Ainda vale a pena falar sobre Bolsonaro? – Brasil 247

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Arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada
A maior humilhação já aconteceu quando Lula, mesmo sem ser ainda presidente, conseguiu a aprovação da PEC dentro do governo Bolsonaro edit

Com a vitória de Lula nas eleições, o relatório da equipe de transição divulgado, a PEC da transição aprovada e os ministérios quase que preenchidos, passaremos a falar muito do novo ocupante do Alvorada e menos do antigo.
Mas não há mais o que falar sobre Jair Bolsonaro?
O ainda presidente fez uma espécie de renúncia branca após sua derrota em 30 de novembro e, por isso, quem já começa a governar de fato é Lula, haja vista a aprovação da PEC da transição levada a efeito por ele.
Está quase na hora de Jair já ir embora, mas não sem antes ter tentado, há alguns dias, uma cartada final para virar o jogo.
O capitão se reuniu com os generais golpistas Villas Boas e Braga Netto, numa última tentativa de convencer as Forças Armadas a impedir a posse de Lula, baseada no entendimento torto das linhas retas do Art. 142 da Constituição Federal.
Ouviu dos comandantes um não. Primeiro, porque perdeu o timing, já que o novo governo se consolida a cada dia. Segundo, porque a maioria dos generais da ativa sempre foi contra a ruptura.
A verdade é que, excetuando-se os aloprados patriotários que vinham acampando em frente aos quartéis e que agora receberam a ordem de deixar esses locais, ninguém quer golpe. Aliás, o Datafolha apontou que 75% dos brasileiros são contrários aos atos antidemocráticos. Aconteceu o mesmo de 7 de setembro de 2021 quando Jair tinha a certeza de que o exército o acompanharia em seu discurso golpista. Ficou isolado e teve que mandar uma cartinha de desculpas ao ministro Alexandre de Moraes.
Agora não há o que fazer. Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno e muitos outros vão ter que aguardar a Polícia Federal visitá-los em breve.
A depressão e consequente choro do capitão decorrem do fato de que ele, alimentado por puxa-sacos, como costuma acontecer com chefes autoritários, acreditou piamente que seria reeleito. Não poupou esforços para isso, desde a farta farra do orçamento secreto, até a generosa liberação de verbas para Auxílio Brasil, Auxílio Gás, Auxílio Caminhoneiro e Auxílio Taxista. E nada feito. Perdeu.
Meses antes, das eleições, houve quem lhe sugerisse que se candidatasse a senador ou que até mesmo voltasse para a Câmara dos Deputados. Venceria facilmente e voltaria ao ócio do qual desfrutou no Congresso por 28 anos, continuando a ter foro privilegiado e garantindo sua liberdade.
Mas a vaidade e a certeza de impunidade falaram mais alto.
Bolsonaro não passará a faixa presidencial a Lula porque não quer se humilhar diante do grande vitorioso.
Mas a maior humilhação já aconteceu quando Lula, mesmo sem ser ainda presidente, conseguiu a aprovação da PEC dentro do governo Bolsonaro.
O choro é livre.
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