Militares: movimento de oposição a Lula sem Bolsonaro ganha força – Gazeta do Povo

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Os militares estão divididos sobre como construir um movimento de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na ativa e na reserva, há quem apoie e ainda esteja disposto a fazer campanha para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltar ao poder. Outros defendem e já atuam para viabilizar uma candidatura que represente a direita conservadora e liberal independente de Bolsonaro.
Há até militares que criticam e tem subido o tom em relação ao Alto Comando das Forças Armadas, seus respectivos comandantes e se dizem desestimulados em relação ao cenário político. Outros pregam o respeito ao resultado eleitoral.
Apesar das críticas a Lula e aos escândalos associados a ele, existe por parte desse grupo de militares que observa o cenário atual o reconhecimento ao cargo ocupado pelo petista. Parte desses militares ainda não atua ativamente pela construção de uma oposição, mas acenam com a hipótese de se engajar em um debate político.
Por essa razão, a parcela dos militares que ensaia um movimento opositor desatrelado a Bolsonaro se sente otimista. O grupo que atua para construir uma oposição sem o ex-presidente conta com o engajamento de alguns nomes que, em 2022, apoiaram a pré-candidatura do senador eleito Sérgio Moro (União Brasil-PR). No ano passado, esses militares eram minoria.
Com o poder da máquina estatal nas mãos, Bolsonaro detinha uma maioria de apoio entre os integrantes da ativa e reserva. Agora, militares dispostos a construir uma nova via da direita conservadora acreditam estar em maior número e ter maiores e melhores chances de estruturar uma candidatura politicamente competitiva até 2026.
O general reformado Paulo Chagas é um dos atua nessa construção. No sábado (7), ele conversou com um procurador aposentado do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) para debater “estratégias como cidadãos” sobre a construção dessa oposição a Lula sem Bolsonaro.
“Foi uma reunião para traçar as estratégias e de que maneiras nós podemos cooperar para fazer oposição às propostas da esquerda que assumiu o poder graças à incompetência do Bolsonaro”, afirma Chagas à Gazeta do Povo. “Nós vamos agir em oposição às propostas centralizadoras desse governo, mas sem pensar, ainda, em um candidato”, acrescentou. Em 2018, ele foi candidato ao governo do Distrito Federal e apoiou Bolsonaro.
Chagas avalia que os atos de vandalismo no domingo (8), em Brasília, reforçam a necessidade de desvincular o pensamento da direita a Bolsonaro. “Até mesmo porque o liberalismo não comporta esse tipo de liderança e culto à personalidade. Essa associação da direita ao pensamento bolsonarista prejudicou e muito. Ainda ontem conversei com amigos e disse que nós regredimos mais de 30 anos na construção do pensamento liberal no Brasil, pois toda vez que fala de direita associa ao bolsonarismo”, avalia.
Chagas reconhece a divisão entre os militares, mas acha prematuro prever que isso possa comprometer a construção de uma oposição a Lula sem o ex-presidente. Para ele, um consenso é possível de ser trabalhado. “O Exército se divide apenas em opiniões”, comenta. “Bolsonaro conseguiu dividir interna e externamente as Forças Armadas como a esquerda tenta há 30 anos, e eu fico triste com a quantidade de militares da ativa e da reserva que vejo fazendo críticas ao Alto Comando e aos comandantes, mas é prematuro”, reforça.
A parcela de militares que apoia a viabilização de uma oposição de direita sem Bolsonaro defende sua atuação sob o argumento de que ele não tem mais a capacidade de liderar e governar o país. Para esse grupo, o ex-presidente nunca foi um legítimo representante da direita conservadora e liberal. “Temos que desmistificar e entender a verdade sobre Bolsonaro, que surfou na onda direitista que acabou se transformando em uma onda ‘bolsonarista’, que é populista e personalista”, diz o general Paulo Chagas.
O militar entende que o ex-presidente não é conservador, nem liberal, mas um “populista que faz oposição a Lula com o discurso liberal”. Por esse motivo, Chagas reforça que, antes de discutir a viabilização de um nome específico para a corrida presidencial em 2026, é preciso desassociar a direita do ex-presidente. “Temos que tirar da direita o estigma bolsonarista”, afirma.
Chagas entende que é possível viabilizar uma candidatura que saiba governar sem ceder a todas as vontades políticas do Centrão, outro motivo de sua crítica a Bolsonaro. “Digo com convicção que um candidato pode e deve fazer um bom governo como presidente e poderá ser reeleito sem abrir mão das suas convicções e das suas propostas, e fazer mais quatro anos e consolidar tudo que você propôs”, avalia.
O general da reserva Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo na gestão Bolsonaro, concorda que uma das principais tarefas é esclarecer a população. “É preciso se livrar de Bolsonaro e do bolsonarismo. O ex-presidente não tem condições de ser líder da direita. Ele não é de direita. É um extremista populista que só prejudicou e acarretou desgastes à direita. É um dos destruidores da direita e transferiu sua responsabilidade política para os militares”, declarou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
A despeito do histórico de presidentes populistas brasileiros, sejam de direita ou de esquerda, alguns militares acreditam na possibilidade de construção de uma candidatura que fuja desse modelo. “Existe uma parcela da sociedade significativa e majoritariamente de classe média que está cansada e aguardando ansiosamente a vinda de um líder que não seja populista”, avalia reservadamente um oficial militar.
