Como foi a 1ª semana do governo Lula para a Bolsa e o dólar – TradeMap

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Foto: Shutterstock
A primeira semana do governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi marcada por turbulência na Bolsa brasileira.
O Ibovespa, que é o principal índice da B3, recuou mais de 5% entre segunda e terça, mas recuperou parte das perdas nos demais dias e encerrou a semana com uma leve baixa de 0,7%, aos 108.964 pontos.
O dólar fez um movimento semelhante, disparando para R$ 5,51 no início da semana, mas recuando posteriormente e encerrando a sexta-feira em R$ 5,26 – praticamente estável em relação à semana passada.
A reação mais violenta, porém, foi a do mercado de juros. As taxas subiram e encontraram resistência para voltar aos níveis vistos no fim de 2022.
A taxa do contrato de DI para janeiro de 2024, por exemplo, saltou de 13,45% no último pregão do ano passado para 13,62% nesta sexta-feira, enquanto a taxa para janeiro de 2026 subiu de 12,60% para 12,81% no mesmo intervalo.
Lula assumiu a Presidência no domingo (1) e repetiu ao Congresso o mesmo discurso da campanha, reiterando a intenção de revogar o teto de gastos, a atual âncora fiscal, e que fortalecerá bancos públicos e estatais.
Entre as primeiras medidas de seu governo, estava um decreto que retirava algumas estatais do programa de privatizações – entre elas a Petrobras (PETR4) – e uma medida provisória que prorrogava a isenção de impostos federais sobre combustíveis.
Os investidores já sabiam da intenção do governo de barrar as privatizações desde meados de dezembro, mas foi pego de surpresa pela prorrogação das desonerações, e o mercado reagiu de forma negativa. O Ibovespa, principal índice da B3 teve uma baixa de 3,06% no primeiro pregão do ano.
“A primeira sessão do ano foi marcada por uma pressão vendedora na maioria das ações do índice. Com os mercados americanos fechados, a curva de juros volta a estressar e dólar subiu forte, com mercado precificando risco fiscal”, comentou Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora na segunda-feira..
Na terça (3), a situação piorou depois de o ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmar que o governo precisa discutir o que chamou de “antirreforma da Previdência”, em referência às mudanças do sistema de aposentadorias feitas em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro.
Diante disso, o mercado continuou a colocar no preço das ações a expectativa de piora das contas públicas nos próximos meses e anos, e o Ibovespa voltou a recuar. O índice caiu 2,08%, aos 104.165 pontos, enquanto dólar e juros subiram.
Esta reação da Bolsa é baseada na premissa de que, quando o governo gasta mais do que arrecada, ajuda a estimular a inflação. Isso, consequentemente, contribui para juros altos, o que é negativo para as empresas (porque aumenta despesas e reduz o lucro) e para as ações (que se tornam um investimento menos atraente que a renda fixa).
Na visão do economista do Wells Fargo Brendan McKenna, o Banco Central provavelmente manterá as taxas de juros estáveis ​​em 13,75% ao ano até o segundo trimestre de 2023, e pode, eventualmente, iniciar o ciclo de flexibilização no terceiro trimestre de 2023.
“Essa nova combinação de políticas do governo Lula provavelmente criará novas pressões inflacionárias. Famílias com mais dinheiro devem gastar mais e elevar os preços, enquanto empréstimos mais baratos de bancos estatais também devem fazer uma pressão”, comenta McKenna, em relatório.
A petrolífera estatal teve dias muito distintos ao longo da semana. Primeiro, foi oficializado pelo governo que a petrolífera estatal será comandada pelo senador e economista Jean Paul Prates (PT-RN).
Soma-se a isso a prorrogação da isenção do PIS e do Cofins sobre a gasolina no Brasil por mais 60 dias, e a zeragem dos mesmos tributos sobre o diesel até o final de 2023.
Na avaliação de Eduardo Cubas, sócio e diretor de alocação da Manchester Investimentos, a medida pode custar por volta de R$ 9 bilhões aos cofres públicos, mas ajuda a amenizar a inflação brasileira medida pelo IPCA no mês de janeiro. 
