Com fim do governo Bolsonaro, membros do 'gabinete do ódio' buscam emprego – UOL Confere

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Juliana Dal Piva é formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e possui mestrado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas. Trabalhou nos jornais O Dia, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e revista Época. Obteve oito premiações de jornalismo. Entre elas, o Prêmio Líbero Badaró de jornalismo impresso em 2014 e também foi menção honrosa do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Em 2019, recebeu ainda o Prêmio Relatoría para la Libertad de Expresión (RELE) da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, pelo trabalho “Em 28 anos, clã Bolsonaro nomeou 102 pessoas com laços familiares”.
Colunista do UOL
11/12/2022 04h00Atualizada em 11/12/2022 15h05
Os assessores especiais do presidente Jair Bolsonaro (PL), conhecidos por integrarem o chamado “gabinete do ódio”, começaram a procurar emprego já que o fim do governo se aproxima.
Estão com destino incerto José Matheus Salles Gomes, conhecido como “Zuero”, e Mateus Diniz, chamado de “Matheuszinho”. Interlocutores do clã Bolsonaro relataram à coluna que eles estão conversando com integrantes da bancada bolsonarista para obter novos cargos. Os dois são nomes de confiança do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Até 2018, José Matheus foi assessor de Carlos na Câmara Municipal do Rio.

O único deles que vai seguir junto com Bolsonaro é Tércio Arnaud Tomaz. Ele deve ficar em um dos cargos comissionados a que os ex-presidentes têm direito. O trabalho de Tércio é acompanhar Bolsonaro diariamente, gravar vídeos e atualizar redes sociais do presidente, além de produzir memes.
Nas eleições, Tércio foi candidato a suplente da candidatura de Bruno Roberto (PL-PB) ao Senado na Paraíba. Eles obtiveram 231 mil votos e ficaram em quinto lugar.
Na lista dos que devem seguir entre os assessores de Bolsonaro ainda está Max Guilherme (PL-RJ), policial do Bope que atua como assessor de Bolsonaro. Ele chegou a disputar uma vaga para deputado federal na eleição deste ano, mas obteve 9.489 votos e não conseguiu se eleger.
Tércio é de Campina Grande, na Paraíba. Foi Carlos Bolsonaro quem o descobriu entre 2013 e 2014. Ele conquistou a proximidade junto ao clã Bolsonaro quando criou a página “Bolsonaro Opressor” no Facebook. Ele a usava para atacar, por meio de memes, os adversários do então deputado federal, além de fazer elogios a Bolsonaro. Também usou a página para atacar a vereadora Marielle Franco.
Com a vitória de Bolsonaro na eleição de 2018, ele também foi um dos primeiros a ser nomeados como assessor especial da Presidência com um salário de R$ 13,6 mil. O agora assessor presidencial não tinha experiência prévia em política. É formado em Biomedicina e trabalhou como recepcionista em um hotel. Depois que foi descoberto pelo “zero dois”, foi chamado para ser assessor dos gabinetes a partir de 2017.
Outra página administrada por ele era a “Bolsonaro Opressor 2.0²”. Em 2016, ele postou uma imagem da deputada Maria do Rosário caída como se tivesse levado um tiro e do ex-deputado Jean Wyllys, além dos ex-presidentes Lula e Dilma amarrados por camisas de força. Em seguida, escreveu: “Caso Bolsonaro seja presidente…”.
As páginas foram desativadas pelo Facebook muito tempo depois —a “Bolsonaro Opressor 2.0” chegou a ter mais de 1 milhão de seguidores. Em 2020, o Facebook e o Instagram divulgaram um relatório produzido pelo DRFLab que apontou o envolvimento de Tércio em outras páginas de ódio. Além da página “Bolsonaro Opressor 2.0”, foi identificado que a conta @bolsonaronewsss, no Instagram, era administrada por Tercio. Ela tinha 492 mil seguidores e mais de 11 mil publicações. Também foi retirada.
A página era anônima, mas as informações de registro permitiram a identificação. No relatório, os pesquisadores apontaram que a conta publicava “conteúdo era enganoso em muitos casos, empregando uma mistura de meias-verdades para chegar a conclusões falsas”. Em 2020, a página postou, por exemplo, ataques ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil), após a saída dele do governo.

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