O leilão do metrô: uma vitória do povo de BH – O Tempo

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Falar sobre o metrô de Belo Horizonte chega a ser ofensivo. A última expansão desse trem foi no final do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002, duas décadas atrás. Desde então, as promessas foram tantas, e a enrolação foi tanta, que a população da capital mineira simplesmente desistiu.
Diga-se de passagem, a linha férrea tem o mesmíssimo traçado de 1894, quando a Comissão Construtora da Nova Capital resolveu mudar a sede mineira do poder político de Ouro Preto para a Cidade de Minas, depois renomeada Belo Horizonte. Isso é patético. Em 1897, quando houve nossa inauguração, Boston, nos Estados Unidos, criava o primeiro metrô do continente americano. 
Os buraquinhos espalhados pela cidade na promessa de expandir o sistema de transporte sobre trilhos já completam dez anos e são lembrados como piada.
Qualquer anúncio feito pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos, a CBTU, essa inutilidade deficitária, era visto com completo descrédito. Obviamente, sem a menor dificuldade, é possível dizer que (mais) essa estatal federal falhou (especialmente com o povo belo-horizontino).
Após essa sucessão de fracassos, muito me surpreende que exista mobilização contra a concessão do serviço. Obviamente o modelo como está não dá mais, e é hora de quem já provou que não dá conta abrir espaço para alguma alternativa. 
Agora, o momento é de comemoração. Finalmente, com muito atraso, o governo federal e o governo do Estado de Minas Gerais fizeram o leilão dos serviços de transporte metroferroviário de passageiros da região metropolitana de Belo Horizonte. 
Com o sucesso do leilão, o Estado vai conceder os serviços para que a iniciativa privada cuide não só da operação do metrô da capital mineira, mas também da modernização e ampliação da Linha 1 até a estação Novo Eldorado, em Contagem, e toda a construção da tão esperada Linha 2, do Calafate ao Barreiro. 
Sempre insisti que não dá mais para pensar as cidades como entes isolados. A vida das pessoas se dá em torno das regiões metropolitanas, e os tecidos urbanos são tão integrados que os limites entre municípios são lembrados apenas quando dão problema. 
Quem já teve que resolver um problema de licenciamento ou manutenção de vias nos limites da cidade sabe bem como é. 
Se os problemas vão além dos limites das cidades, as soluções também precisam ser construídas por mais agentes que só os do município. É por isso que defendo que a União estabeleça um modelo de incentivo, principalmente financeiro, às regiões metropolitanas que se unirem e integrarem serviços, especialmente os de mobilidade. 
No caso atual, para as obras de ampliação, construção e modernização de todo o sistema do metrô de BH, R$ 2,8 bilhões serão investidos pelo governo federal, e ao governo do Estado caberá a contribuição de R$ 428 milhões. O resto dos custos caberá ao parceiro privado, em troca de explorar o sistema por 30 anos. 
Como todo investimento público, é preciso haver controle para garantir a boa prestação de serviços. Nesse caso, para receber o aporte público, a concessionária precisa atender metas de investimentos e operação de serviços. Este é um ponto importante: toda vez que uma obra pública atrasa, nada acontece. Já se o concessionário atrasar, não vai receber. 
Enquanto a equipe de transição no governo federal apresenta os mais diversos rombos, é um alívio saber que os recursos, tanto federais quanto estaduais, estão devidamente reservados. 
Alguns insistiram em tentar atrapalhar a concessão do metrô da Grande BH por motivos ideológicos, mas nem mesmo a equipe de Lula em Brasília se envolveu nisso. Superada a picuinha e feito o leilão, vamos deixar para trás o atraso. Se o governo federal, em diferentes mandatos dos mais diversos partidos, não fez, agora é a chance para Minas Gerais e a iniciativa privada fazerem. Eu aposto em ambos para fazer esse trem dar certo. 
Gabriel Azevedo é presidente da Câmara Municipal de BH
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