Jamil Chade – Sem anistia, governo Lula assegura "solidez" da … – UOL Confere

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Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.
Colunista do UOL
11/01/2023 12h45
Num recado político e diplomático forte, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva usou a reunião de emergência convocada nesta quarta-feira na OEA (Organização dos Estados Americanos) para assegurar ao mundo que a democracia no país é sólida e que os responsáveis pagarão o preço de suas ações, dentro do rigor da lei.
O encontro para lidar com a crise no Brasil havia sido proposto por Chile e Colômbia, e ganhou o apoio de EUA, Canadá e outros países. O Brasil, porém, não queria que a reunião se transformasse num sinal de que o país vive um período de incertezas sobre sua situação institucional.

Depois de quatro anos isolado dos principais debates internacionais e numa condição de pária por conta da diplomacia de Jair Bolsonaro, o governo Lula esperava inaugurar uma nova fase da política externa. Mas uma eventual classificação do Brasil como um “país problema” minaria a credibilidade dos novos interlocutores e ameaçaria os planos de Brasília de voltar a ser protagonista nos principais temas internacionais.
Na região, o Brasil quer voltar ainda a liderar um processo novo de integração. Mas teria dificuldades de assumir esse papel se fosse considerado como instável.
Ao tomar a palavra nesta tarde, o embaixador do Brasil na OEA, Otavio Brandelli, mandou a mensagem coordenada pelo Itamaraty.
“A democracia brasileira acabou de dar uma demonstração de solidez e eficácia de seus mecanismos de proteção, graças à atuação firme e coesa dos três Poderes”, disse o diplomata, indicando que o Brasil promete lutar contra atos antidemocráticos no continente.
Ainda que o discurso tenha ocorrido em um fórum regional, diplomatas do mais alto escalão no Itamaraty explicaram que essa é a mensagem que Lula quer que os demais líderes escutem. Trata-se da primeira reunião sobre o assunto, no palco global.
“O Brasil tem um compromisso inabalável com a democracia e rechaça qualquer forma de extremismo antidemocrática e violência política”, afirmou.
Sem Anistia
Um outro recado coordenado pelo Itamaraty foi de que não haverá nem anistias e nem impunidade. Segundo Brandelli, os responsáveis serão “identificados e tratados com o rigor da lei, dentro do devido processo legal”.
“O estado dará respostas à altura da gravidade dos atos cometidos. Sob a égide dos preceitos da Constituição de 1988, o Brasil registra o mais longo período de convivência democrática em sua história republicana”, insistiu.
Preocupação regional de que atos se espalhem
Nos últimos dias, governos latino-americanos demonstraram preocupação com os atos no Brasil e uma possível escalada da violência em suas próprias capitais. Para eles, portanto, era importante a sinalização da parte do governo Lula de que punições estão previstas.
Luis Almagro, secretário-geral da OEA, admitiu que o que ocorre no Brasil “talvez não seja mais um evento isolado”. Segundo ele, os ataques “fascistas” em Brasília “fazem parte de um movimento que não está presente apenas no Brasil”. “Não é um fato isolado”, insistiu. Almagro pediu que a Justiça também investigue os responsáveis intelectuais e os financiadores dos atos.
O governo de Colômbia, por exemplo, alertou para a manipulação do público e pede uma nova carta pela democracia. Bogotá destaca que está também preocupada como a ameaça que hoje enfrenta todo o continente latino-americano. “No nosso hemisfério, nem todos os estados tem a mesma capacidade de resposta (que a do Brasil)”, alertou. Para os colombianos, as condutas ameaçam desestabilizar as Américas.
O governo de Honduras, por exemplo, deixou claro que a crise não era só do Brasil. “Não sabemos onde vai ser replicado, na próxima semana ou próximo ano. Está virando em costume ruim”, alertou o representante do país centro-americano. Para ele, um golpe não termina no dia dos atos. “Depois disso, temos assassinatos, ameaças, violência”, disse.
A delegação de Honduras chegou a pedir que os chefes de estado visitem ao Brasil, se necessário, para blindar Lula de um eventual golpe.
Mesmo nos EUA, congressistas americanos alertaram nos bastidores a interlocutores brasileiros que os atos em Brasília poderiam “incentivar” a extrema direita americana.
O governo americano voltou a condenar os ataques e disse que atos são inaceitáveis. A Casa Branca ainda indicou que apoia o Brasil em sua busca para “proteger as instituições e encontrar os responsáveis”.
Além da região, tomaram a palavra as delegações de fora do Hemisfério. O governo da França também condenou os ataques e o “questionamento inaceitável” dos resultados das eleições, enquanto a Espanha criticou setores que se recusam a aceitar a derrota nas urnas e o “uso da mentira”. Madri chegou a alertar que essa é uma “ameaça global”.
Os representantes da Itália, apesar de ser liderada por um governo de extrema direita, também pediram a palavra para condenar os ataques e dizer que confiam nas instituições brasileiras. Já Portugal apoiou as medidas para restaurar a ordem, enquanto o Reino Unido disse que o mundo “não irá tolerar” as ameaças à democracia.
Brandelli destacou como a reação internacional foi importante no Brasil nos últimos meses. Segundo ele, a reação internacional diante dos ataques ainda mostrou “a importância do Brasil para a defesa da democracia no mundo”.
O diplomata ainda destacou que eleição foi ampla, livre e democrática. Também ressaltou que a posse de Lula foi uma celebração da democracia, com mais de 60 delegações internacionais. Isso, segundo ele, foi o “reconhecimento da “robustez das instituições democráticas do Brasil”.
“Agora, houve condenação unânime”, completou, sobre os atos de 8 janeiro.
O encontro contou com uma uníssona condenação por parte de todos os países da região. Embaixadores se alternaram ao longo da manhã (em Washington) para denunciar os atos, repudiando o vandalismo, a destruição da cultura e as ameaças contra a democracia.
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