Para militares, essa parcela da sociedade quer alguém que seja duro em determinados momentos e flexível quando é possível, e que saiba se comunicar sociedade, tenha planos para o futuro e que seja um estadista, não preocupado só com a próxima eleição. “A sociedade está ansiosa para encontrar essa pessoa, mas muito desconfiada”, comenta outro oficial.
O general reformado Maynard Santa Rosa entende que exista um vácuo de liderança na direita, mas não arrisca nomes. “A direita está em busca de um messias que pode surgir, claro, não há espaço vazio no Poder. Agora, quem e quando surgirá eu não tenho a resposta”, avalia. Ele foi titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) no início da gestão Bolsonaro.
Para Santa Rosa, o fim do mandato de Bolsonaro foi decepcionante e isso reduz as chances do ex-presidente aglutinar e liderar a direita. “Tenho a impressão que ele teria que começar tudo de novo e aí ele vai ter que se defrontar com as novas lideranças que vão surgir no vácuo. Vai ser muito difícil para ele retornar e talvez ele não vai passar do nível de deputado federal do Rio de Janeiro”, pondera.
Embora os militares evitam discutir nomes a serem apoiados nas eleições de 2026, alguns candidatos em potencial são citados. O general Paulo Chagas cita como exemplo os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O economista Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro, é outro citado.
“Pensando hoje quais seriam bons candidatos, acho que o mais provável é o Zema, porque ele está no segundo mandato, é empresário, e poderia voltar para a iniciativa privada ou continuar se entregando e se empenhando em conhecimento e cultura pelo Brasil. O Tarcísio está no primeiro mandato, confio e acho que ele fará uma diferença brutal em São Paulo, mas é um cara jovem. Pode ser o nosso candidato mais tarde, não necessariamente agora [2026]”, diz.
Embora classificado como “brilhantíssimo”, Sachsida também teria menos chances no entendimento de Chagas. “Nos próximos quatro anos, eu pretendo trabalhar junto com o Adolfo. Somos amigos e estaremos juntos pensando o Brasil nesse período e, pela experiência que ele tem, certamente será muito útil à proposta liberal que ele conhece bem e pela qual ele se empenhou até”, destaca.
Chagas entende que os militares podem contribuir inclusive para a construção da proposta de governo do candidato que venha a ser viabilizado em 2026, como ocorreu na campanha de Bolsonaro em 2018, quando o general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o auxiliou na missão. “Os militares têm competência para montar uma proposta de direita, e logicamente não apenas eles”, avalia.
Além de Zema e Tarcísio, um oficial do Exército cita como opções o senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e o almirante de esquadra da reserva Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha que se recusou a comparecer à cerimônia de transmissão do cargo ao atual comandante, o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen.
“Não sei se o Mourão tem gás eleitoral de liderança legislativa para capitanear um grupo e um movimento de oposição, principalmente após o pronunciamento ao fim do ano. O próprio Garnier se posiciona como tal, com essa atitude e razão de ser dele, que foi tipicamente eleitoreira. Talvez esteja mirando uma candidatura ao Senado em 2026″, pondera a fonte.
Um segundo militar elogia Garnier, mas avalia que ele pode ser um nome melhor para vice-presidente. Para essa fonte, o ex-comandante da Marinha poderia ser o elo que aglutina os votos conservadores em uma chapa com o senador eleito Sérgio Moro (União Brasil-PR) como candidato à Presidência. “Uma candidatura Moro e Garnier seria imbatível”, analisa.
A parcela de militares que ainda apoia Bolsonaro ou que entende que ele é a principal liderança política na direita entende ser equivocado tentar descartá-lo do processo de organização do espectro político para os próximos anos. Para um militar, qualquer candidatura passa necessariamente por um “egresso do bolsonarismo”.
“Tem que ser alguém que esteve no governo [Bolsonaro] e que não se aproxime tanto do PT, mantenha uma distância asséptica ao governo Lula. Esse é o problema do Tarcísio, pois tem que governar São Paulo e pode precisar buscar diálogo e fazer gestos para atender aos seus eleitores”, avalia reservadamente um oficial.
O militar comenta que Bolsonaro ainda tem muito respeito das bases aos oficiais militares das Forças Armadas, o que sugere um desafio para a construção de uma direita desatrelada ao ex-presidente. A própria viabilização política do almirante Almir Garnier, por exemplo, poderia depender do apoio do ex-presidente da República no processo de organização da direita.
“O apoio de Bolsonaro traria os votos dos bolsonaristas. A direita menos radical e os votos de centro poderiam vir por outro candidato, como Moro. Ninguém engole o que fizeram com a Lava Jato. O Garnier é um militar que tem a ascendência intelectual, que saiu aclamado pelos bolsonaristas, então, ajudaria a ancorar uma chapa entre os dois, que não poderia simplesmente negar o Bolsonaro e o bolsonarismo”, analisa a fonte.
Outro militar avalia, porém, que o cenário é de muita incerteza e não descarta um efervescente movimento militar de contestação a Lula que possa manter Bolsonaro “vivo” politicamente. “Falta uma liderança de consenso e há uma vontade mais visível nos veteranos, oficiais e praças que vai além da oposição, beira a contestação. A chapa está esquentando muito rapidamente, o governo está se achando livre e seguro para fazer o que deseja”, alerta.
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