Na COP da Biodiversidade, cacau do sul da Bahia vira exemplo – Jornal do Brasil

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Modelo de financiamento que mescla investimento público e privado permitirá alavancar R$ 13,5 milhões para levar crédito a pequenos produtores que trabalham com sistema agroflorestal que concilia cacau e árvores nativas da Mata Atlântica
Por JORNAL DO BRASIL
Enquanto as negociações na COP da Biodiversidade por um novo marco global para frear a perda da natureza avançam a passos lentos, diversas iniciativas de governos, empresas e sociedade civil mostram que é possível conservar ecossistemas e garantir seus benefícios. E muitas soluções mostram, também, que a conservação pode ser feita aliada a atividades produtivas que trazem resultados positivos do ponto de vista social e econômico. Um exemplo é o do cacau produzido no sul da Bahia.
O Instituto Arapyaú, que tem como um de seus focos de atuação o desenvolvimento territorial do sul da Bahia, apresentou, em Montreal, onde acontece a COP da Biodiversidade, o caso do cacau cabruca – sistema agroflorestal (SAF) no qual o cacau é plantado à sombra de árvores nativas da Mata Atlântica, como o jequitibá e o mogno.
Junto com organizações parceiras, o Instituto Arapyaú tem atuado, para promover e agregar valor a essa cadeia produtiva, por meio de pesquisa sobre a espécie, assistência técnica, fortalecimento do cooperativismo, incentivo ao desenvolvimento de um mercado de cacau de qualidade e criação de selo de indicação de origem geográfica.
“Do total de cacau produzido pelo Brasil, 65% são na Bahia, dos quais grande parte no modelo cabruca, em propriedades de pequenos agricultores e agricultores familiares. O trabalho realizado junto a eles trouxe maior produtividade e, consequentemente, maior renda”, afirma Thais Ferraz, diretora do Instituto Arapyaú.
Ela destaca que esse resultado veio junto com outros ganhos, em especial o ambiental. “Ao aliar produção e conservação da vegetação nativa da região, surgem benefícios como o da conservação da biodiversidade e seus serviços ecossistêmicos. O avanço nos mecanismos de pagamentos por serviços ambientais promoverão renda adicional aos produtores.”
Um aspecto fundamental é o desafio do acesso ao crédito a esses produtores, pequenos e familiares. Esse ponto foi destaque em Montreal, em evento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que abordou as iniciativas selecionadas na primeira chamada pública para um novo modelo de financiamento de projetos socioambientais do banco, o “BNDES Blended Finance”. A iniciativa de CRA Sustentável (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) do cacau no sul da Bahia, projeto pioneiro de crédito rural sustentável que tem o Arapyaú entre os apoiadores, foi selecionada em primeiro lugar no edital na categoria Bioeconomia Florestal
O blended finance é um formato híbrido de financiamento público e privado e, no desenho feito pelo BNDES, para cada R$ 1,00 colocado pelo banco, os projetos se comprometem a levantar com investidores pelo menos R$ 3,00. O pleito para o BNDES foi de R$ 4 milhões, para financiar eventuais primeiras perdas e dar assistência técnica aos beneficiados, o que permitirá alavancar mais R$ 13,5 milhões.
“Garantir o acesso ao crédito e alguma segurança para o produtor investir nesse modo de produção, principalmente no início, até ele alcançar maior sustentabilidade financeira, é fundamental para que esse modelo de produção aliado à conservação seja firmado e ampliado”, afirma Ricardo Gomes, gerente do programa Desenvolvimento Territorial do sul da Bahia, do Instituto Arapyaú.
Além do CRA Sustentável, a iniciativa também desenvolveu projeto-piloto de seguro paramétrico do cacau lastreado em créditos de carbono, que se relaciona com o Pagamento por Serviços Ambientais. “Estudos desenvolvidos para nortear uma valoração de impactos ambientais indicam que o estoque de carbono é, em média, de 66 toneladas por hectare, sendo 40% do estoque nas árvores do cacau”, afirma Gomes.
 
Sobre o Instituto Arapyaú
O Arapyaú é uma instituição privada, apartidária e sem fins lucrativos, fundada em 2008 com o objetivo de promover o diálogo e a atuação em redes para a construção coletiva de soluções sustentáveis.
Por meio da articulação e mobilização de diferentes atores, buscamos um modelo de desenvolvimento sustentável em dois territórios principais, a Amazônia e o sul da Bahia, duas potências em biodiversidade. 

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