O prazer das perguntas óbvias sobre futebol | Tânia Alves | OPOVO+ – O POVO

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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
Neste tempo esquisito de Copa do Mundo no Catar, em que o verde-amarelo da seleção brasileira se confunde com o vermelho do Natal, tenho pensado em como o futebol pode ser de todo mundo por um período. Tenho matutado como os boleiros de todos os dias, que estão ali no Campeonato Cearense, Brasileirão, campeonatos europeus, Libertadores, Liga dos Campeões, despejam ciúmes sobre aqueles que chegam somente para fazer festa pela vitória do Brasil durante o Mundial de Futebol.
Dos que amam futebol todos os dias, não entendo a falta de ‘abraço’ quando os novatos se engajam aos montes para jogo do Brasil na Copa, ficam apaixonados pelas jogadas mágicas, querem aprender os nomes de cada atleta, começam a seguir os craques nas redes sociais e a dar palpites sobre o gol mais bonito do momento ou até mesmo discursando sobre beleza dos jogadores.
Como vivem isso quase todos os dias do ano, parece que têm receio em dividir. Gosto deste clima trazido pelos que chegam somente de quatro em quatro anos, que se enfeitam de verde e amarelo para se juntar aos iniciados, que ficam meio rabugentos e sem paciência para explicar por que o gol de Vini Júnior contra a Suíça foi anulado por impedimento. Vale lembrar que a explicação para esta pergunta não é assim tão fácil. Até mesmo para quem vive futebol todos os fins de semana.
Estas pessoas que chegam só para ver o Brasil jogar a Copa também fazem a diferença nas memórias que ficam de cada jogo disputado. Como a lembrança que trago da sala lá de casa cheia de primos sentados no chão defronte à TV. Meu pai, em raro momento fechando a bodega por duas horas, ficava com a gente balançando as pernas e dando o palpite dele, especialmente se o jogador era do Vasco da Gama.
Minha mãe por ali, na cadeira de balanço, fazendo ponto de cruz ou debulhando feijão, torcendo pelo gol, com pena das pancadas nas pernas dos jogadores (Ela ficaria do lado de Neymar, que apanha demais), mas se recusando a rezar para que o Brasil trouxesse a taça. “Era só um jogo”, dizia. O meu coração palpitando forte, a pele esquentando como febre pela emoção até que o gol fosse marcado.
Foi por tempos assim que aprendi a gostar de futebol, acompanhar os jogadores e começar profissionalmente pela editoria de Esportes. Hoje sou mais daquelas que chegam de supetão para a Copa do Mundo, para a final do Campeonato Cearense ou Brasileirão. Porém, a emoção com as bandeirinhas enfeitando as ruas de verde e amarelo continua a mesma, assim como permanece o prazer de observar as luzes que iluminam as árvores no Natal.
Nesta época de Mundial, agradeço aos boleiros que têm paciência em responder às minhas perguntas óbvias sobre os jogadores. Porque a Copa também é nossa.

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