Com Brasileirão das SAFs em 2023, Série A promete aumento de competitividade – Máquina do Esporte

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A definição dos 20 clubes que disputarão o Campeonato Brasileiro de 2023, com seis deles sendo geridos pelo modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), mostra que a Série A do ano que vem promete uma competitividade mais alta.
Botafogo, Red Bull Bragantino e Cuiabá terão a companhia de Cruzeiro, Vasco e Bahia, que conquistaram o acesso na Série B. Com clubes grandes de volta à elite e com investimentos, a competição promete ser mais acirrada.
“São modelos relativamente diferentes da SAF, mas que irão aumentar a dificuldade desse Brasileirão. São clubes grandes subindo, mais capitalizados, e sabemos da correlação muito próxima entre investimento e colocação no campeonato”, analisou Claudio Pracownik, sócio e CEO da Win The Game, joint venture criada com o BTG Pactual, que tem atuado como consultora de gestão e governança de clubes e em projetos de implementação de SAFs.
“O mundo vai ficar mais difícil para associações superendividadas e incapazes de fazer gestão de longo prazo”, opinou Leonardo Coelho, sócio-diretor da A&M Brasil e líder da A&M Sportainment, vertical de esporte e entretenimento.
O executivo refere-se a times como São Paulo e Santos, que podem enfrentar dificuldades em um campeonato em que muitas equipes já tenham tido recuperação financeira plena ao passarem pela transformação para SAF.
Para os especialistas, cada clube implantou seu próprio modelo de SAF, de acordo com as especificidades e situação financeira vividas por cada um.
“O Cruzeiro não conta com os investimentos de outras SAFs, mas aposta no profissionalismo e na expertise profunda em relação ao mercado do futebol brasileiro, coisa que o Gabriel [Lima, CEO do Cruzeiro] e o Ronaldo [Nazário, dono da SAF do clube] trazem”
“Estão menos capitalizados que os demais, mas têm muito profissionalismo, competência na gestão e conhecimento do nosso mercado. Isso o Cruzeiro mostrou no desempenho na Série B”, completou o executivo, referindo-se à conquista do título.
O Vasco segue outro caminho. O time realizou a venda de 70% da SAF para a 777, que promete grandes investimentos no clube, mas pode sofrer com o desconhecimento do mercado em que atuará.
“É um clube de grande torcida. É o clube mais nacional desse grupo, mas o investidor tem menos experiência no mercado brasileiro. Vão estar debutando aqui. Mas contrataram profissionais qualificados. O modelo de investimento é buscar retorno”, disse Pracownik.
O Botafogo, apesar de também ter um dono americano, segue outra estratégia que inicialmente foi de investir bastante na qualificação do elenco para buscar algum retorno no futuro.
“O Botafogo tem ações mais personalizadas, uma equipe competente e uma gestão agressiva [no mercado]. Ele é um barão de mídia, vai trabalhar bem os direitos de transmissão e será um nome importante no tema no âmbito da formação da liga brasileira”, afirmou Pracownik.
O executivo vê o Bahia como um integrante de uma cadeia importante dentro da principal multinacional de clubes do mundo, o Grupo City.
“Há um menor compromisso de investimentos no curto prazo, mas o clube vai receber maior tecnologia de administração. Vai ser interessante a contribuição que o Grupo City vai trazer na gestão esportiva no Brasil”, apontou.
Para o Brasileirão 2023, porém, ninguém espere que os clubes que se tornaram SAF tenham capacidade de disputar o título. A expectativa é que os clubes que têm dominado o futebol brasileiro, casos de Flamengo e Palmeiras, continuem como os favoritos ao título.
Mesmo quem tiver investidores fortes, como Vasco (777 Partners) ou Bahia (City Football Group), não devem montar elencos que sejam capazes de disputar o troféu do Campeonato Brasileiro.
“Não espere que entre um caminhão de dinheiro nesses clubes. Ninguém vai ter um orçamento igual ao do Flamengo. São clubes que vão brigar pelo 4º ao 12º lugar. Mas não terão risco de rebaixamento”
Foi algo já experimentado pelo Botafogo no Brasileirão 2022. O time alvinegro, que havia subido da Série B, esteve longe de ameaçar os líderes da tabela, mas também não lutou contra o rebaixamento, papel a que havia sido relegado nos últimos anos.
“Para a SAF, mais importante do que estabelecer uma boa relação com os torcedores, é ser transparente no discurso”, comentou o executivo da A&M.
Coelho ainda lembrou que John Textor, dono da SAF do Botafogo, sofreu pressão, durante o Campeonato Brasileiro, para demitir o técnico Luís Castro. O investidor americano bancou a manutenção do treinador, e o clube se recuperou na competição.
“Uma demissão geraria impacto financeiro, pagamento de multa e instabilidade no elenco. O modelo da SAF mais seguro é mais conservador, que constrói reputação pelos resultados, não pelas contratações”, analisou.
“Você já vê jogadores almejando jogar no Botafogo, algo que era impensável há poucos anos. A gestão começa a resgatar credibilidade do clube”, completou.
Para Pracownik, a implantação da SAF é um caminho sem volta. Em seus primórdios, a nova lei atraiu equipes endividadas e que tinham necessidade de arrebatar rapidamente investimentos como forma de manutenção de sua capacidade competitiva.
Clubes bem estruturados financeiramente, como Flamengo e Palmeiras, têm condição de esperar que tipo de gestão pretendem adotar no futuro. Poderão optar pela criação da SAF de maneira mais vagarosa, com muito debate interno antes da tomada de decisão. No entanto, mesmo esses times terão que olhar o mercado no futuro, se quiserem continuar competindo.
“Acredito que, no futuro, nenhum clube poderá prescindir de capital privado. Só que um clube pode fazer isso de diversas formas, não necessariamente optando pela SAF. Pode abrir outra empresa, capitalizando com parte dos ativos do futebol. Foi o que o Barcelona fez com o Barça Studios”, resumiu Pracownik.

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