Expectativas para Lula 3 são surpreendentemente baixas, mas realistas – JOTA

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Novo Governo
Primeiras pesquisas indicam que novo governo deve amargar índices rebaixados de expectativa positiva da população
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Em meio a tantas incertezas que envolvem a formação de um novo governo, uma coisa é certa: a opinião pública espera mais de seu próximo presidente do que qualquer presidente poderá entregar.
No imaginário popular, o homem dentro do Palácio do Planalto pode fazer “alguma coisa” sobre “qualquer coisa”. Além disso, o público não espera apenas uma ação do mandatário, mas sim espera ação em uma gama cada vez mais ampla de questões, muitas delas complexas e até mesmo contraditórias, como o dilema entre responsabilidade fiscal e estabilidade social.
Cedo ou tarde, a disparidade entre as expectativas dos eleitores e a performance dos presidentes acaba aumentando, e com ela as consequências de longo prazo: índices de aprovação do governo mais baixos, uma maior probabilidade de fracasso eleitoral e uma maior propensão de existir crises e escândalos, à medida que os presidentes forçam os limites da lei na tentativa de satisfazer certas demandas para segmentos do eleitorado.
Em resumo, as expectativas moldam as avaliações e as avaliações, por sua vez, afetam a capacidade do presidente de fazer as coisas. Então, a questão central é: como o novo governo irá gerenciar as expectativas?
Quatro levantamentos de opinião realizados após a eleição presidencial buscaram aferir as expectativas dos brasileiros em relação ao terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 12 anos após ter deixado o Planalto.
Em especial, duas pesquisas conduzidas pelos institutos Ipec e Datafolha trazem números comparáveis. Não apenas os percentuais encontrados são muito próximos, mas as perguntas formuladas também são semelhantes. As outras duas sondagens realizadas pela consultoria Quaest e PoderData utilizaram versões de perguntas que comparavam uma área de atuação específica, ou então que comparavam o governo eleito com o governo que terminou (Jair Bolsonaro), por isso não usá-las para deixar a média mais precisa.
(ótimo + bom)
(regular)
 (ruim + péssimo)
Metade dos brasileiros estão otimistas com o terceiro mandato do presidente Lula: 49,5% acreditam que o petista fará um governo ótimo ou bom, enquanto para 25,5% sua gestão será ruim ou péssima. Ainda, para 20% o governo será regular; totalizam 4,5% aqueles que não sabem ou se abstém de responder.
O percentual de brasileiros que esperam que o governo Lula seja ótimo ou bom representa o índice mais baixo entre os presidentes eleitos, desde Fernando Collor de Mello (PRN), que colocou a faixa presidencial em 1990. Por outro lado, a taxa dos que acreditam que Lula fará um governo ruim ou péssimo é a mais elevada. A lista de mandatários desconsidera os vice-presidentes que foram empossados no decurso do mandato e os reeleitos no cargo.
As reações do público são semelhantes às de 2018 (quando 55,8% – no consenso das pesquisas divulgadas entre novembro e dezembro – esperavam que o governo Bolsonaro fosse ótimo ou bom, contra 20,5% do que esperavam um governo ruim ou péssimo nos próximos quatro anos), mas são ainda menos positivas em relação ao apoio obtido nas urnas, como ilustra o infográfico abaixo.

Olhando a relação entre expectativas e votos obtidos nos segundos turnos das eleições (a única exceção aqui é a eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, que foi decidida no primeiro turno), as expectativas iniciais para os governos de Fernando Collor de Mello (PRN), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), eram maiores, acima de 70% na média das pesquisas, sendo que os três últimos foram eleitos duas vezes consecutivas.
Mas nada é garantido. Fernando Collor, contava com 71% de expectativa positiva dos brasileiros entrevistados à época da posse, em 1990, acabou sofrendo impeachment dois anos depois. Dilma Rousseff, que deixou o cargo no segundo mandato também por impeachment, tinha 71% na média das pesquisas no momento da posse.
O diagnóstico mais importante dessa análise é a alteração do paradigma da expectativa positiva dos presidentes. A diferença entre as expectativas e o resultado das urnas sempre favoreceu os presidentes eleitos. É como se houvesse sempre um “estoque” de brasileiros otimistas em relação ao governo eleito vis-à-vis o apoio obtido nas urnas. Um excedente que variou entre 12% e 18%.
No final de 2018, os brasileiros estavam mais pessimistas sobre o próximo governo. A diferença das expectativas encolheu, mas ainda era positiva: 0,62%. Agora, pela primeira vez, o resultado da diferença é negativo:  -1,4%. Ou seja, o governo Lula 3 começa sem qualquer estoque de expectativa positiva junto à população.
Desde Fernando Collor, todos os presidentes viram as expectativas iniciais declinarem nos meses seguintes à posse. A única exceção foi o governo Lula 2, que terminou o mandato com aprovação de governo maior do que quando tomou posse. Isso pode se repetir? Pode, mas será mais difícil agora!
É muito provável que o governo Lula 3 se desenvolva em um ambiente político mais hostil e conflituoso do que nas versões 1.0 e 2.0. Os partidos com orientação de direita sairam mais fortes das eleições para o Congresso, e muitos novos governadores estão associados à oposição. Dois motivos para esperar dias piores. Quanto pior? Só o tempo irá dizer.
Daniel Marcelino – Analista de dados em Brasília, é especialista em métodos quantitativos, modelos de previsão e pesquisas de opinião. Antes do JOTA, foi pesquisador em universidades e órgãos de governos: Universidade de York e Universidade de Montreal (Canadá), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Prefeitura de Curitiba. Email: [email protected]
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