O adeus a Murilo, lateral de técnica, raça e muito respeito do … – Trivela

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*Texto inicialmente publicado no Flamengo Alternativo.
Durante cerca de oito anos, entre 1963 e 1971, a escalação da defesa do Flamengo começava sempre por um nome obrigatório: o do lateral direito Murilo, falecido no último domingo aos 83 anos. Jogador que aliava firmeza na marcação ao apoio constante e decidido ao ataque, além de muito caráter, o “Pardal”, como era conhecido, representava juntamente com Paulo Henrique (seu colega da outra lateral) e Carlinhos (referência de classe e talento do meio-campo) um dos oásis de regularidade ao longo daqueles difíceis e instáveis anos 1960 para os rubro-negros. Foi, por isso, um gigante da história do clube.
Nascido em 30 de abril de 1939 em Anchieta, Zona Norte do Rio, Paulo Murilo Frederico Ferreira logo trocou as peladas de rua que jogava quando garoto por ingressar na equipe infanto-juvenil do Esporte Clube Anchieta. O clube disputava na época o certame do chamado Departamento Autônomo, entidade que reunia dezenas de times da cidade – muitos deles vindos das várias ligas existentes no Rio de Janeiro desde as primeiras décadas do século – num gigantesco campeonato amador dividido em três séries: urbana, suburbana e rural.
Murilo subiu ao time de cima do Anchieta e ficou até janeiro de 1959, quando um amigo o levou a um teste no Olaria, no qual ele foi aprovado e veio a integrar a equipe que, no início da década seguinte, dirigida por Jorge Vieira (campeão com o America em 1960) e depois por Davi Ferreira, o Duque, revelaria talentos para grandes clubes do país e do exterior, como o zagueiro Haroldo (Santos), o meia Nélson (que seguiria ao Flamengo com Murilo), o atacante Rodarte (São Paulo) e o ponta Cané, vendido ao Napoli em meados de 1962.
Ainda em 1962, já sem Cané, mas contando com o retorno de dois jogadores revelados no clube (o goleiro Ernani, ex-Vasco, Bangu e pré-convocado para a Copa de 1958, e o zagueiro Navarro, ex-Flamengo), o time dirigido por Duque fez bonito no Campeonato Carioca: venceu o Vasco e o America em ambos os turnos, arrancou empates de Flamengo e Botafogo e perdeu apertado para o Fluminense, ficando em sexto lugar. Mas, pelo critério vigente de renda, pegou uma das cinco vagas cariocas para o Torneio Rio-São Paulo do ano seguinte.
A grande campanha dos bariris no certame da Guanabara valeu a Murilo a convocação para a seleção carioca, na qual ficou na reserva da lateral direita (cujo titular era o tricolor Jair Marinho), além de várias propostas de grandes clubes brasileiros. Em janeiro de 1963, ele seria envolvido numa negociação com o Flamengo, seguindo para a Gávea junto com Nélson em troca de três jogadores (o lateral-direito Valtinho, o ponta-direita Othon e o ponta-de-lança Luís Carlos Cunha) mais Cr$ 27 milhões, quantia bastante significativa para a época.
Lateral moderno, que conciliava a seriedade na marcação com o fôlego e a decisão para apoiar o ataque, Murilo chegava com novas qualidades para suceder o antigo titular Jouber, que ocupara o lado direito da defesa desde a metade de 1957, mas agora, na reta final da carreira, já iniciava a transição para o posto de quarto-zagueiro. E após dois amistosos, sua estreia em jogo de competição viria, ironicamente, diante de seu ex-clube, o Olaria, na goleada rubro-negra por 4 a 1 na abertura do Torneio Rio-São Paulo, em 14 de fevereiro.
Em sua primeira temporada, Murilo seria titular tanto no Rio-São Paulo (ficando de fora apenas do último jogo, contra o Corinthians) quanto no Campeonato Carioca (quando atuou em todas as 24 partidas da campanha vitoriosa) além de participar da excursão europeia do Flamengo no meio do ano, quando a equipe dirigida por Flávio Costa arrancou um empate em 0 a 0 com a seleção da União Soviética em Moscou sob condições climáticas adversas. A lateral direita rubro-negra ganhava um novo titular para ficar por muito tempo.