Essa desoneração acabou prejudicando algumas ações na Bolsa. Tanto é que os papéis que mais recuaram na semana dentro do Ibovespa foram os da São Martinho (SMTO3), com recuo de 14,97% e da Raízen (RAIZ4), com perda de 13,90%.
Com isso, o mercado passou a precificar uma maior intervenção do governo na economia, bem como essa perda de arrecadação importante aos cofres públicos. Na segunda, o papel preferencial da Petrobras caiu 6,45%. Na terça, recuou 2,53%.
A decisão também mostrou uma certa incongruência entre os membros do governo. Isso porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia pedido para que a isenção não fosse estendida.
Na quarta-feira (4), contudo, Prates acalmou os investidores ao declarar que todo preço de combustíveis terá uma “referência internacional” – deixando em segundo plano os receios de uma intervenção mais dura do governo na Petrobras.
Ele também ressaltou que não haverá intervenção no preço do produto e que o papel da estatal é de cumprir o que o mercado e o governo criam de contexto. Em resposta, as ações preferenciais da Petrobras avançaram 3,18% na quarta e 3,60% na quinta, ajudando a performance positiva do Ibovespa nos dois dias.
“A Petrobras subiu bem e só não subiu mais porque o petróleo caiu 4% lá fora. O discurso de Prates foi forte e de acordo com o que o mercado gosta de ouvir. Disse que não vai ter intervenção nos preços da gasolina, o que os investidores viram de forma muito positiva”, disse Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos na quarta.
No dia 4, o índice fechou no campo positivo pela primeira vez no ano e avançou 1,12%, impulsionado justamente pelas ações da Petrobras e pelo bom humor dos mercados internacionais.
O clima positivo foi reforçado pelas declarações do ministro da Casa Civil, Rui Costa, descartando mudanças no sistema da Previdência, indo contra as declarações feitas anteriormente por Carlos Lupi.
Vale ressaltar que Costa é ministro da Casa Civil e coordena os demais ministérios. Por isso, sua declaração teve mais peso no mercado.
Também na quarta, o vice-presidente Geraldo Alckmin assumiu oficialmente o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Em seu discurso de posse, ele reforçou a necessidade de “frear a desindustrialização no país”. Além disso, disse que o comércio exterior será um grande foco de sua administração, e chegou a prever uma queda nos preços de produtos brasileiros exportados.
Na quinta-feira foi a vez de Simone Tebet tomar posse no Ministério do Planejamento. Em seu discurso, ressaltou a importância de cuidar dos gastos públicos e de uma aprovação urgente de uma reforma tributária no Brasil.
Também no dia 5, o mercado passou a repercutir a expectativa que o novo governo passe por um “freio de arrumação” para diminuir o ruído sobre o que o governo realmente pretende fazer, o que arrefeceu os juros futuros e deu força para o real bater o dólar. o Ibovespa fechou a véspera em alta de 2,19%.
Luiz Souza, operador de renda variável da SVN Investimentos, destacou que após as falas “polêmicas” de membros do governo, o mercado passou a ver alguns agentes atuando como “bombeiros”, tentando amenizar a situação. 
“As primeiras atitudes do governo estão sendo contraditórias em relação à campanha. Mas se virmos a equipe colocando em prática o arcabouço fiscal, por exemplo, e sinalizações de responsabilidade fiscal, podemos ver uma melhora nos juros, o que ajuda a Bolsa”, comenta Souza.
Após esse início turbulento e com bate-cabeça entre ministros, o presidente Lula chamou todos os auxiliares na primeira reunião ministerial nesta sexta (6).
O presidente deve determinar que anúncios das pastas devem ser previamente aprovados pelo gabinete do Executivo, justamente para evitar situações de constrangimento de ministros e a necessidade de o governo voltar atrás em declarações.
Em discurso, Lula afirmou nesta sexta que “é possível fazer Brasil voltar a crescer com muita responsabilidade“.
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