Síndrome da escolha política – Diário de Notícias

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Albert Camus defendia que “a vida é a soma das escolhas”. Concordo mas, no que diz respeito à política, o preço das escolhas erradas quase sempre é muito caro.
Olhemos para cada um de nós. Pessoalmente, não tenho expetativas para qualquer escolha no presente e no futuro, apesar de ter um currículo académico, técnico, político e cívico de que me orgulho. Porém, nunca fiz parte de grupos próximos dos poderes, nem nunca tive amizades com gente influente nos corredores ministeriais.
Ser licenciado em Arquitetura, mestre em História, doutorado em Urbanismo e pós-doutorado em Turismo, a que acrescento experiências profissionais e cívicas diversas, pouco importa, quando estamos na presença do universo das escolhas políticas. Como eu, há milhares de portugueses assim. Parece que este capital pouco interessa a quem governa, excetuando alguns casos que são escolhidos, também, por outros enquadramentos. A maioria, desde assessores a ministros, é recrutada, sobretudo, por fatores que não são necessariamente os mais interessantes para a operacionalização do percurso governativo e, tal como uma empresa, para se atingirem os melhores resultados.
A um conhecimento específico em cada setor deve-se juntar uma capacidade de gestão dos recursos existentes, de modo a potenciar os resultados esperados. E, também, um passado impoluto.
Há uma tradição de fazer indicações mais políticas e calculistas do que técnicas para as lideranças dos primeiros escalões de governos, mas elas devem pautar-se pelo conhecimento comprovado para permitir que se priorize e se execute as ações previstas de interesse público. Só assim os cidadãos contribuintes se podem orgulhar — isso não acontece com os portugueses — e o país deixará de ser um exemplo de obras adiadas, de fundos desperdiçados e de um crescendo de gente pobre. Portugal deve competir verdadeiramente — e sem bazófias — num mundo onde as novas tecnologias e o conhecimento são cada vez mais centrais.
As escolhas são feitas sem uma base política de transparência e integridade e de perceção de riscos de reputação. Trata-se de uma questão ético-política e não de meros moralismos. Trata-se de escolher pessoas que tomem as melhores decisões no interesse público e não partidário. E isso faz-se facilmente, por exemplo, através do preenchimento ou de entrevistas, como se faz, respetivamente, nos Estados Unidos e no Reino Unido. Essa é uma função do primeiro-ministro, ou seja, institucionalizar a verificação prévia. Mas também é preciso uma autoavaliação em consciência por parte de quem é convidado. Caso contrário, estamos a estimular os extremismos e a fragilizar ainda mais a democracia.
O Governo de Portugal apresenta desnorte, imoderação, inabilidade e incapacidades, e isto afeta a governação e o futuro de todos nós. A partir deste momento, a nossa atenção passa, também, pela capacidade de união e de respostas alternativas por parte do maior partido da oposição.

Professor Universitário

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