Como a Copa do Mundo de 2022 reproduziu principais tendências e representou a evolução do futebol atual – ESPN.com.br

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Pep Guardiola mudou a forma de pensar e jogar futebol no início do século com um estilo de muita posse para criar mais chances e impedir que o adversário tivesse a bola para atacá-lo.
O tiki-taka – termo que ele odeia e garante que o Barcelona não utilizava – virou sinônimo para explicar o formato que deu certo e fez daquele Barça uma das melhores equipes da história.

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Jürgen Klopp incorporou a análise de dados para ajudar nas tomadas de decisões e trouxe o Liverpool de volta do ostracismo com o estilo Rock ‘n’ Roll para conquistar a primeira Champions League do clube em 14 anos. Um dos princípios incorporados pelo alemão foi diminuir as tentativas de longa distância e criar formas de sua equipe entrar na área adversária para finalizar, no local onde estatisticamente há mais chances de se fazer o gol.
Dois exemplos de grandes intervenções no jogo, que resultaram em times vitoriosos. Guardiola e Klopp ganharam adeptos por todo o mundo e ajudaram a moldar a forma como o jogo é disputado nos dias de hoje.

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Mas o que isso tem a ver com a Copa do Mundo de 2022? Tudo!
Os números do Mundial do Qatar reproduzem a evolução do futebol e ajudam a explicar algumas das características implementadas no mais alto nível do esporte nos últimos anos.
A Copa reflete o futebol que se joga no dia a dia. É o futebol que hoje tenta sair construindo o jogo lá de trás. Um jogo que pode ser direto, mas tem objetivos, não é aleatório. Se precisar trocar passes, troca. A bola gira, roda, até entrar num setor para criar finalização, com o objetivo de finalizar dentro da área. Vejo esse jogo fora da Copa e os números mostram isso nessa Copa também“, avalia Paulo Calçade, comentarista dos canais ESPN.
Dados do TruMedia, a ferramentas de estatísticas da ESPN, comprovam como a Copa do Mundo, que terminou neste domingo (18) com o título da Argentina, refletem esta evolução e mostram as tendências que devem ser (e já são) seguidas pelas equipes mais fortes.
Quando comparamos os números do Mundial com as últimas duas edições cinco maiores ligas do Mundo (Premier League, LaLiga, Bundesliga, Serie A e Ligue 1) vemos que o torneio do Qatar se equiparou em porcentagem de passes completos no chamado último terço do campo de ataque, algo raro, e em porcentagem de chutes a gol de dentro da área, esta pela primeira vez na história.
Na continuação do legado do Barcelona de Guardiola, a Copa de 2022 foi a quarta seguida a quebrar recordes de posse de bola e tentativas de passes em relação aos outros Mundiais – o levantamento do TruMedia conta com os números completos desde 1966.
As equipes querem a bola e tentam ficar com ela a todo custo.
Como o Liverpool de Klopp, esta foi (de longe) a edição com mais porcentagem de chutes de dentro da área. A marca foi quebrada três vezes nas últimas três Copas. O torneio de 2022 acabou como o segundo com menos gols a partir de finalizações de fora da área na história. Nada de arriscar de qualquer lugar para marcar a qualquer custo, a jogada é cada vez mais trabalhada.
“É preciso entender o que se passa no jogo. Klopp foi um que entendeu. Essa Copa do Mundo reflete um pouco disso. Equipes que trabalham melhor a bola e tentam definir no interior da área”, explica Calçade.
O Mundial quebrou diversos recordes ofensivos e defensivos e teve outras marcas expressivas quando analisamos posse de bola, forma de construir o jogo, chances na área adversária, intensidade… números que ajudam a explicar como funciona o alto nível do futebol mundial atualmente.
A marca estabelecida na Rússia foi pulverizada. A Copa de 2022 registrou 4.000 toques na bola a mais do que a edição de quatro anos atrás (veja a tabela abaixo). Ou seja, os times e seus jogadores tentam cada vez mais ações com bola, seja para manter a posse, ou criar oportunidades de perigo aos adversários.
