Águas da Bahia dão o tom à narrativa seca do filme Sol – Jornal Correio

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As águas  que existem na Bahia foram fundamentais para que o Sol nascesse. O filme dirigido por Lô Politi, diretora de produções como Alvorada, Jonas e Meu Nome é Gal (que deve ser lançado no primeiro semestre do ano que vem), tem no território baiano o marco fundamental para contar as histórias de um homem de poucas palavras que tenta reatar uma série de conexões de sua vida.
Theo, vivido por Rômulo Braga, tenta se reconectar com  a filha  Duda, interpretada por Malu Landim em  sua estreia no cinema, e com o pai Theodoro, que passa por quadro delicado de saúde em Curaçá, no sertão baiano. 
Desse reencontro, feridas mal-resolvidas do passado reemergem, e pai e filho precisam acertar essas contas. A narrativa passeia por rios em Cachoeira e Curaçá, além de praias de Salvador, que são fundamentais para fazer recortes temporais e psicológicos nas vidas dos personagens. Entre eles, um novo elemento: a pequena Duda, uma menina esperta que se apega ao avô e, por meio desse novo laço, pode aproximá-lo de seu pai, um homem calado e distante. 

“Rodamos em Salvador, Curaçá, ali perto de Petrolina, no sertão, e em Cachoeira. O personagem do velho Teodoro, pai do Theo, queria que fosse num lugar bem árido, que ele tivesse sumido no mundo e fosse para um lugar distante de Theo. Já filmei muito aqui e conheço essa região com câmera, aquilo está impregnado em mim e sempre quis que fosse por ali o lugar dele”, explica a diretora, que está em Salvador para a pré-estreia do filme nesta quarta-feira (7), às 19h, no Cine Metha Glauber Rocha, em evento para convidados. Amanhã a produção ganha as telonas de todo o país, com distribuição da Paris Filmes.   
No enredo, Theo passa um ano sem ver Duda. O personagem interpretado por Rômulo Braga rendeu premiações ao filme. A última delas foi no Festival do Rio, quando Rômulo venceu o prêmio de melhor atuação. Ele também ganhou como melhor ator no BRICS Film Festival, na China, e no Inffnito Film Festival, em Miami.
“Me interesso por investigar o comportamento masculino pelo olhar feminino. Essa coisa dos homens soterrarem bastante emoções, conflitos mais internos, como eles lidam com mulheres no dia a dia de suas vidas”, detalha Lô, antes de recordar que a ideia do filme vem de um livro que conta a história da relação entre pai e filho após o nascimento de um neto, que se torna um elo de ligação entre os dois.
Em Sol, o reencontro de Theo e Theodoro traz feridas do passado e os dois começam a tentar um acerto de contas. A partir desse drama familiar, a diretora, que também assina o roteiro do filme, se esforçou para contar uma história que traz delicadeza e poesia no perdão. Theo, por exemplo, é um personagem silencioso, e isso foi um grande desafio para ela.
Lô diz que encontrou em Rômulo o ator ideal para o papel do protagonista. “Rômulo traz naturalmente uma introspecção que é poderosa. Ele dá ao personagem a natureza dos conflitos internos e a gente entende isso, entende os motivos do personagem. Sem contar que a troca dele com o Everaldo e com a Malu foi incrível. Ele foi estabelecendo uma relação com eles muito interessante, pois também precisava se isolar, para o bem da história, e se aproximava na hora certa. Ele tem uma inteligência muito rara”, elogia.
Segundo a diretora, a participação do ator no filme é intensa e quase sem respiros. “Theo sempre está na trama, seguindo a câmera. Por isso, ele esteve no set em todos os dias de gravação. Nesse sentido, o processo foi interessante porque, em um certo momento, eu passei a sentir que eu já não tinha mais o controle de atuação”, conta. 
Depois de um processo tão intenso, Lô afirma que fazer a pré-estreia em Salvador é uma maneira de agradecer ao Estado pelas experiências vividas nos sets de gravação. O filme de roteiro seco é daqueles com o poder de entregar lágrimas e fazer repensar maneiras para lidar com a dureza de processos impostos pela vida e pelos relacionamentos.
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