Compromisso com o erro derrotou Bolsonaro – Metrópoles

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Blog com notícias, comentários, charges e enquetes sobre o que acontece na política brasileira. Por Ricardo Noblat e equipe
04/01/2023 6:00, atualizado 04/01/2023 8:50
A frase é do presidente Juscelino Kubistchek, o fundador de Brasília:
“Costumo voltar atrás, sim, não tenho compromisso com o erro!”.
Os versos são do compositor, cantor e músico Raul Seixas, um dos pioneiros do rock brasileiro:
“Eu prefiro ser essa Metamorfose Ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”.
Quando governou o Brasil pela primeira vez, Lula admitiu que era uma metamorfose ambulante. Seus adversários, então, o acusaram de querer dizer com isso que não tinha compromisso com as próprias ideias, ou que não tinha ideias.  Erraram.
Lula quis apenas atualizar a frase de Juscelino. Por exemplo: ao dar-se conta do erro que foi o mensalão do PT, recuou e desculpou-se. Em seguida, demitiu José Dirceu de Oliveira, chefe da Casa Civil do governo, que mais tarde seria cassado pela Câmara.
No ano seguinte, demitiu Antonio Palocci, ministro da Fazenda, o queridinho da imprensa e do mercado financeiro, envolvido no escândalo da quebra do sigilo bancário de um caseiro que o vira numa mansão palco de tenebrosas transações e de farras épicas.
Em seguida, Lula reelegeu-se, elegeu Dilma e a reelegeu. Condenado, preso, solto, contrariou os que esperavam estar de volta um homem repleto de feridas, vingativo e com gosto de sangue na boca. Bolsonaro foi um dos que se enganaram:
“Se o cara voltar, José Dirceu irá para a Casa Civil, e Dilma para o Ministério da Defesa?”
Dirceu fez parte da turma sem convite para a posse do último domingo; para o Ministério da Defesa foi José Múcio Monteiro, líder do PTB de Roberto Jefferson à época do mensalão. Se Lula quiser e ela topar, Dilma será embaixadora do Brasil na Argentina.
Compromisso com o erro foi o que derrotou Bolsonaro do “morram os que tiverem de morrer”, das armas que foram parar nas mãos do crime organizado, do enfrentamento com a Justiça, dos atos hostis à democracia e do regime autoritário à vista.
Bolsonaro celebrou a chegada do Ano Novo comendo sanduíche de frango frito em uma rede de fast food do KFC, em Orlando, onde se refugiou com medo de ser preso. Lula, ontem, começou a despachar no Palácio do Planalto, previamente dedetizado.
Na galeria dos presidentes do palácio, a foto de Bolsonaro está em preto e branco. Colorida só a foto do presidente que ocupa o cargo.
“Encerra-se a era de um presidente que, se outrora disse orgulhoso ‘defender a tortura’, usou seu cargo, amparado por sua ministra de Direitos Humanos, para investir contra o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura”. (Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos)
Apesar de ter constituído um governo de uma frente democrática bem além do PT, não terá vida fácil no parlamento
É esperançoso ouvir o novo presidente dizer que foi eleito para reduzir a desigualdade social
“Sem anistia”, uma referência a Bolsonaro, “boa tarde, presidente”, saudação a Lula, e “todos, todas e todes” nos discursos são as novidades
Nada aprendeu e nada esqueceu
Se cairá de lá ou se voltará a descer, depende do que mais for descoberto
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