Após recorde no 1º mandato, Lula volta a bombar agenda internacional – Metrópoles

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10/12/2022 2:00, atualizado 09/12/2022 22:21
Recordista entre ex-presidentes em viagens ao exterior, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve iniciar o terceiro governo com agenda internacional intensificada. Já em janeiro, Lula tem prevista viagem aos Estados Unidos para ficar frente a frente com o presidente norte-americano, Joe Biden. O compromisso, que deverá ser um dos primeiros do petista em 2023, não encontrou espaço para ocorrer neste ano, durante o período da transição.
Os dois líderes devem tratar de desafios comuns às duas nações, como combate à mudança climática, garantia da segurança alimentar, promoção da inclusão e da democracia e questão migratória.
O petista fez duas viagens internacionais ainda em novembro como presidente eleito: para o Egito, durante a 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 27; e Portugal, para encontro com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Mesmo com a diplomação prevista para 12 de dezembro, Lula deve mesmo deixar para o ano que vem as próximas agendas internacionais.
A política externa de Lula no período de 2003 a 2010 ficou marcada por protagonismo do Brasil em um momento de boom das commodities, além do fortalecimento dos laços com países vizinhos da América Latina e da África.
Agora, Lula pretende retomar o “soft power” (quando um país exerce influência sobre outro para além do poderio militar e econômico) brasileiro, principalmente por meio da Amazônia e das questões climáticas.
Em 2003, o petista fez 33 viagens ao exterior, distribuídas por todos os continentes, mas com foco em países da Europa e da África. Lula aproveitou a afinidade histórica que aproximava o Brasil do continente africano para aprofundar as relações bilaterais com países daquele continente.
No primeiro ano do segundo mandato, em 2007, Lula fez 37 viagens ao exterior, sendo a maioria visitas a chefes de Estado. Para comparação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) — que acabou prejudicado pelas restrições impostas pela pandemia da Covid-19 — viajou ao exterior majoritariamente para eventos protocolares, isto é, para participar de solenidades como as Cúpulas do Mercosul e do G20.
As visitas de Estado de Bolsonaro concentraram-se em nações governadas por conservadores alinhados à sua agenda pessoal e trouxeram pouco retorno ao Brasil em termos de acordos ou parcerias de negócios.
Ao longo da campanha de 2022, Lula afirmou que pretende recolocar o Brasil no “centro da geopolítica mundial”.  No entanto, o cenário encontrado agora é bastante distante daquele de 20 anos atrás. Enquanto em 2003 Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul (que formam o bloco Brics) despontavam como promessas, hoje há uma polarização entre duas superpotências: EUA e China.
Descolada, a Rússia foi reposicionada como principal adversária das nações europeias em razão do conflito no Leste Europeu, no contexto da guerra na Ucrânia, que já dura 10 meses. O conflito tem impacto negativo sobre a economia dos países europeus, o que traz instabilidade no mundo, respingando no Brasil.
O governo Jair Bolsonaro foi bastante turbulento em termos de diplomacia e isolou o Brasil no contexto mundial. Lula precisará lidar com os resquícios dessa política e reverter a crise diplomática, uma marca da atual gestão.
Apesar dos avanços em relação à entrada no grupo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conquistada durante o mandato de Bolsonaro, o próximo governo precisará reconstruir pontes, deixadas de lado em função de alianças conservadoras baseadas mais em interesses ideológicos e menos em questões pragmáticas.
Na lista de “apertos diplomáticos” criados nos últimos quatro anos, constam a saia-justa na relação bilateral com Joe Biden, após a demora de 38 dias para Bolsonaro reconhecer sua eleição e a sugestão de fraude na eleição americana; os ataques pessoais ao presidente da França e à esposa dele, após discordâncias sobre a Floresta Amazônica; e o desconforto com a Alemanha em relação ao Fundo Amazônia.
Bolsonaro também instaurou um ambiente de tensão ao rivalizar com presidentes da Venezuela, Chile e Argentina. Deste lado do Atlântico, o Brasil negligenciou o protagonismo na América do Sul, situação que deve mudar sob a gestão do presidente eleito. Inclusive, com o retorno da ideia dos arranjos regionais, deixados de lado.
A expectativa no cenário internacional é de que a maior economia da América Latina retome a posição de protagonista e participe das grandes decisões internacionais, com o fortalecimento das relações multilaterais entre todas as nações da região em termos de diplomacia.
A cerimônia de posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023, deverá contar com a presença de pelo menos 12 chefes de Estado.
Confirmaram participação: os presidentes da Alemanha (Frank Walter Steinmeier), Argentina (Alberto Fernández), Angola (João Lourenço), Bolívia (Luis Arce), Cabo Verde (João Maria Neves), Costa Rica (Rodrigo Chaves), Guiné Bissau (Umaro Sissoco Embaló), Timor Leste (José Ramos-Horta), Chile (Gabriel Boric), Colômbia (Gustavo Petro), Portugal (Marcelo Rebelo de Souza); e o rei da Espanha, Felipe VI.
Segundo a futura primeira-dama Janja Lula da Silva, coordenadora dos eventos alusivos ao Festival do Futuro, como foi apelidada a festa de posse, a expectativa do Itamaraty é de que o número de autoridades presentes seja “o maior desde a redemocratização”.
Janja organiza atividades culturais à parte das solenidades oficiais, que contarão com apresentações de artistas de grande peso, como Duda Beat, Pabllo Vittar, Baiana System, Chico César e muito outros. Os eventos serão abertos ao público.
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