O título carioca, o qual o clube não conquistava desde o histórico tricampeonato de 1953/54/55, também veio sob condições adversas: o clube havia deixado a antiga concentração da Estrada da Gávea e a nova, em São Conrado, ainda passava por obras, sendo inaugurada somente no início do ano seguinte. A sede da Gávea – estádio incluso – também sofria reformas, obrigando o elenco a treinar em outros locais. Mas as maiores turbulências seriam provocadas pelo estilo linha-dura do técnico Flávio Costa e seus atritos com peças-chave do elenco.
O treinador, que voltara ao clube em janeiro de 1962, já havia sido o pivô da saída de ídolos como o zagueiro Jadir e o centroavante Henrique Frade. Durante o certame de 1963, ele teria mais um desentendimento com o meia Gerson, logo afastado e vendido ao Botafogo. O atacante Dida, camisa 10, ídolo e maior artilheiro do clube até ali, seria barrado na reta final e negociado no início do ano seguinte. O goleiro Mauro e o veterano lateral Jordan também perderiam lugar. E até o sempre calmo meia Carlinhos chegou a brigar com Flávio.
Ao seu modo, porém, o treinador empreendia uma reformulação na equipe: se Murilo era o novo dono da lateral direita, o garoto Paulo Henrique, 20 anos, ganhava espaço na esquerda. Sob as traves, o mineiro Marcial se afirmava. No meio-campo, o incansável Nelsinho, ex-Madureira, se combinava à perfeição com o clássico Carlinhos. E na frente, dois jovens oriundos da base se tornariam fundamentais ao longo daquela campanha: o ponta-direita Espanhol e o centroavante Aírton, goleador da equipe com 15 tentos em 23 jogos.
Espanhol, nascido José Armando Ufarte na cidade galega de Pontevedra, seria ao lado de Murilo (seu companheiro do lado direito do campo) o outro jogador a participar de todas as 24 partidas. Vendido ao Atlético de Madrid em meados de 1964, ele conquistaria três vezes a liga espanhola com os colchoneros e disputaria a Copa do Mundo de 1966 pela seleção da Espanha. Em 2008, integraria como auxiliar a comissão técnica de Luis Aragonés (seu ex-companheiro de clube) campeã da Eurocopa pela Roja na Suíça e na Áustria.
Com duas derrotas sofridas no primeiro turno para America (1 a 3) e Bangu (1 a 2), o Flamengo passaria a maior parte daquela campanha de 1963 correndo por fora, na cola do time de Moça Bonita, líder por quase toda a competição. Mas uma sequência de 14 jogos de invencibilidade e uma série de vitórias de tirar o fôlego na reta final – entre elas um eletrizante 4 a 3 de virada no Vasco e um 3 a 1 no próprio alvirrubro da Zona Oeste – alçaram os rubro-negros ao topo, um ponto à frente do Fluminense, rival na última rodada.
A vantagem do empate fez com que o Fla entrasse cauteloso na partida decisiva diante da equipe tricolor dirigida por um velho conhecido dos rubro-negros, o paraguaio Manuel Fleitas Solich, e de um público que entraria para a história: mais de 177 mil pagantes e 194 mil presentes lotaram o Maracanã na tarde de 15 de dezembro. Murilo mediria forças com um dos melhores jogadores do adversário, o experiente ponta-esquerda Escurinho. Mas mesmo com o tornozelo lesionado no início da etapa final, o lateral teve atuação segura.
Com muita garra, o Flamengo segurou o 0 a 0 que lhe favorecia e reconquistou o título carioca após oito anos. Para Murilo, a emoção e o esforço físico foram tão grandes que o lateral desmaiou logo depois do apito final. Mas já se sagrava campeão em seu primeiro ano de clube, sendo logo em seguida convocado junto com o botafoguense Joel e o jovem tricolor Carlos Alberto Torres (a revelação da temporada) para a lateral direita da seleção carioca que faria um amistoso de fim de ano contra o escrete paulista em São Paulo.
O Flamengo não levantaria o bicampeonato em 1964, terminando um ponto atrás de Fluminense e Bangu, que precisaram de dois jogos extras para decidirem o título. Mas a temporada reservou algumas novas emoções para Murilo. Em junho, a conquista do Troféu Naranja, na Espanha, num triangular com Valencia e Nacional de Montevidéu. Em novembro, o primeiro e o mais marcante de seus três gols anotados com a camisa do Flamengo: uma cabeçada que abriu o placar na vitória por 2 a 1 sobre o Ceará em Fortaleza pela Taça Brasil.