Em números absolutos de passes, foram 63.261, muito mais do que os 59.250 a competição de 2018, que também detinha o antigo recorde. Apesar de liderar por muito em passes certos por causa da grande quantidade, a porcentagem só foi menor do que a do Mundial de 1982. Em relação aos passes tentados no último terço, da intermediária ofensiva até o gol rival, o Qatar também teve a segunda melhor marca, somente atrás de 2018.
“Como os grandes times, a Copa tenta trazer os jogadores mais técnicos. Você está num jogo, está sendo pressionado, se você tem uma equipe mais técnica, está mais preparado para suportar a pressão e manter a posse de bola. Se você tem um time que não é técnico, você vai perder a posse. Isso a gente viu na Copa. Equipes mais técnicas mantém a posse de bola por mais tempo, mesmo pressionadas“, analisa Paulo Calçade.
O comentarista ainda pondera que os feitos apareceram em uma competição decidida em um mês, num mata-mata, e que nos clubes, com uma temporada completa, é mais fácil enxergar estas tendências.
“É mais difícil de executar tudo isso, e mesmo assim a gente encontra esses elementos na Copa do Mundo. É um jogo que muitas vezes fica mais curto, de pé em pé, mais apoiado. Quer dizer que os times vão trabalhando mais a bola e não ficam num jogo aleatório, só de jogar para o lado e cruzar na área, porque você acaba desperdiçando as chances. Vejo uma Copa que tentou buscar um jogo mais bem jogado, articulado, menos aleatório”, diz.
A ideia é chutar de mais de perto, onde é mais fácil de marcar. E isso foi visto nesta Copa do Mundo. Não à toa, 35,5% das finalizações foram no alvo, o maior índice da história. Até porque tivemos 63,3% das tentativas de dentro da área, o que resultou num recorde de gols anotados do setor: 158.
Para se ter uma ideia, os últimos três Mundiais quebraram esta marca três vezes. E por muito. No Brasil em 2014, foram 52,6% dos chutes de dentro da área. Há quatro anos na Rússia, 57,2%. Enquanto isso, o número de tentativas e gols de longe vão caindo.
“Eu rejeito quando fico ouvindo ‘tem que chutar de fora da área’. Chutar de fora da área é importante, só não pode ser a única alternativa para times que não sabem jogar e não conseguem finalizar no interior dela. Chutar de fora da área pode ser apenas a revelação da sua deficiência. Não consigo entrar na área, vou chutar daqui de fora”, ponderou Calçade.
Intensidade é um termo cada vez mais comum no futebol atual. Ser intenso, como os vitoriosos times de Guardiola e Klopp foram, é pressionar o adversário, independente do setor do campo, e tentar roubar a bola rapidamente. Com a posse, não há riscos de sofrer gols. Um conceito cada vez mais aplicado no alto nível do esporte.
A intensidade é um compromisso que o futebol não vai mais largar. Quem tem, está bem e pratica. E impõe no jogo. E recupera bolas. Tanto para um time que joga em transição, em contra-ataques, que vai recuperar bolas no setor defensivo, que lhe dá todo um campo de jogo para progredir, quanto aquele time que quer subir, quer recuperar bolas no campo ofensivo para pegar a defesa na saída e desestruturada. Recuperar é fundamental”, explica o comentarista da ESPN.
Quem ficar assistindo o adversário jogar e trocar passes, está condenado. Você vê onde isso? No dia a dia nos clubes. As seleções estão aplicando aquilo que os clubes já fazem há muito tempo. Qualquer clube que se preze hoje, que queira disputar títulos, precisa pressionar e recuperar bolas. Repito: o que a gente vê na Copa é resultado do futebol que se joga fora dela. Não é o Marrocos que vai gerar uma tendência. O que o Marrocos fez, o Diego Simeone faz desde 2012 no Atlético de Madrid. A gente tem exemplos demais aí”, conclui Calçade.
Os altos números de recuperação da posse na Copa do Mundo de 2022 mostram isso. As marcas só não foram suficientes para bater as do Mundial de 1994, nos Estados Unidos. Contudo, mostraram uma preocupação não só em roubar a bola, mas em fazer isso mais perto do gol do adversário.

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