Lula e a questão militar – Brasil 247

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Articulista
‘Lula é a última trincheira democrático-popular de resistência e defesa da democracia contra a escalada fascista-militar’, diz o colunista Jeferson Miola edit

Os atentados terroristas de 8 de janeiro afetaram irremediavelmente a confiança do presidente Lula nas Forças Armadas. E sedimentaram nele a convicção sobre o protagonismo central das cúpulas militares na guerra fascista de destruição da democracia e da República.
O marco significativo desta inflexão foi a decisão de decretar intervenção na segurança do DF ao invés de convocar os militares para a operação de Garantia da Lei e da Ordem [GLO] proposta a Lula pelo ministro da Defesa José Múcio Monteiro.
A decisão pegou de surpresa o Alto Comando do Exército. Mesmo sem requisição prévia do presidente da República, o Exército já tinha colocado de prontidão uma impressionante tropa de 2.500 soldados para intervir no caos e na desordem que eles próprios arquitetaram. A presteza para “governarem” o país via GLO contrasta com a lentidão na desmontagem dos acampamentos ilegais e antidemocráticos nas áreas dos quartéis.
Lula não deixou dúvidas sobre a opção pela intervenção civil: “Se eu tivesse feito a GLO […], aí sim estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. As Forças Armadas não são poder moderador como pensam que são”.
Há uma convergência inédita no debate público brasileiro sobre a centralidade da questão militar para a sobrevivência da democracia.
Os militares ficaram nus! Até mesmo quem nos últimos anos classificava as denúncias e alertas sobre os militares como paranóia ou teoria da conspiração acabou se rendendo às evidências da realidade.
Existem indícios e provas em abundância sobre a inteligência estratégica das Forças Armadas com recursos de guerra híbrida por trás da eleição do Bolsonaro em 2018 e da profusão do ambiente de caos, violência, ódio e terror instalado no país.
O 8 de janeiro foi o mais terrorista e mais violento capítulo desta dinâmica desestabilizadora permanente e metodicamente orquestrada pelas cúpulas fardadas.
Lula deixou claro que sabe exatamente o que é preciso fazer na questão militar, mas ainda não está claro com qual amplitude e em que momento.
A seu favor, Lula conta com a comoção causada pelos atentados do 8 de janeiro e a potente coesão institucional formada entre os poderes da República.
O encontro com governadores, presidentes da Câmara, Senado, STF e altas autoridades de Estado cimentou o compromisso do poder civil com a defesa da democracia e com a preservação do Estado de Direito.
A imagem das lideranças políticas e autoridades civis descendo a rampa do Planalto simboliza a unidade ampla na resistência antifascista e na coesão institucional que Lula magistralmente conseguiu sedimentar.
A solidariedade internacional, manifestada em tempo real por líderes de vários países do mundo e, inclusive, em telefonema do presidente Joe Biden ao presidente Lula, deixou a extrema-direita fascista isolada e desmoralizada internamente e no mundo.
A democracia sobreviveu mais uma vez, e diante do mais terrível ataque à República e à institucionalidade democrática. No entanto, os riscos contra a democracia continuarão muito vívidos enquanto a questão militar não for enfrentada eficazmente pelo poder civil.
É fundamental que sejam postas em prática medidas urgentes, como as substituições do ministro da Defesa e do comandante do Exército, a transferência de militares conspiradores e antiprofissionais para a reserva e a apuração dos militares implicados nos atos criminosos e antidemocráticos.
Lula é a última trincheira democrático-popular de resistência e defesa da democracia contra a escalada fascista-militar. Se os militares não forem contidos, não hesitarão em renovar o arsenal de armas ainda mais truculentas para derrubar esta poderosa trincheira que atravanca o caminho deles e do projeto de poder que acalentam.
Neste momento Lula possui enorme capital político e conta com solidariedade institucional e respaldo popular para processar na plenitude as mudanças necessárias não só para garantir a governabilidade do seu governo, mas para assegurar a sobrevivência da democracia e do poder civil.
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