Já em dezembro, Murilo viveria uma experiência curiosa: na noite de sábado, 19, quando se casou e saiu quase imediatamente da igreja para o Maracanã, onde defenderia o Flamengo no segundo jogo decisivo da Taça Brasil contra o Santos. Os rubro-negros precisavam vencer (o que já haviam feito no Torneio Rio-São Paulo numa virada épica por 3 a 2) para forçar o terceiro confronto. Mas desta vez, pararam na retranca santista em que até Pelé ajudou na defesa, e o 0 a 0 deu ao time da Vila Belmiro o tetracampeonato da competição.
Se o ano de 1964 terminou em frustração dentro de campo, o de 1965 seria o da afirmação. Já no primeiro semestre, suas atuações no Torneio Rio-São Paulo mereceram elogios da Revista do Esporte ao apontar os destaques do certame: “Uma das mais gratas surpresas foi a regularidade que marcou as atuações de Murilo. O lateral-direito do Flamengo portou-se com bravura, técnica e classe”, mostrando que o papel da posição “é muito importante” quando se tem “competência para fazer algo mais do que jogar como beque”, avaliou.
Sua excelente forma também foi reconhecida pela comissão técnica da seleção brasileira, que o convocou para uma série de amistosos que o Brasil faria no Maracanã em junho de 1965 antes de embarcar para uma excursão internacional que começaria na Argélia e seguiria para a Europa. Murilo faria parte do elenco – sem jogar, contudo – nos amistosos contra a Bélgica e a Alemanha Ocidental. Mas entre este segundo jogo e a partida contra a Argentina, a última antes da viagem, ele acabaria excluído numa primeira lista de cortes.
Murilo lamentou a exclusão, mas se disse surpreso, antes de qualquer coisa, por sua convocação: “Eu não esperava ser convocado para o escrete esse ano. Pelos meus planos, somente no ano que vem eu estaria apto a lutar em igualdade de condições com os outros pretendentes a uma vaga no selecionado”, confessou à Revista do Esporte. Em todo caso, mais adiante naquele ano ele voltaria a ser chamado para o amistoso contra a União Soviética no Maracanã, em novembro, quando ficou novamente no banco de reservas.
Sua presença constante nas convocações confirmava que ele vivia seu auge. E outra vitrine de sua excelente forma física e técnica seria o Campeonato Carioca daquele ano, uma edição curta e enxuta com apenas oito equipes jogando em pontos corridos, e na qual o Flamengo se sagraria mais uma vez o campeão com desempenho bastante sólido – tão sólido quanto o futebol de seu lateral direito, eleito por unanimidade o melhor do torneio pela imprensa esportiva da cidade e até o melhor jogador da competição pelo jornal O Globo.
A equipe dirigida pelo argentino Armando Renganeschi – ex-zagueiro de Fluminense, São Paulo e Bonsucesso que fizera carreira de treinador no interior paulista antes de chegar à Gávea após a saída de Flávio Costa em meados de 1965 – exibia um futebol moderno, com a defesa e o meio-campo adiantados, sufocando o adversário em sua própria intermediária, permitindo o constante apoio dos laterais Murilo e Paulo Henrique (que esbanjavam fôlego para ir e voltar), enquanto o setor ofensivo girava em deslocamentos e troca de posições.
Além dos laterais, os destaques do Fla na conquista (selada antes mesmo do último jogo) seriam a dupla de meio-campo remanescente de 1963, Carlinhos e Nelsinho; o também meia-armador Fefeu, que se revezou com Nelsinho no setor e, ótimo na bola parada, acabou como o vice-artilheiro da equipe; a raça de Almir “Pernambuquinho” e o talento de Silva “Batuta” – o camisa 10 que conduziu o time e levou quase todos os prêmios de craque do torneio – no ataque; além do jovem ponta-esquerda Rodrigues, revelação do certame.
O desempenho destacado de Murilo naturalmente o colocaria como um dos quatro jogadores de sua posição incluídos na lista de 47 convocados da seleção brasileira para a fase de preparação com vistas à Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Na relação divulgada em 12 de abril daquele ano para treinos em Caxambu, Lambari e Teresópolis, a disputa pelas duas vagas entre os laterais direitos seria acirrada: o rubro-negro teria como concorrentes o palmeirense Djalma Santos, o santista Carlos Alberto Torres e o banguense Fidélis.
