Herdeiro de construtora com contratos sob Bolsonaro esteve em ato golpista – UOL Confere

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Diego Junqueira e Gisele Lobato
13/01/2023 04h00
“Bora subir, gente, bora subir. Sou covarde não, vamos lá!”. Com palavras de ordem, o engenheiro Albert Alisson Gomes Mascarenhas avançou pelo gramado em frente ao Congresso Nacional, na tarde do último domingo (8), convocando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a invasão à sede do Legislativo brasileiro em Brasília (DF).
A ação — promovida por grupos contrários à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — foi filmada e transmitida ao vivo pelo empresário, que é herdeiro de um conglomerado de empresas que abocanhou contratos milionários na gestão Bolsonaro, sendo um dos grupos mais beneficiados durante o governo de extrema direita.

As imagens de Mascarenhas obtidas pela Repórter Brasil revelam parte da ação que atacou os símbolos da democracia brasileira no domingo, após uma multidão de bolsonaristas radicais invadir e destruir as sedes dos Poderes da República na capital federal.
“Bora subir, os homens sobem!”, vangloria-se o empresário, enquanto se aproxima do prédio do Congresso. Mascarenhas se mostra surpreso com a reação das forças de segurança, que tentam impedir a ação terrorista por meio de bombas de efeito moral lançadas de helicópteros.
É muita covardia, cara. Por que eles não fazem isso contra a esquerda?”
Albert Alisson Gomes Mascarenhas, em vídeo gravado nos atoso golpistas
Albert é filho de Ainesten Espírito Santo Mascarenhas, um dos donos da Meirelles Mascarenhas, de Redenção (PA), que ganhou notoriedade nacional em 2020, quando chegou a ocupar o posto de construtora campeã de contratos com o governo federal.
Nos quatro anos da gestão Bolsonaro, a empresa fechou ao menos R$ 793 milhões em contratos com a União (55% a mais do que nos quatro anos anteriores), de acordo com levantamento da Repórter Brasil com base no Portal da Transparência.
A construtora tem forte presença nos estados da Amazônia Legal. Em 2020, a Meirelles Mascarenhas arrebatou projetos para a recuperação de trechos da rodovia Transamazônica e da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho — obras de grande impacto ambiental e localizadas no arco do desmatamento na Amazônia.
No ano passado, a companhia assinou três contratos com a Superintendência Regional do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) no Amapá para a manutenção e recuperação de estradas federais, totalizando R$ 314 milhões.
Além de construção de rodovias, as empresas da família atuam também no ramo de aluguel e venda de imóveis, supermercados, postos de combustíveis, aluguel de carros, entre outros.
Apesar de herdeiro, Albert não é sócio de seu pai em nenhuma empresa, mas no Instagram informa trabalhar em uma delas: o Posto Cristal, localizado em uma rodovia estadual em Redenção. Fundado em 2017, o estabelecimento começou a abastecer veículos de órgãos da União em junho de 2019, segundo o Portal da Transparência.
A Repórter Brasil tentou falar com Albert e Ainesten Mascarenhas por meio de redes sociais e dos telefones divulgados pelas empresas citadas, mas não obteve resposta. Após receber mensagem da reportagem por sua conta no Instagram, Albert apagou o perfil.
Algumas empresas da família de Albert estão na mira das autoridades. No ano passado, a construtora Meirelles Mascarenhas e seus sócios foram alvo da Operação Candidus, que investiga fraudes ambientais identificadas pelo Ibama “visando à suposta movimentação de créditos florestais para esquentamento de madeiras de origem ilegal” nas obras da BR-156 — que corta o Amapá de sul a norte, até a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.
Como desdobramento da investigação, foi deflagrada a Operação Candidus 2, após suspeita da CGU de superfaturamento de mais de R$ 6 milhões no processo de contratação da empresa, sem licitação, para a execução de serviços emergenciais de manutenção da rodovia federal. A pedido do MPF (Ministério Público Federal) e da Polícia Federal, em novembro, a 4ª Vara Federal Criminal no Amapá autorizou uma operação de busca e apreensão em mais de 20 endereços, dentre eles os da construtora e de Ainesten Mascarenhas.
Mesmo com as suspeitas, a companhia ganhou novo contrato para a manutenção dos 822 km da mesma rodovia em novembro de 2022, ao custo de R$ 139 milhões e com validade até fevereiro de 2026.
O histórico de polêmicas das empresas da família, porém, não se limita ao governo Bolsonaro. Entre 2005 e 2018, a Tescon Engenharia e a Meirelles Mascarenhas receberam juntas quase R$ 1 milhão em multas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) por infrações ambientais.
Em 2015, as duas empresas foram alvo de ação civil pública apresentada pelo Ministério Público Federal no Amazonas por causa de irregularidades nas obras no chamado “trecho do meio” da BR-319.
As companhias foram contratadas em 2014 pelo Dnit para recuperar 400 quilômetros da estrada no Amazonas. O trecho aguardava licenciamento ambiental do Ibama para ser pavimentado, mas o departamento que cuida das estradas driblou essa exigência, obtendo autorização com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).
Fiscalização do Ibama identificou no ano de 2015 uma série de problemas ambientais na execução do serviço, como desmatamento e soterramento de igarapés, além de violações trabalhistas, como a ausência de água, banheiros e alojamento adequados. O órgão ambiental aplicou multa e embargou a obra, e o MPF apresentou a ação para sua suspensão, pedido que foi acatado pela Justiça Federal no Amazonas à época.
Retomado pelo governo Bolsonaro, o projeto de reconstrução da BR-319 ameaça 69 terras indígenas e, segundo pesquisadores, pode fazer explodir o desmatamento na região. Todos os governos, desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso (1994-2001), apresentaram projetos para reformar a estrada, construída durante a ditadura militar. Em todos os casos, porém, o plano esbarrou no impacto ambiental da obra.
A reportagem também tentou ouvir a construtora sobre as denúncias, mas não teve resposta.

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