Taça das Favelas acentua aproximação com o mercado da bola – VEJA Rio
Nascidos no Rio, Ronald Barcellos, do Caxias, e Patrick de Paula, do Botafogo, são jogadores de futebol cujas carreiras têm uma origem em comum. Ambos se profissionalizaram a partir da Taça das Favelas. Criada há dez anos, a competição se firma no triplo papel de revelar talentos, valorizar a cultura das favelas e incluir jovens na sociedade e no mercado.
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Enquanto a seleção brasileira se preparava para a Copa do Catar, garotos e garotas de diversas áreas do estado e do país buscavam o um sonho de serem contratados por grandes clubes. Um esperança compartilhada por jogadores de periferias e comunidades para os quais o esporte historicamente representa uma oportunidade de mobilidade socioeconômica.
Jovens entre 14 e 17 anos, como Rennan Gomes, lateral-direito do Muquiço F.C, campeão em 2022, acreditam que a Taça das Favelas vire o pontapé inicial para a carreira deslanchar. Miram caminhos percorridos por seus ídolos, a maioria com projeção internacional.
O torneio é organizado pela Central Única das Favelas (Cufa) desde 2011 em todos os estados do Brasil. O campeonato do Rio reúne mais de cem equipes, a maior parte delas masculina. Transformou-se numa vitrine para o mercado da bola.
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Depois de ficar supensa durante a fase aguda da pandemia, a Taça das Favelas voltou a movimentar as comunidades no ano passado. Além dos confrontos regionais, inaugurou uma disputa nacional: Favelão 2022, vencida pela seleção do Rio, na versão feminina, e de São Paulo, na masculina. A novidade tende a se consolidar em 2023.
Fora os atributos esportivos, a Taça expõe, com alcance até mundial, traços socioculturais dos participantes. Para a torcedora Mariana Neves, a iniciativa significa também uma oportunidade de exprimir positivamente e valorizar populações castigadas pela desigualdade e por estigmas depreciativos.
A cada edição, a Cufa seleciona os participantes e coordena a captação de investidores e apoiadores, inclusive de mídia. A visibilidade crescente exige um preparo mais apurado dos times. As equipes aproximam planejamentos e métodos dos adotados por clubes profissionais, o que facilita a inclusão de destaques do torneio no mercado.
O Favela Clube corresponde ao método utilizado para propiciar aos jogadores melhores condições técnicas, táticas, fisicas e psicológicas. Assim, podem adaptar-se mais facilmente aos ambientes qualificados de clubes da elite. Tal preparação não diminui, contudo, o valor dos influências comunitárias dos jovens bons de bola.
“Para ajudar os futuros atletas, uso a minha vivência na favela. Busco entender o lugar em que nasceram e cresceram esses jogadores, e suas experiências noutros trabalhos, para planejar os caminhos profissionais”, ressalta o presidente do Muquiço, Carlos Renato Marques.
Ele considera igualmente importantes, à arrancada dos jovens no futebol profissional, parcerias com clubes grandes e empresas regulamentadas pela CBF. A expansão midiática também aproxima a Taça do mercado. A final do Favelão 2022 foi transmitida ao vivo na Globo, ampliando a exposição de talentos. Rennan observa:
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“A Taça das Favelas reúne jogadores de grande potencial. Só precisamos de uma oportunidade. A gente aprende a lidar com toda a emoção de uma partida pra valer, Pessoas importantes me vendo jogar é mágico”.
Com tantos talentos femininos e masculinos em campo, clubes profissionais ficam atentos à captação de futuras estrelas. “A concorrência está cada vez maior. Então, já vamos com um filtro dos atletas de que precisamos. Ultimamente, o olheiro já busca o jogador antes mesmo das partidas importantes do campeonato. No Flu, a gente procura prestar atenção na parte técnica, na velocidade e na intensidade do jovem’, explica o coordenador de captação da base do Fluminense, Carlos Júnior,
Já o agente de jogadores Flávio Pinto, dono da Flasp, pondera que dificuldades como a de acesso a uma boa alimentação pode atrapalhar o futuro das promessas. Não raramente estruturas nutricionais precárias os afastam dos padrões desejados para um atleta de alto nível. “Os jogadores são expostos em uma grande vitrine e escolhidos com base no porte físico, nas habilidades e na estrutura emocional”, resume o empresário.
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O investimento nos jogadores ou jogadoras garimpados nessas competições inclui, várias vezes, um suporte material às famílias. Muitas delas, conta Carlos Júnior, se mudam para os próprios centros de treinamento, de maneira a promover uma estabilidade emocional ao profissional iniciante.
*Clara Behrens, Laura Tura e Maria Fernanda Guerra, estudantes de Jornalismo da PUC-Rio, com orientação de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.
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