Entre os quatro, Murilo representava um meio-termo, com seus 26 para 27 anos de idade. Nas extremidades em termos etários estavam, de um lado, o veteraníssimo Djalma Santos, 37 anos e três participações em Copas do Mundo no currículo, e do outro os jovens Fidélis, 22, e Carlos Alberto, 21 – ainda que este último não fosse exatamente um novato em termos de seleção: já vinha sendo chamado desde 1964 e atuara quatro vezes pelo escrete. E apesar de sua ótima fase física e técnica, Murilo era o menos badalado do quarteto.
Tanto que, quando os convocados foram divididos em quatro times – branco, azul, verde e grená – para treinos e amistosos, Murilo ficou na equipe branca, a que, dizia-se, reunia o maior número de prováveis cortados. E acabou entrando em campo em apenas um amistoso, contra o País de Gales no Mineirão, em 18 de maio. O Brasil venceu por 1 a 0, mas atuou mal, com os jogadores nervosos diante da iminência dos cortes. Murilo, entretanto, salvou em cima da linha o que seria o gol de empate galês após jogada do atacante Ron Davies.
No dia seguinte, sairia a primeira lista de dispensas, com Murilo incluído nela. Ao fim da confusa preparação do Brasil, o Flamengo acabaria tendo dois atletas – Paulo Henrique e Silva – incluídos na lista final dos 22 convocados para a caótica participação do escrete da CBD no Mundial inglês. Os três, porém, voltariam da seleção com suas reputações intactas e fariam um bom campeonato carioca. Pelo quinto ano seguido, os rubro-negros chegavam à rodada final com chance de título, mas o bicampeonato acabaria perdido para o Bangu.
Após uma temporada ruim de ponta a ponta para o Flamengo em 1967, na qual Murilo chegou a atuar com frequência um pouco menor que em anos anteriores devido a lesões esporádicas e a uma demorada renovação de contrato no meio do ano, o clube decairia em competitividade no fim daqueles anos 1960. Mas ainda reservaria alguns momentos especiais aos torcedores. E na maioria deles com Murilo em campo, como na conquista do prestigioso Troféu Mohamed V, em Casablanca, no Marrocos, em setembro de 1968.
O torneio, que ao longo de sua história contou com a participação de gigantes como Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Inter de Milão, Bayern de Munique, Boca Juniors e Peñarol, mais os brasileiros Flamengo, São Paulo, Internacional e Grêmio, reuniu naquela edição de 1968 (além dos rubro-negros) o argentino Racing, o francês Saint-Étienne e o FAR Rabat, equipe da Força Aérea marroquina. O Fla estreou batendo este último por 2 a 1 e conquistou a taça ao vencer na final o Racing, então campeão mundial interclubes, por 3 a 2.
O triunfo sensacional da equipe dirigida pelo baiano Válter Miraglia, ex-jogador rubro-negro, faria do Flamengo o único clube brasileiro a arrebatar o imenso e belíssimo troféu, trabalhado em ouro e prata. Pouco antes, em agosto, Murilo havia feito sua segunda e última partida pela seleção, na goleada de 4 a 1 sobre a Argentina no Maracanã num amistoso em que o Brasil foi representado pelo escrete carioca e dirigido por Zagallo, então técnico do Botafogo e que escalou quase todo o time que dirigia. O lateral rubro-negro entrou na etapa final.
No ano seguinte, Murilo seria um dos principais personagens de outra partida marcante do time no período. Embora não trouxesse nenhuma taça, a vitória de 2 a 1 sobre o Botafogo pelo returno do Campeonato Carioca de 1969, no dia 1º de junho, entrou para a história rubro-negra pelo nó tático do técnico Tim e pela adoção definitiva de uma nova mascote no lugar do velho marinheiro Popeye. Na ocasião, antes daquele confronto, o rival não sabia o que era perder para o Flamengo há dois anos no geral ou há quatro contando apenas o Estadual.
Mas a história começou a mudar antes mesmo do pontapé inicial, quando dois torcedores rubro-negros do bairro do Leme decidiram soltar dentro do estádio um urubu que haviam apanhado no lixão do Caju, na Zona Portuária do Rio, e trazido às escondidas, enrolado numa bandeira. Quando o bicho alçou voo com um rasante sobre o público, foi ovacionado. Era uma resposta aos gritos de cunho preconceituoso dos rivais em relação à massa rubro-negra. E a senha para uma vitória sensacional marcada por uma verdadeira arapuca tática.
