzidos por um menino. É o que nos ensina o Salmo 71, que diz: “Nos seus dias, a justiça florirá e grande paz, até que a lua perca o brilho! Libertará o indigente que suplica e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente e do infeliz e a vida do humilde salvará”.
Em tempo de ofensas, hostilidades, agressões verbais e físicas com o uso indevido e mentiroso da Palavra de Deus, é preciso voltar às fontes e acolher o sonho de Deus. Aí poderemos cantar com todas as forças pulmonares: “Do tronco da vida, mesmo ferida, surge uma flor rindo da dor”.
E, quando o sonho está por se realizar, surge João Batista no deserto, pregando a conversão porque o tempo se cumpriu e o Reino dos Céus se aproxima. Com seu jeito de ser, denuncia uma sociedade marcada pela aparência e superficialidade. Quando as pessoas o procuravam para o batismo, percebia que algumas eram fingidas e não queriam mudanças. João não amaciava nas palavras e chamava de cobras venenosas as que queriam o batismo, mas não aceitavam fazer as mudanças necessárias. Ainda mais, com imagens fortes, retiradas do mundo agrícola – machado para cortar árvore que não der fruto bom e garfo para separar o grão da palha do trigo – mostrava que não bastava ser da linhagem de Abraão, mas era preciso produzir frutos de conversão.
Escrevendo aos Romanos, Paulo faz uma proposta de conversão a uma comunidade muito dividida. Certa rivalidade foi sendo construída, e dois grupos começaram a se enfrentar. Um acusava o outro por ser muito relaxado e o outro por ser muito rigoroso e atrasado. Paulo procura iluminar este ambiente conflituoso mostrando que todos precisavam se converter de tal modo que houvesse “concórdia uns com os outros”, bem como, acolhida “acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu”.
Estamos no Advento, tempo especial de se deixar modelar pela Palavra que hoje nos chama à conversão. Tendo concluído o sínodo arquidiocesano, o grande desafio para que possamos avançar e colocar em prática o que escrevemos no papel é perceber que cada um de nós precisa fazer mudanças (converte-se), para caminharmos na unidade, renovando o que for necessário.
O sonho da criação reconciliada profetizada por Isaías, a proposta de uma convivência harmoniosa e acolhedora dita pelo apóstolo Paulo e o desafio de conversão proposto por São João Batista é o que precisamos alimentar para celebrar bem o Natal do Senhor. Faz bem fazer uma boa Confissão e se reunir com outras pessoas para realizar a novena de Natal. Se a preparação for boa, poderemos continuar rezando e meditando até a Epifania do Senhor. O livro da nossa novena tem um singelo roteiro para celebrarmos estes dias jubilosos.
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