Efeito de vandalismo em Brasília é incerto para Lula – Poder360

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É incerto qual efeito os ataques aos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal realizados no domingo (8.jan.2022) terão sobre a popularidade e o poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Há tanto a possibilidade de fortalecimento quanto a de enfraquecimento. Isso será medido por pesquisas de opinião nas próximas semanas. A hipótese do fortalecimento de Lula é baseada em 3 itens:
Lula também pode ligar a depredação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2022, Bolsonaro teve quase metade dos votos válidos no 2º turno. Ele tem titubeado, porém, em liderar a oposição ao petista.
Os grupos que participaram dos ataques são os mesmos que não aceitaram a derrota de Bolsonaro e foram acampar em frente a quartéis para pedir que as Forças Armadas deem um golpe de Estado e retirem Lula do poder.
A experiência internacional, porém, recomenda cautela ao petista. Em 6 de janeiro de 2021, trumpistas radicais invadiram o Capitólio, nos Estados Unidos, para tentar impedir a certificação da vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial.
Assim como no Brasil, não tiveram sucesso. Apesar disso, Joe Biden vem fazendo um governo aos soluços e com baixa popularidade. O partido Democrata, de Biden, perdeu a maioria na Câmara dos Estados Unidos nas eleições legislativas de 2022 –ainda que a derrota tenha sido menor que a esperada.
Se os desdobramentos políticos dos ataques no Brasil forem semelhantes aos dos Estados Unidos, haverá mais acirramento na opinião pública para Lula administrar. Isso nunca é bom para um presidente. Ao chamar Bolsonaro de “genocida”, por exemplo, o petista arrisca desagradar os 49,1% do eleitorado que votaram no ex-presidente em 2022.
É verdade que o grosso da responsabilidade é do governador (agora afastado) de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB). Mas o estrago teria sido menor se o Ministério da Justiça tivesse um plano B para o caso do esquema de segurança do Distrito Federal falhar como falhou.
Uma parte do eleitorado, principalmente os setores que não gostam de Lula, poderá associar a desordem também ao governo federal ou a outras autoridades. É possível que as pessoas que condenam moralmente os extremistas sejam as que já fariam isso antes dos ataques.
Um sinal nesse sentido foi emitido no próprio Legislativo. O deputado Ricardo Barros (PP-PR), que foi líder do Governo de Bolsonaro, disse que a coisa chegou a esse ponto porque Alexandre de Moraes “tentou impor a credibilidade da urna eletrônica”.
Ele não daria tal declaração para contrariar seu eleitorado. Barros teve 107.022 votos em 2022. É um dos políticos mais poderosos do Paraná.
Por fim, merece atenção a decisão de Alexandre de Moraes de mandar encerrar os acampamentos em frente a quartéis de todo o país em 24 horas. Poderá haver confrontos entre os acampados e forças de segurança que forem cumprir a determinação. Isso acirraria ainda mais os ânimos.
O que já não precisa de mais indícios é que Ibaneis Rocha foi o político que mais perdeu com os ataques aos prédios dos Poderes. Ele foi afastado do governo do Distrito Federal pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Mesmo sem a decisão judicial, ele já estava enfraquecido pela intervenção e pelo desgaste que sua imagem sofreu junto a diversos setores da classe política. Ibaneis rejeitou pedido do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), para bloquear totalmente a Esplanada dos Ministérios, como mostrou o Poder360.
Outra dúvida é qual nível de autoridade o interventor federal conseguirá exercer. O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, foi o escolhido para o posto. No papel, comandará todas as atribuições relativas à segurança pública do governo do Distrito Federal até 31 de janeiro.
Tem sido um tema recorrente a dificuldade de governadores controlarem as polícias, mais notadamente as militares. Jornalista, ex-secretário de Comunicação do governo do Maranhão e representante de um governo de esquerda, Cappelli deverá ter um grande desafio para exercer poder sobre policiais.
Mesmo que ele fosse uma autoridade em segurança pública haveria resistência entre as forças do Distrito Federal. Não ser especialista na área o torna ainda mais vulnerável.
Os meios para se impor sobre os agentes de segurança são limitados. Eles não podem ser demitidos. A necessidade de fazê-los investigar e eventualmente punir colegas deixa tudo mais complicado.
Dino disse no domingo que a ideologia dos policiais atrapalha o trabalho deles. Se for assim, a missão de Cappelli é que não será fácil.
Ainda não está claro o que o interventor federal fará. Ele pode, por exemplo, trocar o comandante da Polícia Militar do Distrito Federal. Ou escalar alguém para ser uma espécie de secretário de segurança pública da intervenção.
O agora antigo secretário de segurança Pública de Brasília, Anderson Torres, pouco fez nos dias anteriores aos ataques. Poderia ter tentado limitar a ação dos extremistas de direita acampados perto do quartel-general do Exército em Brasília.
O ex-secretário nem no Brasil estava no domingo, mas nos Estados Unidos, de férias. Um dos últimos atos de Ibaneis antes do afastamento foi demiti-lo. Torres é bolsonarista e sua queda é uma boa notícia para o governo federal.
Foi editor-assistente da equipe que colocou o Poder360 no ar, em 2016. Ex-trainee do Estadão e da Folha de S.Paulo. Nascido no interior de São Paulo, formado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Formado em jornalismo pela USP, com mestrado em história econômica pela LSE (London School of Economics). No Poder360 desde fevereiro de 2019. Foi repórter da Folha de S.Paulo por 7 anos. No Correio Braziliense, em 13 anos, atuou como repórter e editor de política e economia.

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