Famoso estrategista, o técnico rubro-negro Tim desenvolveu um esquema para anular os ataques do Botafogo ao recuar o meia-armador Luís Cláudio (substituto do lesionado Fio) para a lateral direita, passando Murilo para o miolo de zaga e postando o beque Onça como um líbero atrás da linha de defesa. Apesar de sacrificar sua vocação ofensiva, Murilo teve atuação sublime botando Jairzinho no bolso: todos os lançamentos de Gerson para o “Furacão” paravam aos seus pés. E o Fla venceu por 2 a 1, o gol alvinegro vindo só num pênalti.
Em 1970, Murilo levantaria seus últimos títulos com o Flamengo. Em fevereiro, seria a vez do Torneio Internacional de Verão, no qual a equipe dirigida por Yustrich atropelou o Vasco (2 a 0), o Independiente argentino (6 a 1) e da seleção da Romênia, que dali a alguns meses disputaria a Copa do México (4 a 1). E em 31 de maio, após um 1 a 1 com o Fluminense, conquistaria a Taça Guanabara, então ainda disputada à parte do Carioca, e que teve naquele ano sua edição mais extensa, com três turnos e durando todo o primeiro semestre.
Murilo também seria titular na boa campanha rubro-negra no Torneio Roberto Gomes Pedrosa daquele ano, quando o time perdeu a vaga no quadrangular final apenas no saldo de gols e ficou em quinto lugar na classificação geral. Porém, a relação do elenco com o técnico Yustrich chegaria ao limite do desgaste no primeiro semestre do ano seguinte, até sua demissão no fim de maio e o retorno do veterano Fleitas Solich na metade de junho. Com o paraguaio, no entanto, Murilo perderia espaço e viveria sua última temporada no clube.
Conhecido por preferir trabalhar com jovens da base em vez de veteranos, Solich – que no fim de julho lançara no time um certo Zico, 18 anos – alçou à equipe titular um lateral chamado Aloísio, que despontaria como uma das revelações do Brasileirão, mesmo com a fraca campanha de um esfacelado elenco rubro-negro, sendo inclusive convocado para seleções de base (junto com Zico, aliás). Murilo, que havia atuado em quatro dos cinco primeiros jogos do Flamengo na competição, acabou barrado pelo novato, que crescia a olhos vistos.
O veterano de 32 anos, porém, não se incomodou. Ao contrário, tratou de dar força ao garoto de apenas 19 anos completados em junho: “Olha, até hoje nunca havia aparecido uma sombra para mim, mas agora chegou um que, não tenho dúvida, será o titular. Já conversei com seu Solich sobre isso, e ele concorda em que devemos manter o menino jogando para lhe dar muita moral. A torcida deve ajudá-lo e perdoá-lo sempre que errar porque está começando uma carreira que será brilhante”, declarou na época ao Jornal do Brasil.
O último jogo de Murilo pelo clube seria mesmo o empate com o America em 1 a 1 pelo Brasileiro em 26 de agosto de 1971. Descartado por Solich, não voltou ao time nem mesmo quando Aloísio foi convocado para o Torneio Pré-Olímpico de Cali, na Colômbia, em novembro daquele ano: na ocasião, o treinador preferiu adaptar na posição outro jovem da base, um certo Rondinelli, para os últimos jogos da temporada. Encerrava-se ali um ciclo de nove temporadas e expressivos 448 jogos vestindo a camisa rubro-negra, sempre com bravura.
Com passe livre, Murilo seguiria para o Piauí onde defenderia o Tiradentes em 1972 e 1973 e o River em 1974. No ano seguinte, seria chamado por seu velho amigo Paulo Henrique para atuar pelo Campos Atlético Associação, equipe do estado do Rio de Janeiro então dirigida por seu antigo parceiro de lateral rubro-negra. Ali, Murilo penduraria as chuteiras aos 36 anos. Iniciaria breve carreira de técnico levando outro Flamengo, o do Piauí, ao título estadual de 1976, antes de fazer bom trabalho também no Americano em 1979.
Na Gávea, a lacuna deixada na lateral levaria um tempo para ser preenchida. Aloísio ficaria até 1974, mas não chegaria a se firmar. Outros jogadores passariam pela posição até a ascensão de Junior, no fim daquele ano. Mas o “Capacete” trocaria de lado em 1976, com a chegada do baiano Toninho, ex-Fluminense. Só então, e mais tarde com Leandro e Jorginho, o Flamengo voltou a ter um nome inquestionável na lateral-direita, capaz de marcar época com o mesmo estilo valente e ofensivo exibido por Murilo entre 1963 e 1971.
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