Bolsonaro ignora caos na educação e usa rede para publicar fotos dos filhos – UOL Confere
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
07/12/2022 09h29
Enquanto o Brasil vive um drama sem precedentes na educação, sem dinheiro para livro didático, transporte escolar, merenda das crianças e até papel higiênico, o presidente Jair Bolsonaro quebra o silêncio nas redes sociais apenas para dar parabéns a seu filho, postar foto com a filha e fazer propaganda de seu LinkedIn. Sobre a falta de orçamento, nem uma palavra.
Como o vereador Carlos Bolsonaro é o responsável por controlar as redes do pai, não é desprezível a possibilidade de ele ter usado o Twitter de Jair para dar felicidades a si mesmo por seu aniversário nesta quarta (7). E considerando que “Parabéns Carlos” se tornou um dos assunto mais falados da rede, isso deve ter um efeito melhor que terapia.
Antes dessa, a postagem anterior foi de uma foto do presidente com a filha caçula, Laura, no último domingo (4), seguido de um anúncio sobre sua conta na rede social usada para, entre outras coisas, procurar emprego.
Contrastando com o estilo frenético adotado durante os últimos quatro anos, as redes abertas de Bolsonaro têm permanecido em relativo silêncio desde que ele perdeu a eleição para Lula no dia 30 de outubro. Em dezembro, foram apenas sete postagens, sendo a mais curtida uma em que ele aparece assinando um papel.
O silêncio de Jair mantém os golpistas acampados nas portas de quartéis em estado de vigília, com a certeza de que seu líder retornará em algum momento para libertar o seu povo. Um sebastianismo miliciano chapado de cloroquina e coberto de leite condensado.
Ao mesmo tempo que incentiva o golpismo, o desaparecimento público o poupa de ser formalmente acusado de incentivar esses atos – que é o que aconteceria se o velho Jair estivesse falando pelos cotovelos no cercadinho e não chorando em silêncio em eventos militares. E defender os atos golpistas elevaria as razões para ele ser processado, condenado e preso após perder o foro privilegiado no dia 31 de dezembro.
Mas o atual governo ainda não terminou, pelo contrário, segue ativo provocando danos, como na educação, na saúde, no meio ambiente.
Sem contar a falta de recursos para garantir o funcionamento de escolas e universidades ainda este ano, a equipe de transição de Lula aponta que serão necessários algo em torno de R$ 12 a 15 bilhões a mais do que Jair previu no orçamento fictício que mandou ao Congresso para que a educação cumpra o mínimo do básico em 2023.
Por isso, parlamentares correm para enfiar mais um furo do teto ainda neste ano na PEC da Transição e evitar uma hecatombe.
Tendo gasto dezenas de bilhões de recursos do país em ações que representaram tentativas de compra de votos visando à sua reeleição, que não veio, agora Bolsonaro se dedica a garantir a própria liberdade no ano que vem, além de buscar formas de se manter como liderança da oposição.
E, ao que tudo indica, as áreas mais prejudicadas por este momento são aquelas por quem ele sempre demonstrou profundo desprezo. Em outras palavras, o drama sem precedentes que a educação vive hoje não é coincidência, mas faz parte de um projeto.
Durante quatro anos, o Ministério da Educação foi usado como instrumento para a guerra cultural, tentando moldar o pensamento brasileiro à imagem e semelhança do bolsonarismo. De ataques ao Enem à precarização da pesquisa científica e perseguição de professores, houve um desmonte que levará décadas para ser corrigido.
Isso sem contar que a pasta foi envolvida em uma série de denúncias de corrupção durante o governo Jair Bolsonaro. Em março deste ano, o jornal Folha de S.Paulo divulgou áudio mostrando o então ministro Milton Ribeiro afirmando que “foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim” a demanda por acolher as necessidades do pastor Gilmar Santos e de seus “amigos” prefeitos, interessados em recursos públicos.
Santos e o pastor Arilton Moura integravam o “gabinete paralelo” montado no MEC, segundo revelou o jornal O Estado de S. Paulo. Para tanto, cobravam propina em dinheiro, bíblias e até barras de ouro. Descoberto o esquema, o ministro caiu. Mas gravações de conversas telefônicas apontam que ele continuou sendo ajudado pelo presidente, que o avisou de que a Polícia Federal estava em sua cola, atrapalhando uma investigação.
Além disso, o ministério foi usado para as necessidades de deputados do centrão. Por exemplo, municípios alagoanos com escolas precárias receberam R$ 26 milhões em emendas parlamentares para comprar kits de robótica de uma empresa de aliados de Arthur Lira, presidente da Câmara.
Não se espera de Jair Bolsonaro competência ou conhecimento para resolver os problemas que ele mesmo criou, mas a falta de pronunciamentos, até para defender as decisões que tomou até aqui é reveladora. Após quatro anos fazendo campanha por sua reeleição, quando ela acaba, fica só o silêncio mesmo.
– Parabéns por seu aniversário! Um forte abraço, Garoto! @CarlosBolsonaro pic.twitter.com/M8kyczGRIw
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Leonardo Sakamoto
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