Ao comentar a posse de Lula, Jovem Pan dá show de desprezo aos … – Jornal Opção

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09/01/2023
08 janeiro 2023 às 09h03
O grupo Jovem Pan News começou o ano assim como atuou durante os últimos anos: na contramão de seu papel como concessão pública, desinformou sua audiência.
Na segunda-feira, 2, o programa de debates Linha de Frente contava com o retorno do apresentador Tiago Pavinatto, que havia sido afastado da emissora desde o dia 13 de dezembro, por ter, na véspera, cometido gestos debochados – e até obscenos – dirigidos a Alexandre de Moraes, enquanto o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) discursava durante a diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na época, a Jovem Pan disse que o apresentador fora afastado e advertido pela direção da emissora por ter contrariado “orientações editoriais” e pela “postura inadequada” durante o programa.
Pois o mesmo Pavinatto voltou muito bem-humorado, fazendo uma péssima paródia da música É o Amor, sucesso da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano (Zezé que se tornou bolsonarista convicto, a ponto de, na semana passada, durante show em Miami (EUA), se dirigir ao extremista foragido Allan dos Santos, que estava na plateia, como se ele fosse um herói). A falta de qualidade da peça de humor – que ironizava a cerimônia de posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assim como a suposta falta de liberdade de expressão – não impediu o apresentador de ganhar aplausos de seus colegas de programa. A única mulher componente da mesa, Deysi Cioccari, saudou o parodista comparando sua “genialidade” à do escritor Oscar Wilde.
O programa estava apenas começando e, como geralmente (e infelizmente) tem sido frequente na Jovem Pan, havia ainda muito lixo a se produzir. Tiago Pavinatto não decepcionaria de novo e jogou no ar o tema das pessoas envolvidas na entrega da faixa presidencial a Lula. Na cerimônia, quem a repassou foi Aline Sousa “catadora de lixo desde os 14 anos”, segundo o apresentador, que ainda parece não ter aprendido a diferença entre “lixo” e “reciclável” – ou talvez tenha usado o termo para dar sentido às piadinhas que ainda faria.
Veio a seguir um raciocínio espantoso, no pior sentido, do mesmo Pavinatto: “Essa moça que entregou a faixa tem hoje 33 anos. É catadora de lixo desde os 14. Fazendo a matemática, há 19 anos. Dezenove anos atrás era 2003 [na verdade, 2004, segundo a matemática], primeiro ano do governo Lula. Se o governo Lula foi tão maravilhoso, por que ela é catadora de lixo até hoje?”. É como se não houvesse dignidade em que fazer coleta de material reciclável. Ou houvesse graus de dignidade em que esse fosse um dos mais baixos.
A asneira solta ao vivo não tem volta, mas, se Pavinatto buscasse informações sobre Aline Sousa, teria sabido que ela não continua “apenas” uma trabalhadora em seu ofício de sempre, mas é também uma líder da área: além de estudar Direito, ela segue na mesma cooperativa que sua mãe e sua avó trabalharam: a Central das Cooperativas de Trabalho de Catadores de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop-DF), rede da qual, em 2012, foi eleita diretora-secretária. É também responsável pela Secretaria Nacional da Mulher e Juventude da entidade Unicatadores.
Por conta da luta classista, já fez diversas viagens ao exterior, motivo pelo qual, no dia seguinte ao da posse, seu perfil nas redes sociais foi alvo de ódio. Afinal, como pode uma “catadora de lixo” viajar ao exterior? Com que dinheiro? Extremistas, como se sabe, não buscam informações por completo justamente porque precisam tornar seu alvo o mais vulnerável possível. No Brasil “conservador” do bolsonarismo, são conservadas as raízes de nossos males estruturais, entre elas a de que para pobres não existe outros espaços de convivência além de sair da casa para o trabalho e vice-versa, além de um lazer modesto – mesmo a picanha, para os “conservadores”, deve ser algo proibitivo para quem ganha pouco.
Na mesma linha, Lula é questionado sobre suas viagens. O convidado Ricardo Holz diz que o presidente vai viajar muito para reconstruir a própria imagem e “dar uma de chefe de Estado”. Talvez ele ainda não saiba, mas o petista não precisa “dar uma de” para aquilo que é essencialmente seu encargo durante os próximos quatro anos. De modo impressionantemente desligado da própria realidade, Holz aposta que Lula vai precisar de vários “primeiros-ministros”, como o vice, Geraldo Alckmin (PSB), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann –, que seriam, segundo ele, os verdadeiros governantes, enquanto ele se ocuparia de curtir viagens mundo afora.
Em resumo, um comentarista político acha que Lula, por sua origem pobre, encara o poder como um prêmio de loteria
No mesmo tema, Rodolfo Mariz – que substituiu Pavinatto durante as “férias forçadas” do apresentador e dublê de comediante – conseguiu piorar as coisas: “Não sei se vocês têm aqueles amigos que, quando vocês conversam… ‘ah, se você ganhasse na Mega-Sena, o que você faria?’, a primeira resposta é ‘viajaria o mundo’. Não vamos esquecer que Lula era metalúrgico, não tem curso superior, não fala um segundo idioma, ele veio de uma classe simples. O maior sonho do Lula, talvez, fosse viajar. E hoje ele está no poder, nem pagar as contas para viajar ele precisa. Quem paga isso? Nós, a gente, o contribuinte, o pagador de imposto. Ele viaja para onde quiser para realizar um sonho, não para governar (…) Falam que o pobre, quando ganha dinheiro, primeira coisa que pensa é em viajar. Óbvio, e a gente quer tirar esse direito do Lula?”.
Parece surreal, é um absurdo tamanho, mas é isto mesmo: em resumo, um comentarista político acha que Lula, por sua origem pobre, encara o poder como um prêmio de loteria e vai entregar o comando de tudo nas mãos dos políticos “de verdade”, aqueles que são realmente capazes de governar. O petista, enquanto isso, no entender do analista Rodolfo Mariz, vai curtir uma lua de mel de quatro anos com Janja da Silva.
Para a psicanálise isso tem nome: projeção, o mecanismo psicológico em que se projeta em outra pessoa os próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos, sejam eles indesejáveis ou que não se podem realizar. Quem sabe, inconscientemente, Mariz tenha feito até uma projeção por procuração: afinal, vem do passado recente o presidente que delegou as responsabilidade de seu governo e resolveu viajar pelo País, curtindo motos e jet skis, em meio a muitos paparicos.
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