Futebol brasileiro pode gerar quase 40 mil jovens sem escola – Hoje em Dia

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Muitos adolescentes buscam no futebol uma oportunidade de mudança de vida, sonhando em dar uma condição mais digna à sua família. O futebol brasileiro, realmente, é um dos que mais revelam talentos no mundo, mas, em contrapartida, é uma verdadeira fábrica de adolescentes sem escolarização. Um estudo recente feito pela Universidade do Futebol, em parceria com o Indústria de Base, revelou números alarmantes.
A começar pelos postos de trabalho, o estudo considerou somente os clubes da série A, B e C, que são aqueles com condições de oferecer contratos de, ao menos, um ano aos seus jogadores. Em uma multiplicação simples (60 equipes x 25 atletas por cada), podemos chegar ao total de 1.500 vagas de emprego. 
E as inúmeras transferências ao exterior? Vamos lá! Segundo um relatório do CIES (Centro Internacional de Estudos no Esporte), nosso mercado é atraente o suficiente para convencer cerca de 1.200 jogadores a deixarem o país. Ótimo, pois ao somar com as oportunidades internas, chegamos a 2.700 no total. Parece muito, não é? Neste grupo, encontram-se as grandes estrelas do futebol brasileiro, como Dudu, Hulk, Neymar, Éverton Ribeiro, entre outros tantos. Mas, um alerta: devemos lembrar que nesse bolo também temos estrangeiros ocupando vagas (Arrascaeta, Zaracho, Gustavo Gómez, etc).
Seguindo adiante, você deve estar se perguntando quantos atletas profissionais de futebol temos no país. Pasmem, amigas e amigos, pois segundo reportagem recente da Folha (2018), o total atingiria 13 mil atletas registrados, sendo que 8 mil apenas no estado de São Paulo. Os números da CBF, entidade máxima do nosso futebol, são conflitantes e ainda mais alarmantes, apontando para 22.177 contratos profissionais registrados. A Federação Nacional dos Atletas Profissionais aponta, por sua vez, 18 mil atletas, sendo que o número de desempregados chega a 15 mil em boa parte do ano.
Entendido o grande vestibular que é para ser jogador de futebol, vamos a realidade das categorias de formação, em que são poucos os clubes com estruturas de qualidade, com acomodação, alimentação e staff técnico completo. Nos registros da CBF, existem 38 mil atletas com vínculos não profissionais, compostos por jogadores de base. Aqueles que já completaram 16 anos, idade permitida a assinatura de um contrato profissional, não estão incluídos. Para melhor averiguar estes números, o estudo identificou 448 clubes com atividades de base no ano de 2018, considerando apenas as categorias acima de 14 anos (idade permitida para alojamento dos atletas). De acordo com profissionais do futebol, o total de jogadores que as equipes podem ter (considerando 18 a 40 por categoria), pode variar de 90 a 300, pela disparidade econômica entre os clubes. O respectivo estudo, portanto, decidiu considerar em 90 jogadores por clube, sendo o menor número encontrado. Ao multiplicarmos pelos clubes com categorias de base (448), chegamos a um total de 40.320 atletas que, por sua vez, vão disputar 2.700 postos de trabalho, como já foi elencado. 
Anualmente, a CBF emite um Certificado de Clube Formador, para clubes que preencham requisitos. Através deste CCF, os clubes passam a ter alguns benefícios futuros. Entre os requisitos, destaco um: garantir a frequência escolar dos jovens jogadores. A considerar que 406 clubes (do total de 448) não possuem o CCF, não é possível garantir que mais de 35 mil jovens tiveram (possuem) acesso à escola. 
Em conclusão, é fácil perceber o tamanho do descaso do futebol brasileiro com a escolarização de milhares de jovens, acobertados por uma vista grossa dos governos. Este estudo foi publicado em 2019, e de lá para cá, quase não tivemos ações para mudar a realidade. Esperamos que a recriação do Ministério do Esporte possa ser um alento para começar a pensar na solução deste grave problema.

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